Em entrevista exclusiva para a Sputnik, o curador do evento Paulo Werneck contou que apesar da crise econômica e política no país, a FLIP resiste, e este ano vem de forma grandiosa.
“Em um ano de grave crise em todos os sentidos na economia, na política, vivemos mesmo na cultura uma série de conflitos e de questionamentos, e a FLIP dá prova de grande força ao conseguir permanecer no lugar onde ela sempre esteve, trazendo o mundo dos autores para perto do leitor brasileiro, trazendo descobertas literárias. Dá muita satisfação.”
Sobre a importância do intercâmbio com autores internacionais, Paulo Werneck conta que internamente há a brincadeira de que a FLIP não é a ONU (Organização das Nações Unidas), portanto, não há a obrigação de se cobrir todos os países, mas o curador do evento ressalta que quando é possível trazer autores de tradições literárias mais distantes, de países com os quais o Brasil não tem uma interlocução intelectual é sempre muito positivo. Paulo Werneck destacou, por exemplo, a presença da literatura russa na FLIP.
“A literatura russa, por exemplo, em 2014 foi o primeiro ano que nós tivemos um autor russo que foi o Vladímir Sorókin, e foi um grande momento ali. O Brasil é um país que lê muita literatura russa, que tem uma ligação direta com a literatura russa, mas não com a literatura contemporânea russa. Ano passado tivemos um outro russo, o matemático Edward Frankel, que escreveu um livro sobre matemática, que traz muitas das memórias dele, e sua vida na Rússia antes de imigrar para os Estados Unidos, e este ano temos a Svetlana Aleksievich (Jornalista bielorrussa, Nobel de Literatura 2015). Trazer novas tradições culturais, trazer novas referências culturais é uma das tarefas que a FLIP se colocou desde o começo.”
Este ano, a grande homenageada da edição é a poetisa Ana Cristina Cesar, escritora nascida no Rio de Janeiro e que fez parte da geração de poetas que tiveram grande importância no contexto político da década de 1970, e vem influenciando várias gerações. Antes dela, a única mulher homenageada desde o início da FLIP, em 2003 foi a escritora Clarisse Lispector.
Paulo Werneck salientou a importância e o aumento da participação das mulheres na Festa Literária. Este ano, dos 39 convidados principais, 22 são homens e 17 mulheres.
“Isso é resultado de um engajamento da FLIP para combater essa baixa representação de mulheres na literatura. Nós sempre estivemos de olho nisso, e em particular, a partir de 2014, nós recebemos alguns questionamentos de um grupo feminista chamado 'Cadê Mulheres', que foi a Paraty e levou a discussão da presença de mulheres na programação. Naquela altura nós tivemos 15% de autores da FLIP eram mulheres, um índice baixo. No ano seguinte, o mesmo grupo 'Cadê Mulheres' foi convidado a participar de um debate na programação oficial da FLIP. A partir daí, a Presidência da FLIP se comprometeu a ajudar a melhorar esses índices. Criamos estratégias para que houvessem mais mulheres presentes na FLIP. Homenageamos a Ana Cristina Cesar, porque é uma grande autora da literatura brasileira. A obra dela está pulsando hoje na obra de autores e autoras jovens do Brasil e me impressionou muito como foi bem recebida essa homenagem.”
A abertura da festa acontece nesta quarta-feira (29), às 19h. Até domingo (3), serão 23 mesas literárias com quase 40 autores debatendo temas como ciência, jornalismo, poesia, ensaio e humor.
Paulo Werneck cita como outros destaques da 14ª edição da FLIP, a presença do celebrado autor norueguês, Karl ove Knausgard, um dos escritores de mais projeção atualmente no mundo, que fez de sua vida um ciclo de quatro romances. O curador cita ainda a participação do autor americano Benjamin Mose, que foi biógrafo da escritora Clarice Lispector e que vai lançar dois livros no Brasil. Há ainda mesas de debate sobre o pai da avaliação Santos Dumont, e que é tema de um romance holandês que está sendo lançado agora. Na poesia, o destaque é um encontro com o poeta Leonardo Fróes.
A FLIP conta ainda com apresentações culturais paralelas por toda a cidade de Paraty envolvendo shows, cinema, oficinas e poesia.
A programação completa está no site da FLIP.
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