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Com 'ultimato', EUA usam 'armadilha' para mudar discurso do Brasil sobre o clima, diz especialista

© REUTERS / Adriano MachadoEm Brasília, o presidente brasileiro Jair Bolsonaro (sem partido), gesticula durante uma cerimônia, em 5 de abril de 2021
Em Brasília, o presidente brasileiro Jair Bolsonaro (sem partido), gesticula durante uma cerimônia, em 5 de abril de 2021 - Sputnik Brasil, 1920, 15.04.2021
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O embaixador dos Estados Unidos no Brasil, Todd Chapman, afirmou que o país terá a "última chance" de mostrar compromisso com o meio ambiente na Cúpula de Líderes sobre o Clima. Sobre isso, a Sputnik Brasil ouviu um advogado especialista no tema, que alertou para a "situação delicada" que o Brasil enfrenta.

No domingo (11), o embaixador dos EUA no Brasil, Todd Chapman, participou de reunião virtual com políticos, economistas e diplomatas brasileiros. Durante o encontro, conforme publicou o jornal Folha de São Paulo, Chapman disse que a Cúpula de Líderes sobre o Clima será a última chance do Brasil para recuperar a confiança dos norte-americanos mostrando preocupação ambiental. A cúpula convocada pelo presidente norte-americano, Joe Biden, acontecerá de forma virtual entre os dias 22 e 23 de abril, reunindo cerca de 40 líderes mundiais.

Ainda segundo a publicação, o embaixador foi taxativo ao dizer que o meio ambiente será o ponto mais importante da relação entre Washington e Brasília, apontando que esse elemento influenciará acordos comerciais e também a possível entrada do Brasil na OCDE.

© Foto / Alan Santos/Divulgação/Palácio do PlanaltoReunião entre o presidente Jair Bolsonaro e Todd Chapman, embaixador dos Estados Unidos no Brasil
Com 'ultimato', EUA usam 'armadilha' para mudar discurso do Brasil sobre o clima, diz especialista - Sputnik Brasil, 1920, 15.04.2021
Reunião entre o presidente Jair Bolsonaro e Todd Chapman, embaixador dos Estados Unidos no Brasil

Para Antonio Pinheiro Pedro, advogado, especialista em Direito Ambiental, a forma como o embaixador norte-americano se expressou aponta um "ultimato" dos EUA, refletindo uma mudança de postura da Casa Branca em relação ao tema climático.

"Brasil e Estados Unidos têm que buscar obrigatoriamente, por meio dos seus chefes de Estado, uma aproximação e uma integração, isso sem dúvida nenhuma. Por outro lado, a missão do embaixador norte-americano é de dar esse ultimato, porque há uma patente necessidade também do Brasil retomar a sua posição chave no cumprimento do tratado de mudança do clima, em especial agora com o Acordo de Paris", afirma o advogado em entrevista à Sputnik Brasil.

O advogado Pinheiro Pedro acredita que os EUA estão usando a Cúpula do Clima como uma espécie de "armadilha", cujo gancho seria o discurso do presidente brasileiro Jair Bolsonaro (sem partido), que serviria de teste para sinalizar uma aproximação com a atual política ambiental norte-americana.

"É patente que os Estados Unidos estão fazendo o famoso jogo do morde e assopra, e nesse morde e assopra, eles percebem que precisam atrair para uma armadilha, digamos assim, internacional, o governo brasileiro, e buscar uma confirmação de um comprometimento a partir do chefe de Estado", avalia.

O especialista ressalta que o governo Bolsonaro não tem agido para cumprir compromissos internacionais assumidos pelo Brasil e tem trabalhado internamente contra a proteção ambiental. Dessa forma, ele acredita que o país atualmente pouco tem para apresentar em termos de preocupação com o meio ambiente.

"O governo brasileiro simplesmente demoliu a estrutura de cumprimento da política nacional de mudanças climáticas no Brasil. E, só agora, aos poucos, está recompondo as peças para fazer a implementação da política de mudanças climáticas. Até pouco tempo sequer o conselho do clima interministerial estava montado. E, hoje, se por um lado está montado, não está agindo", aponta o advogado.
© Folhapress / Pedro LadeiraO presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, com seu ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles
Com 'ultimato', EUA usam 'armadilha' para mudar discurso do Brasil sobre o clima, diz especialista - Sputnik Brasil, 1920, 15.04.2021
O presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, com seu ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles

Segundo Pinheiro Pedro, essa falta de compromisso do país foi percebida pelo atual governo dos EUA, que agora passa a pressionar o Brasil nesse sentido em um momento em que o país está em uma situação internacional "delicada".

"Isso com certeza não escapou da observação atenta da política externa norte-americana. Nós falamos, mantemos uma posição, no entanto, essa posição não é seguida pelo discurso do chefe de Estado, mas, também, em que pese estarmos falando, mantendo essa posição, tratamos de destruir os instrumentos que seriam as instituições encarregadas de implementar o acordo do clima em território nacional", avalia.

O especialista aponta que a política ambiental no Brasil retrocedeu no atual governo, ressaltando o avanço do desmatamento na gestão Bolsonaro. Para o advogado, o discurso apresentando pelo Brasil na Cúpula de Líderes sobre o Clima será uma espécie de teste de fogo e pode desmoralizar "de vez" o país.

"É óbvio que estamos diante de uma necessidade de confirmação, por parte do chefe de Estado [Bolsonaro], de que realmente ele vai seguir os termos do Acordo de Paris, ou não. Tenho para mim que ou o Brasil agora adota uma posição independente, se engaja, mas com as reservas necessárias, ou ele pode se desmoralizar de vez", afirma.
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