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SBPC alerta: novo corte no Orçamento vai desmontar pesquisa científica no Brasil

© Agência BrasilInstituto Vital Brazil, em Niterói, produz soro inédito no mundo contra picada de abelhas
Instituto Vital Brazil, em Niterói, produz soro inédito no mundo contra picada de abelhas - Sputnik Brasil
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O novo corte no Orçamento da União, que destinou R$ 4,6 bilhões para o Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC) neste ano, ameaça paralisar a pesquisa científica e tecnológica no país e aumentar ainda mais a fuga de especialistas brasileiros para o exterior.

O alerta é do presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), o físico Ildeu de Castro Moreira, que se mostra bastante preocupado com o quadro atual. O corte de 25% no orçamento da pasta para esse ano se soma ao já sofrido em 2017 e aos dos últimos cinco anos. Em 2013, para se ter uma ideia os recursos para a área eram de R$ 8,4 bilhões. Enquanto países como Estados Unidos, Alemanha, Israel, China, Japão e Coreia do Sul chegam a destinar até 4% do Produto Interno Bruto (PIB) para pesquisas científicas, no Brasil esse percentual é inferior a 1%.

Em entrevista à Sputnik Brasil, Moreira garante que a nova tesourada será catastrófica não só para as entidades que lidam com o tema, como também para setores empresariais que apostam na inovação. Em instituições de renome, como o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), e mesmo nas universidades, bolsas de estudo já estão sendo cortadas, programas suspensos e pesquisas, de anos, interrompidas. A situação é tão grave que, no Rio de Janeiro, uma professora e cientista da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) contraiu um empréstimo de R$ 100 mil em seu nome para comprar equipamentos para a universidade, a fim de que os trabalhos de pesquisa do laboratório que dirige não fossem interrompidos.

"Estamos sofrendo uma restrição muito severa de recursos. Fizemos muitas atividades no ano passado, junto ao Congresso Nacional, enviamos várias cartas aos ministérios, ao presidente da República sobre o impacto que isso pode ter para desmontar nosso sistema nacional de pesquisa, que vem sendo criado nessas últimas duas décadas. Na questão da saúde pública, quando você corta recursos para pesquisa científica, isso pode afetar nossa capacidade de prevenção de doenças, de enfrentar epidemias. A situação é gravíssima, porque nossos jovens também estão ficando desanimados", alerta Moreira.

Um cientista estudando cérebro humano. Foto de arquivo - Sputnik Brasil
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Cortes na ciência ameaçam tecnologia e economia do Brasil, diz presidente da SBPC

O presidente da SBPC afirma que qualquer nação hoje minimamente desenvolvida precisa da pesquisa científica como elemento fundamental até de soberania. Ele lembra que em 2013 o Brasil chegou a investir 1,3% do PIB no setor, mas de lá para cá os recursos só foram diminuindo, uma contradição face a todos os recursos naturais de que o país dispõe.

"Esses valores são muito pequenos em relação aos rombos que a gente vê hoje na máquina pública brasileira. O Brasil nos últimos anos deu tantas isenções fiscais injustificadas para bancos e indústrias, e para ciência e tecnologia há uma redução drástica. O valor que temos hoje para investimento e custeio no ministério é um terço do que tínhamos há seis ou sete anos. É bom lembrar que essa soja que está sendo exportada e segura a balança comercial do Brasil é estudo da ciência brasileira, da Embrapa, das universidades", afirma o presidente da SBPC.

Moreira diz que, nos últimos anos, o Brasil avançou bastante em diversas áreas, até com reconhecimento internacional, justamente graças aos aportes feitos na pesquisa científica e tecnológica. Ele cita como exemplos a própria Matemática — este ano o Rio de Janeiro vai sediar o Encontro Internacional — além da Física, Química, Biociências e da Geociência, como na própria questão do petróleo.

"A descoberta do pré-sal e toda a geologia e a engenharia envolvidas nisso são de altíssima qualidade. O Brasil não tem só potencial, tem realização. O pré-sal hoje é metade do petróleo brasileiro, e isso saiu do trabalho, do esforço, da capacidade dos engenheiros, pesquisadores e técnicos brasileiros da Petrobras e de outras universidades. Na área da aeronáutica cita-se sempre o exemplo da Embraer, temos áreas mecânicas também importantes. A área biomédica é outro destaque. Problema é ter política pública adequada e continuada para que isso possa se desenvolver", finaliza o presidente da SBPC.

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