'Eu me considero ciborgue porque tenho cibernética no meu corpo'

© Foto / Will ClapsonMoon Ribas
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Moon Ribas, bailarina e ativista espanhola incorporou no seu corpo um pequeno chip que lhe envia os dados sísmicos de todo o mundo. Quando acontece um terremoto em algum canto do planeta, o chip vibra para refletir a magnitude – e é aquilo que Moon Rivas expressa na sua coreografia.

Ao incorporar o chip no seu braço, Ribas comprometeu a si mesmo a manter uma conversação eterna com planeta, e agora busca refletir a incerteza das pessoas que vivem em áreas onde há falhas geológicas.

A dançarina começou a integrar a tecnologia em suas performances durante um intercâmbio que fez na SNDO (School for New Dance Development) Theatreschool de Amsterdã (Países Baixos).

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Do mesmo modo, o chip no seu cotovelo também está em um movimento quase constante, respondendo com vibração aos tremores da terra, independentemente de Ribas estiver ou não está atuando neste momento. Se acontecer enquanto você está falando com alguém, tem que parar por um momento. A dançarina ri admitindo que a Terra interrompe a sua vida cada dia, mas de acordo com ela é uma sensação muito agradável.

A Sputnik falou com Moon para saber como é ser ciborgue hoje em dia e como ela vê o futuro do nosso planeta.

Sputnik: Você se descreve como ciborgue ou pessoa humana?

Moon Ribas: Eu me considero ciborgue porque tenho a cibernética no meu corpo, me sinto unida à cibernética. Não apenas fisicamente, mas também mentalmente. Tenho um novo sentido, criado mediante a união entre cibernética e o corpo humano.

S: Como viveu o terremoto de abril no Equador?

MR: Às noites, tenho que me acostumar a sentir essas vibrações constantes. […] Se há um (terremoto) muito grande, eu acordo. Quando esses terremotos afetam as vidas das pessoas, então tem um sentimento muito estranho, porque esse sentido me une não apenas ao planeta, mas também a outras pessoas. Quando houve no Nepal, por exemplo, me sentia como se estivesse lá, porque eu sentia o terremoto. Mas, ao mesmo tempo, também estava muito longe. Assim, era uma sensação um pouco estranha. Agora, não apenas sei que o planeta é um organismo vivo, mas também o sinto. Os terremotos sempre estiveram aí, são parte da natureza do nosso planeta. O problema é que os humanos não estão adaptados a esse fenômeno natural. Se todos entendessem que a Terra está em constante movimento de evolução, suponho que as sociedades estariam construídas de forma muito diferente. Ainda temos que aprender a viver no nosso próprio planeta.

S: A sua atividade tem algum compromisso social, ligado à ajuda às vítimas de terremotos?

MR: Suponho que, além da arte, é como um convite a escutar o planeta. É uma sensibilização, algo mais forte. Como sensibilizar as pessoas disso que está vivo e que muitas vezes não nos damos conta.

S: Você sentiu o terremoto no Equador de hoje?

MR: Sim, senti. Noto todos os tremores porque estou conectada aos sismógrafos que estão online. Eu sinto como se tivesse duas batidas de corações, do meu e da Terra, que vai ao seu próprio ritmo. Não sei onde acontecem. Sei quando, mas não sei onde. Estou trabalhando para saber também onde passam. Na maioria, em 99% dos tremores que há, não há dano às pessoas ou nada. E, às vezes, há muitos grandes que também não dão em nada. Nem sempre que há vibrações significa que há alguém sofrendo, por sorte.

S: Você faz arte ou ciência?

MR: Eu considero que faço arte. Arte ciborgue, que é a criação de novos sentidos. A obra de arte de um artista ciborgue é a criação de um novo sentido. Para mim, a minha obra de arte é o sentido sísmico, as vibrações que noto em mim. Mas, como essas vibrações passam dentro de mim, nós somos como que o único público que está experimentando essa obra de arte. Então, para expressar e compartilhar nossas sensações, crio outras obras de arte externas. Faço performance, percussão, também faço arte visual, com esculturas… É como compartilhar o sentido que passa dentro de mim.

© Foto / Neil HarbissonMoon Ribas
Moon Ribas - Sputnik Brasil
Moon Ribas

S: Você é fundadora da Cyborg Foundation, cujo objetivo é ajudar as pessoas a se tornarem ciborgues. Para que elas precisam fazer isso?

MR: Sim, há seis anos temos a Fundação Ciborgue, que tem basicamente três objetivos: ajudar as pessoas a se transformar em ciborgue, defender os direitos dos ciborgues e promover o ciborguismo como movimento social e artístico. E, dentro de alguns meses, vamos inaugurar uma empresa que  criamos com amigos de Londres, Cyborgness, onde as pessoas poderão comprar sentidos já feitos. Normalmente, nós apoiamos que as pessoas encontrem seu próprio sentido, sua própria maneira de perceber o mundo, como no que elas estão interessadas. Encontrei um sentido ao perceber o sentido sísmico. Mas creio que cada um tem a sua própria maneira de perceber o planeta. Mas há pessoas que querem mais, tivemos propostas já feitas e, por isso, decidimos criar a Cyborgness. E as pessoas poderão comprar sentidos e implantá-los. O primeiro que iremos colocar será o sentido de Norte, o sentido de orientação. […] Todo mundo que tem curiosidade ou gente que quer experimentar e levar a vida de outra maneira. Não apenas crescer em conhecimento, mas também crescer em percepções.

S: É sempre necessário um implante externo para estender os sentidos?

MR: Sim. Para a gente, a parte física é uma consequência. Para a gente, o mais importante é estender a mente, estender os sentidos e perceber mais. E, para fazer isso, temos que incorporar coisas em nosso corpo, que são cibernéticas. Para nós, a união física não é o mais importante. O mais importante é a extensão da mente. É uma consequência. Eu creio que é importante tê-lo em seu corpo porque assim é mais fácil de desenvolver o sentido.

S: O futuro da Terra é uma terra de ciborgues?
MR: Sim, eu creio que cada vez mais gente quer desenvolver. Eu creio que minha geração e as gerações mais velhas tinham um preconceito, também presente nos filmes de ficção, que a união entre humanos e a tecnologia era ruim. Mas não tem por que ser assim. Somos nós que definimos como é essa união entre a tecnologia e os humanos. E dependendo de como fazemos, isso pode nos levar a nos sentir mais unidos à natureza, a outros animais e a entender melhor onde vivemos. Creio que as gerações que estão vindo já não têm esses preconceitos, de que há tecnologias ruins.

S: Como os implantes são objetos alheios e não orgânicos, as gerações futuras não terão as mesmas propriedades que vocês. Terão que instalar novas "extensões"?

MR: Sim, sim, as pessoas vão implantar coisas. Creio que eles terão menos medo disso. Como agora já é mais normal fazer tatuagem para sempre, vai acontecer o mesmo com os implantes.

S: De modo que será um mundo mais feliz…

MR: A felicidade é algo que vem dos humanos, não depende da tecnologia. Algo como rir é tão básico que acho que não mudará. O que pode fazer a tecnologia é nos fazer sentir mais unidos, entender mais ou ter uma experiência mais profunda de onde vivemos. Nossa comunicação e a nossa relação com o entorno vai mudando… E a tecnologia nos ajuda a fazer isso, a mudar. Mas creio que a felicidade, a tristeza e o sorriso são tão básicos que sempre farão parte do ser humano. A tecnologia não tem nada a ver com isso.

S: Como você acabou em Nova York?

MR: Além de Barcelona, eu estudei na Inglaterra, e sempre me mudei muito. E eu gosto de mudar de lugar e aprender coisas em cada lugar onde estou. E pensei que gostaria de estar em um lugar onde as coisas acontecem mais rápido. E agora estou aqui por um tempo. Vamos ver. Estou aprendendo coisas que me ajudam. E as pessoas me inspiram muito também. 

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