Opinião: alteração brusca das regras do jogo pelos americanos é muito perigosa

© REUTERS / Jim Lo Scalzo/PoolPresidente dos EUA Donald Trump reage após proferir o seu primeiro discurso em uma sessão conjunta na Câmara dos Representantes em Washington, EUA, 28 de fevereiro de 2017
Presidente dos EUA Donald Trump reage após proferir o seu primeiro discurso em uma sessão conjunta na Câmara dos Representantes em Washington, EUA, 28 de fevereiro de 2017 - Sputnik Brasil
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Como informa a mídia japonesa, os EUA avisaram o Japão que vão atacar a Coreia do Norte se a China não obrigar Pyongyang a parar o programa de mísseis nucleares.

Qual é a probabilidade de um cenário de uso pelos EUA da força militar contra Pyongyang? Quais serão as consequências da escalada do conflito para a situação na região e no mundo em geral? O especialista militar russo Vasily Kashin respondeu a essas perguntas em comentário à Sputnik China.

Atualmente, em duas diferentes partes do mundo estão se desenvolvendo de forma sincronizada duas crises político-militares extremamente perigosas, nomeadamente, em torno da Síria e da República de Coreia do Norte. A situação atual não tem precedentes por causa da mudança completa do modelo de funcionamento da administração dos EUA e da reação dela às situações de crise. Nos últimos dias, Washington violou todas as regras não escritas, que se formaram durante os quase 55 anos que passaram desde a Crise dos Mísseis de Cuba.

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Mesmo que as situações da Síria e da Coreia sejam estabilizadas através de meios políticos, as consequências do que aconteceu para a política global e estabilidade estratégica serão extremamente negativas.

No caso da Síria e no caso da Coreia, a administração de Trump demonstrou uma mudança total de rumo em poucas semanas. A respeito da Síria, ela entrou em contradição com as numerosas declarações do presidente Trump sobre a prioridade da luta contra o Daesh e a renúncia à mudança do regime na Síria.

No caso da Coreia do Norte, a administração ainda em março declarou a renúncia à doutrina antiga de “paciência estratégica” em relação a este país, e já no início de abril começou a pressão de força mesmo sem elaborar e discutir uma nova estratégia.

Numa época nuclear é extremamente importante que todos os países envolvidos em crise sinalizem suas intenções e objetivos.

Nos momentos difíceis da Guerra Fria, na elaboração das declarações importantes da parte dos EUA, bem como de outros países, participavam os principais especialistas políticos e diplomatas e militares experientes. Entretanto, grande atenção era prestada a uma linha política clara e não contraditória.

Agora, na questão da Síria nós vemos contradições evidentes entre os diferentes altos funcionários da administração.

Na questão de Coreia nós vemos declarações de Trump sobre a disposição de “resolver de forma autônoma” a questão do programa nuclear de Coreia e o aparecimento na mídia de informações, que se contradizem entre si, citando fontes próximas da administração americana.

Em uns casos há o discurso sobre um ataque imediato contra a Coreia se a China não bloquear economicamente este país, em outros – sobre a prioridade das tentativas para uma solução política.

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Além disso, no âmbito da campanha louca da luta contra a “influência russa” que está acontecendo nos EUA, o embaixador da Rússia nos Estados Unidos Sergei Kislyak foi proclamado quase como um “superespião”, um encontro com ele significa o final da carreira para qualquer político americano. Os canais de confiança de comunicação direta para discutir as questões graves eram cuidadosamente mantidos nos momentos mais difíceis da Guerra Fria, mas agora eles são destruídos.

O avanço do porta-aviões USS Carl Vinson e seus navios de escolta para a beira da Coreia pode ser uma resposta à ausência de acordos positivos para os EUA a respeito da Coreia do Norte durante as negociações de Trump e Xi Jinping. Numa situação normal, este movimento seria visto como uma simples demonstração de força típica americana. Mas agora podemos falar sobre o extremo perigo de um conflito militar na península coreana, que vai afetar todos os países do Nordeste da Ásia, incluindo aliados dos EUA.

Mas tendo em conta o ataque repentino contra a Síria e a caótica retórica belicosa de Washington, as leis e regras antigas não se aplicam mais. Entretanto, a administração Trump, que ainda não terminou a sua formação, não tendo uma estratégia clara e não tendo estabelecido uma interação entre os diferentes departamentos dentro de si própria, parece estar tentando alcançar resultados rápidos e decisivos com passos ameaçadores mal planejados.

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No momento, é difícil prever como esta situação se vai desenvolver. Trump e seu círculo admiram Reagan e supostamente tentam repetir seu sucesso. No entanto, Reagan realizava uma estratégia aventureira, mas bastante coerente, que era executada por uma equipe capaz. As aventuras de hoje não só são perigosas, elas são caóticas e, possivelmente, causadas por uma situação catastrófica para Trump em política interna.

O novo tipo de política norte-americana e a ameaça de repetição de tais novas ações imprevisíveis e perigosas terão consequências graves. Outros grandes jogadores internacionais, incluindo a Rússia, China e vários outros países, terão que mudar radicalmente seu planejamento militar, o que vai tornar o nosso mundo mais perigoso

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