Superimunidade poderia explicar como morcegos conseguem carregar coronavírus

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Morcego-de-peluche (foto de arquivo) - Sputnik Brasil
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Cientistas de universidade canadense descobriram como morcegos conseguem carregar o coronavírus MERS sem adoecer, o que poderia esclarecer como coronavírus são transmitidos de animais para humanos.

Quer os coronavírus como o MERS (Síndrome Respiratória do Oriente Médio) e o SARS (Síndrome Respiratória Aguda Grave), bem como mais recentemente o coronavírus SARS-CoV-2, causador da doença COVID-19, crê-se como tendo origem em morcegos.

Morcegos imunes a coronavírus

Embora estes coronavírus possam causar doenças graves e muitas vezes fatais em seres humanos, por razões ainda não compreendidas, morcegos permanecem ilesos, mesmo estando infectados pelos vírus.

Sobre esta matéria se debruçaram cientistas da Universidade de Saskatchewan (Usask), situada no Canadá.

Em um artigo da autoria da própria universidade e publicado em 6 de maio no portal Phys.org, cientistas quiseram perceber a razão pela qual os morcegos eram portadores do coronavírus e mesmo assim não adoeciam.

"Queríamos entender por que o vírus MERS não desligava as respostas imunológicas dos morcegos como acontece em humanos", escreveu o microbiologista Vikram Misra da Usask e autor principal do estudo.

A pesquisa incidiu sobre os morcegos-marrons insetívoros, apurando que podem ser infectados persistentemente pelo coronavírus MERS durante meses, devido a importantes adaptações quer do morcego quer do próprio vírus.

"Ao invés de matar células de morcegos como o vírus faz com células humanas, o coronavírus MERS entra em uma relação de longo prazo com o hospedeiro, mantida pelo supersistema imunológico único do morcego", disse Misra, que acredita que o SARS-CoV-2 opere da mesma forma com os morcegos.

Mas podem infectar outros animais

Misra refere que o trabalho da equipe sugere que o estresse em morcegos – como exposição ainda com vida em mercados de rua, outras doenças e, possivelmente, a perda de habitat – possa ter um papel no extravasamento do coronavírus para outras espécies animais, incluindo humanos.

"Quando um morcego experimenta estresse em seu sistema imunológico, ele perturba o existente equilíbrio do sistema imunológico entre ele e o vírus, permitindo que o vírus se multiplique", afirmou Misra.

© REUTERS / NIAID-RML/HandoutImagem de microscópio eletrônico do SARS-CoV-2, o vírus que causa a COVID-19
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Imagem de microscópio eletrônico do SARS-CoV-2, o vírus que causa a COVID-19

Darryl Falzarano, coautor do estudo, refere que o "coronavírus MERS pode se adaptar muito rapidamente a um determinado nicho, e embora não entendamos completamente o que está acontecendo, isto demonstra como os coronavírus são capazes de pular de espécie para espécie sem esforço", afirmou, citado no artigo.

A investigação ocorreu como parte da pesquisa da universidade para a descoberta de uma vacina contra o SARS-CoV-2, que já infectou mais de 3,5 milhões de pessoas em todo o mundo e matou sete por cento das pessoas infectadas.

Em contraste, o vírus MERS infectou quase 2.500 pessoas em 2012, mas matou uma em cada três pessoas infectadas.

Não há vacina para o MERS e muito menos para o SARS-CoV-2. Enquanto os camelos são os hospedeiros intermediários do MERS-CoV, os morcegos são suspeitos de serem os hospedeiros primários do MERS e do novo coronavírus.

"Os coronavírus adaptam-se rapidamente às espécies que infectam", disse Misra, reconhecendo pouco se saber sobre as interações moleculares destes vírus com seus hospedeiros naturais, os morcegos.

Um estudo conduzido pelos EUA em 2017 mostrou que os coronavírus dos morcegos podem persistir em seus hospedeiros por pelo menos quatro meses em hibernação, relembrou o artigo assinado pela Universidade de Saskatchewan.

Aliança entre morcego e vírus

Quando expostas ao vírus MERS, as células de morcegos se adaptam, não produzindo proteínas causadoras de inflamação que são marcas registradas de uma doença, mas, sim, mantendo uma resposta antiviral natural, uma função que se desliga em outras espécies, inclusive as humanas.

"Ao mesmo tempo, o vírus MERS também se adapta às células hospedeiras dos morcegos ao causar mutação muito rapidamente em um gene específico", disse Misra.

© Foto / Pixabay / SalmarMorcegos (foto de arquivo)
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Morcegos (foto de arquivo)

Operando em conjunto, essas adaptações resultam em que o vírus permanece a longo prazo no morcego, mas se torna inofensivo até que algo – como uma doença ou outro fator de estresse – altere esse delicado equilíbrio.

Perigo de nova pandemia

Em seguida, a equipe voltará seu foco para entender como o vírus MERS transportado pelo morcego se adapta para infectar e se replicar em camelídeos e células humanas.

"Esta informação pode ser decisiva para prever o próximo vírus de morcego que poderia causar uma nova pandemia", concluiu Misra, citado no artigo.

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