Imortal? Estudo revela segredos genéticos da planta 'que não morre' no deserto africano

CC BY 2.0 / Werner Bayer / flug-namib-desertDeserto do Namibe, foto de arquivo
Deserto do Namibe, foto de arquivo - Sputnik Brasil, 1920, 04.08.2021
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As plantas Welwitschia têm apenas duas folhas que estão constantemente se alongando em um ciclo de vida que os cientistas estimam em até 3 mil anos. Sua genética pode ajudar no cultivo de safras mais robustas em um contexto de aquecimento global.

A Welwitschia, popularmente conhecida como "polvo do deserto", é uma das plantas mais antigas e icônicas do planeta que vive no árido deserto do Namibe, entre Angola e Namíbia. Seu nome em Afrikaans é "tweeblaarkanniedood", que significa "duas folhas que não podem morrer".

Um estudo publicado recentemente na Nature Communications revela alguns dos segredos genéticos da Welwitschia.

"Esta planta pode viver milhares de anos e nunca para de crescer. Quando para de crescer, está morta", disse Andrew Leitch, geneticista de plantas da Universidade Queen Mary de Londres e um dos autores do estudo, ao The New York Times.

"Na verdade, acredita-se que alguns dos maiores espécimes tenham mais de 3 mil anos", diz.

Os pesquisadores, liderados por Tao Wan, um botânico do Fairy Lake Botanical Garden em Shenzhen, China, analisaram o genoma da planta para entender sua forma única, extrema longevidade e profunda resiliência.

CC BY-SA 3.0 / Thomas Schoch / Welwitschia Plains, Haigamkab, Namibia. Female, about man's height, approx. age: 1 500 yearsUma Welwitschia fêmea de aproximadamente 1.500 anos no deserto do Namibe
Imortal? Estudo revela segredos genéticos da planta 'que não morre' no deserto africano - Sputnik Brasil, 1920, 04.08.2021
Uma Welwitschia fêmea de aproximadamente 1.500 anos no deserto do Namibe

Eles concluíram que há aproximadamente 86 milhões de anos durante um período de aumento da aridez e prolongada seca na região, quando possivelmente surgiu o deserto do Namibe - o genoma completo da Welwitschia dobrou após um erro na divisão celular, indica Wan, que detalha que "estresse extremo" é frequentemente associado a tais eventos de multiplicação.

Os cientistas falam que grande parte do genoma de Welwitschia são sequências de DNA "lixo" que se auto-replicam, chamadas retrotransposons, que experimentaram uma "explosão" de atividade há um milhão ou dois milhões de anos, provavelmente devido ao aumento da temperatura.

Para combater isso, o genoma de Welwitschia passou por mudanças epigenéticas generalizadas que silenciaram o DNA "lixo" por meio de um processo chamado metilação do DNA.

Este processo, junto com outras forças seletivas, reduziu drasticamente o tamanho e o custo de manutenção de energia da biblioteca de DNA duplicado da Welwitschia, dando a ela "um genoma muito eficiente e de baixo custo", observa Wan.

Outros ajustes genéticos

Além disso, como a folha média da planta cresce a partir das pontas, ou extremidades de seu caule e ramos, a ponta de crescimento original da Welwitschia acaba morrendo. Deste modo suas folhas novas emergem de uma área vulnerável da anatomia da planta chamada meristema basal, que fornece células frescas para a planta em crescimento, explica o especialista.

Um grande número de cópias ou aumento da atividade de alguns genes envolvidos com metabolismo eficiente, crescimento celular e resistência nesta área pode ajudá-la a continuar a crescer sob o estresse ambiental extremo do deserto.

As lições genéticas aprendidas com o estudo da Welwitschia podem ajudar os humanos a cultivar safras mais robustas e que necessitem de menos água em um contexto de aquecimento global, conclui o artigo.

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