Planeta Água: cientistas constatam evidências de que superfície da Terra já esteve submersa um dia

© Foto / Facebook / RoscosmosFoto da Terra capturada pela espaçonave Elektro-L com resolução recorde de 121 megapixels
Foto da Terra capturada pela espaçonave Elektro-L com resolução recorde de 121 megapixels - Sputnik Brasil, 1920, 10.03.2021
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Cientistas norte-americanos sugerem que cerca de três a quatro bilhões de anos atrás, superfície da Terra continha quase o dobro de água e que isso pode ter ajudado no deslocamento das placas tectônicas.

Os cientistas acreditavam que, ao longo dos tempos, os níveis do mar aumentaram e diminuíram com as temperaturas, mas a superfície total da água da Terra sempre foi considerada constante. Agora, crescem as evidências de que cerca de três a quatro bilhões de anos atrás, os oceanos terrestres continham quase o dobro de água.

Quantidade de água seria suficiente para submergir os continentes como conhecemos hoje até acima do pico do monte Everest, de acordo com estudo baseado em experimentos de laboratório, que foi publicado na terça-feira (9) na AGU Advances.

A possível inundação pode ter preparado as placas tectônicas e dificultado o início da vida em terra. Acredita-se que as rochas no manto de hoje, a espessa camada de rocha abaixo da crosta, teriam "sequestrado" a quantidade de água equivalente a um oceano ou mais em suas estruturas minerais.

© Depositphotos.com / Rost9Estrutura do núcleo da Terra em imagem criada pela NASA
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Estrutura do núcleo da Terra em imagem criada pela NASA

Mas, no início da história da Terra, o manto, aquecido pela radioatividade, era quatro vezes mais quente. Trabalhos recentes usando prensas hidráulicas mostraram que muitos minerais seriam incapazes de reter hidrogênio e oxigênio nas temperaturas e pressões do manto. Junjie Dong, um estudante de pós-graduação em Física Mineral na Universidade de Harvard, nos EUA, que liderou um modelo de estudo, sugere que "a água deve ter estado em outro lugar e o reservatório mais provável é a superfície [da Terra]", constata.

O artigo faz sentido intuitivamente, diz Michael Walter, um petrologista experimental do Instituto Carnegie para Ciência. Segundo Walter, é uma ideia simples que pode ter implicações importantes. Minerais encontrados nas profundezas do manto armazenam grande parte de água hoje em dia. Rochas ricas nesses minerais constituem 7% da massa do planeta, embora apenas 2% de seu peso seja água hoje.

Steven Jacobsen, mineralogista experimental da Universidade do Noroeste, nos EUA, e sua equipe criaram esses minerais do manto em laboratório aquecendo as amostras de rochas a mais de 1.600 °C. Já a equipe de Dong costurou os experimentos para mostrar que os minerais do manto retêm menos água em temperaturas mais altas. Os estudiosos acreditam que, com o resfriamento da camada, esses minerais se tornarão mais abundantes, aumentando sua capacidade de absorver água à medida que a Terra envelhece.

Os experimentos dos norte-americanos não são os únicos a sugerir um "planeta água". "Também há evidências geológicas bastante claras", diz Benjamin Johnson, geoquímico da Universidade Estadual de Iowa.

Ele cita as concentrações de titânio em cristais de zircão de quatro bilhões de anos da Austrália Ocidental, que sugerem que eles se formaram debaixo d'água. E algumas das rochas mais antigas conhecidas na Terra, formações de três bilhões de anos na Austrália e na Groenlândia, são de um tipo de rochas que só se formam apenas quando o magma esfria debaixo d'água.

O trabalho de Johnson e Boswell Wing, geobiólogo da Universidade do Colorado, oferece mais evidências. Amostras de um pedaço de crosta oceânica de 3,24 bilhões de anos deixado no continente australiano eram muito mais ricas em um isótopo de oxigênio pesado do que os oceanos contemporâneos. Como a água perde esse oxigênio pesado quando a chuva reage com a crosta continental para formar argilas, sua abundância no antigo oceano sugere que os continentes mal haviam emergido até aquele ponto, concluíram Johnson e Wing em um estudo feito em 2020.

© flickr.com / Juliette MeltonCampus da faculdade de negócios da Universidade de Harvard
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Campus da faculdade de negócios da Universidade de Harvard

Também há a possibilidade de os continentes terem se movido no início da história da Terra em decorrência de estar submersos, diz Rebecca Fischer, petrologista experimental de Harvard.

A evidência de oceanos maiores desafia os cenários de como a vida começou na Terra, diz Thomas Carell, bioquímico da Universidade Ludwig Maximilian, de Munique, na Alemanha. Para ele, a origem da vida se deu em lagos. Ele considera que bolsas aquosas protegidas dentro de rochas oceânicas que quebraram a superfície em montanhas submarinas vulcânicas foram o berço da vida. "Talvez tivéssemos pequenas cavernas onde tudo aconteceu", teoriza.

A teoria do antigo planeta água também é um lembrete de como a evolução da Terra é condicional. O planeta provavelmente estava ressecado até que asteroides ricos em água o bombardearam logo após seu nascimento. Se os asteroides tivessem depositado o dobro de água ou o manto atual tivesse menos apetite por água, então os continentes, tão essenciais para a vida e o clima do planeta, poderiam nunca ter surgido. Mas aparentemente foi tudo na medida certa para que surgisse a vida.

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