Ministério da Defesa russo rejeitará aviões civis Tupolev após a tragédia em Sochi?

© Sputnik / Aleksandr Kondratyuk / Acessar o banco de imagensOs treinamentos dos militares russos na região de Chelyabinsk, a bordo do avião Tu-134
Os treinamentos dos militares russos na região de Chelyabinsk, a bordo do avião Tu-134 - Sputnik Brasil
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O Ministério da Defesa russo está elaborando um plano para desistir dos aviões civis Tu-134, Tu-154 e Il-62M que hoje estão ao dispor da entidade, disse o jornal Kommersant na sexta-feira (20). Tal decisão foi tomada após o trágico acidente com o Tu-154, em Sochi, que tirou a vida a 92 pessoas, frisa a edição.

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Há suposições que as aeronaves antigas possam ser substituídas por Tu-124 e Sukhoi Superjet 100, embora esta informação não tenha sido confirmada pelo Ministério da Defesa. Porém, segundo comunicou à Sputnik a assessoria de imprensa do Ministério da Indústria e Comércio russo, a Corporação Unida de Construção Aeronáutica "pode fabricar e fornecer aviões Tu-214, Tu-204CM, SSJ-100 e Il-96-300 ao Ministério da Defesa russo".

'Ranking' das eventuais alternativas

Estes modelos são mais modernos do que os que estão em utilização hoje em dia, e não apenas por terem equipamento mais moderno e melhor conforto, diz o piloto emérito russo e ex-diretor de voo das Linhas Aéreas Vnukov, Yury Sytnik.

Assim, um Tu-134 pode acomodar 70 passageiros e consome 3 toneladas de combustível por hora, enquanto um SSJ100 pode transportar 100 pessoas e consumir 2 toneladas de combustível no mesmo prazo.

"Um Il-62, por exemplo, necessita de 8 toneladas de combustível para uma hora e pode transportar 160 pessoas, enquanto um Tu-214 facilmente acomoda 210 passageiros e gasta apenas 3 toneladas, por isso pode voar umas 10 horas", frisa o perito.

Entretanto, segundo assinalou o Ministério da Indústria e Comércio russo, ainda não foi recebida nenhuma documentação do Ministério da Defesa. A Corporação Unida de Construção Aeronáutica, por sua vez, recusou comentar a situação.

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Hoje em dia, o Ministério da Defesa possui 36 aviões Tu-134, 21 aviões Tu-154 e 9 aeronaves Il-62. Deste modo, se a entidade decidir modernizar seu parque de aeronaves civis, 66 aviões serão abatidos. Enquanto isso, a renovação da frota deve ser efetuada usando o dinheiro já destinado ao ministério pelo orçamento de Estado sem financiamentos adicionais.

Cedo demais para dizer adeus

A ideia de renovar radicalmente a frota de aviões do Ministério da Defesa russo é precipitada e pouco realizável, dizem unanimemente os peritos. Segundo disse Yury Sytnik, todos os aviões que a entidade planeja descartar bem poderiam funcionar por mais uns anos.

"Até as aeronaves cujo prazo de exploração está chegando ao fim, ainda não gastaram o ciclo de vida delas, ou seja, não voaram as 40 mil horas planejadas para um avião como este, mas, digamos, umas 25 mil horas, sendo que estão em serviço já por quase 30 anos", realça o perito.

Deste modo, diz o especialista, se pode prolongar o prazo de exploração por mais 5-10 anos com o fim de completar as horas em falta. Para excluir o risco de falhas técnicas, tal decisão deve ser tomada pelo gabinete de projetos chefiado pelo diretor técnico. "No estrangeiro tal prática é comum, mas no nosso país ainda não foi adotada", realça Sytnik.

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A opinião dele é apoiada pelo analista do portal Avia.ru, Roman Gusarov, que acredita que o parque de aviões do ministério não pode ser considerado ultrapassado. O especialista frisa que "o Tu-154 que caiu em Sochi, não obstante sua idade venerável, voou apenas 7 mil horas — o que corresponde a uns 2-3 anos de exploração segundo os padrões da aviação civil".

Além disso, o Ministério da Defesa russo tem à sua disposição os Tu-152M completamente novos que, segundo Gusarov, ele recebeu "há pouco tempo e diretamente da fábrica", por isso não há razões para descartar tais aeronaves hoje em dia.

Decisão complicada, mas com boas perspectivas

Mas o maior problema com esse plano não é tanto ele ter aparecido em um momento inoportuno, mas seu irrealismo, afirma Roman Gusarov. "Esta informação, na verdade, parece ser uma falsificação, o Ministério da Defesa não pode dar tal passo", frisa o perito.

Segundo ele, a entidade não pode considerar de modo sério a ideia de mudar dos aviões Tupolev para o SSJ100, já que o último é quase em 100% composto apenas por peças importadas. Tanto se trata do motor, que é "metade importado", como do "recheio" da aeronave.

"Um avião que pode ficar sem sobressalentes em um piscar de olhos, não pode ser fornecido ao Ministério da Defesa, especialmente agora, sob sanções", explicou.

A única alternativa viável são as aeronaves Tu-214. "É uma máquina muito boa, perfeitamente construída, que simplesmente nasceu cedo demais, quando se dava prioridade aos aviões Boeing e Airbus", frisa Yury Sytnik que foi o primeiro piloto a comandar um Tu-214 após os testes oficiais.

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Além disso, assinalou Sytnik, o novo Tupolev está adaptado às baixas temperaturas típicas para o clima russo e pode ser posto em funcionamento com 55 graus negativos, enquanto os Boeing e Airbus não aguentam esse frio.

Entretanto, para substituir 66 aviões pelos novos Tu-214, serão necessários uns 20 anos, frisa Roman Gusarov.

Com uma "passagem suave" para os novos aviões, o Ministério da Defesa não só garantirá um parque de aeronaves novas, mas permitirá também que as fábricas continuem funcionando e se mantenham os postos de trabalho. Segundo disse Gusarov, tal encomenda ministerial garantiria 20 anos de funcionamento para a fábrica de construção dos aviões Tu-214.

A demanda por estas aeronaves, que são produzidas na cidade russa de Kazan, não é grande e as fábricas estão quase paradas, embora suas capacidades sejam "enormes", diz o perito.

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