Selecionamos três animações, duas dirigidas pelo animador russo Ivan Maksimov, e uma realizada pelo aclamado Fyodor Khitruk, ainda na União Soviética. Convidamos o diretor de arte Eloar Guazelli e a animadora Marcita para conversar conosco sobre esses trabalhos.
'Vento na Beira do Rio'
A primeira animação, dirigida por Maksimov em 2003, retrata o que acontece com a rotina de uma garota quanto um vento atipicamente forte começa a soprar na vila aonde ela mora.
"Um vento maluco começa a levar tudo embora, enquanto as pessoas vão tentando manter a sua rotina. Todas as barreiras são quebradas", relatou Marcita à Sputnik Brasil.
"O trabalho do [diretor] Maksimov é muito criativo. Ele é um cara muito inteligente: estudou fotografia, física e depois áudio visual", disse. "Os personagens são animais surreais, e é isso o que me atrai na animação: tudo é possível."
Para o diretor de arte Eloar Guazelli os "animais absurdos são espelho das nossas próprias ações cotidianas, também absurdas", interpretou. "Esse é um cartoon filosófico, muito original, fora dos cânones aos quais estamos acostumados."
Para ele, muitos filmes ocidentais são capazes de "nos engajar, fazer rir e chorar. Mas, infelizmente, assim que saímos do cinema, nos esquecemos de tudo. Não levamos a animação conosco", em um processo que ele chama de "experiência montanha-russa".
"Mas as grandes animações, como as de Maksimov, tem uma característica mais densa: no dia seguinte, acordamos pensando nelas. A experiência permanece", avaliou Guazelli.
'5/4'
O diretor Ivan Maksimov começou sua carreira ainda na década de 90, quando se utilizava da animação para relatar a experiência que tinha com suas músicas favoritas. A animação "5/4" é uma interpretação do famoso jazz "Take Five", de Paul Desmond e David Brubeck.
"Essa animação é muito gostosa de assistir. É um 'jardim de delícias do caos'", brincou Marcita. "Ela nos lembra de como o som é importante para as sensações que a animação passa."
"'5/4' é um filme tecnicamente bem resolvido. Maksimov faz uma animação mais palatável, com uma linha bonita e cenário gráfico harmônico", explicou Guazelli.
O diretor de arte disse que a animação lembra o gênero latino-americano chamado realismo fantástico, "mas tem um termo ainda melhor, também cunhado pelo escritor Alejo Carpentier, que é 'real maravilhoso'. O filme de Maksimov poderia ser classificado como real maravilhoso russo".
'A Ilha'
Para compreender o trabalho de Maksimov, revisitaremos a tradição da animação soviética, muito bem representada pelo cartoon "A Ilha", de Fyodor Khitruk, ganhador do prêmio de curta-metragem Cannes de 1974.
O personagem principal é um "náufrago, morando em uma ilhazinha, em busca de uma companhia ou de alguém para ajudá-lo. Mas ninguém está disposto a ouvi-lo, e as pessoas acabam tomando o pouco que ele tem", relatou Marcita.
Apesar de ser a animação mais antiga da nossa seleção, "ela é a que mais conversa com o mundo de hoje, em função da quarentena", disse Marcita.
"Todos os elementos da nossa sociedade estão presentes: o consumo, a publicidade, a impotência, o militarismo", disse Guazelli. "Até o fenômeno das selfies aparece no filme", lembra Marcita.
Marcita nota que o personagem principal do filme "é desenhado com linhas brancas, enquanto todas as outras coisas ao redor dele têm cores". No fim, o náufrago só "será salvo por um ser igual a ele", disse Guazelli. "No fundo é triste, porque esse náufrago somos nós."
A Sputnik Brasil faz votos para que o leitor tenha gostado dessa pequena seleção de animações russas e soviéticas. Acesse aqui mais obras do diretor russo Ivan Maksimov, e aqui as obras do animador soviético Fedor Khirtuk.
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