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'Em educação não há espaço para improviso', diz especialista sobre retorno às aulas presenciais

© Folhapress / Jorge Hely/Frame Photo/FolhapressAlunos da rede estadual do Rio de Janeiro acessam a plataforma on-line com conteúdo de aulas com suporte gratuito e sem consumo de dados de internet do aluno possibilitando que ele estude em casa
Alunos da rede estadual do Rio de Janeiro acessam a plataforma on-line com conteúdo de aulas com suporte gratuito e sem consumo de dados de internet do aluno possibilitando que ele estude em casa   - Sputnik Brasil
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Com as aulas praticamente paralisadas desde o início do ano passado, autoridades tentam encontrar uma solução para fazer dois anos letivos em um. Mas será que já é o momento?

Com o início da vacinação contra a COVID-19, a pergunta é se a hora de programar o retorno às aulas presenciais chegou. Qual o período estimado para que se tenha uma imunização da população suficiente para garantir a segurança do retorno às aulas presenciais?

Mesmo antes do início da vacinação, diversos municípios já tinham programado o retorno das aulas presenciais para as próximas semanas.

© Foto / AFP / Patricia de Melo MoreiraProfessora dá aula para alunos do ensino médio em escola de Lisboa, em maio de 2020
'Em educação não há espaço para improviso', diz especialista sobre retorno às aulas presenciais - Sputnik Brasil
Professora dá aula para alunos do ensino médio em escola de Lisboa, em maio de 2020

Para falar sobre o tema, a Sputnik Brasil conversou com Ítalo Cúrcio, professor e pedagogo, coordenador do curso de Pedagogia da Universidade Presbiteriana Mackenzie, em São Paulo.

"Tenho uma contínua preocupação e apreensão quanto ao grave momento histórico que a humanidade está passando. Embora o ser humano tenha progredido tanto em várias áreas do conhecimento, as divergências continuam a ser muitas. O debate é sempre bem-vindo. Com a chegada da vacina devemos sim debater o tema se é possível a volta às aulas presenciais, o debate é imprescindível, porém com propostas e soluções, e não divagações", introduziu o tema o professor.

Para ele, esse debate deve girar em torno de se desenvolver um plano de retomada do ensino e da educação com vistas à reparação de sequelas que foram deixadas pela crise sanitária, com um projeto pedagógico atual, voltado para a nova realidade.

"Em educação não há espaço para o improviso, a tentativa e erro deve ser evitada ao máximo, porque os danos são imprevisíveis, irreparáveis", avaliou o especialista.

Dois anos letivos em um

Para Cúrcio, a educação vai além do ensino, e não existem perdas, mas "ganhos menores". Ele disse que muita gente aprendeu com a crise, apesar de muitos pensarem apenas nos currículos escolares que não foram cumpridos no ano de 2020, "mas educação não é somente vestibular e Enem, é muito mais que isso".

"Numa situação de crise, devemos sempre pensar nas prioridades. Eu entendo que a prioridade é a preservação da vida, as outras prioridades vêm depois. Eu entendo que a recuperação [da educação] não será fazendo um 'dois em um', isso não funciona, como pesquisador da educação eu entendo que a reposição do conteúdo deve se dar ao longo dos próximos anos", disse Cúrcio.

Ele lembrou que educação é formação, para que quando o indivíduo chegar à idade adulta seja um profissional competente, pronto para a realidade social da sua época. O que importa é construir um novo projeto pedagógico para essa nova realidade. "Eu não acredito no 'dois em um', eu defendo um novo projeto pedagógico, realista, com o que temos na contemporaneidade, e daquilo que se pretende para o futuro".

Imunização e segurança para o retorno às aulas presenciais

"Eu entendo que retornar às aulas presenciais apenas pra dizer que voltamos não é bom, a volta deve ser feita em primeiro lugar com segurança, para os alunos, profissionais de educação e os familiares desses alunos, o universo de pessoas é muito grande", opinou Cúrcio.

Ele reiterou a importância da elaboração de um novo projeto pedagógico, e não um retorno na base da tentativa e erro, pois "isto é perigoso". O especialista explicou que se trata agora de uma sindemia, não apenas uma pandemia, onde vários setores estão sendo impactados pela contaminação com o novo coronavírus.

​​"É preciso vacinar os profissionais da saúde, precisamos vacinar os profissionais da educação, queremos voltar às aulas e não vamos vaciná-los? Isso é inadmissível. Vacinar os idosos e aqueles que tem comorbidades. Quando juntarmos esses grupos, vacinados, seguros, com a certeza de que esta população está protegida, as aulas deverão voltar, mas voltar com toda a segurança", completou o pedagogo.

Segundo ele, havendo vontade política isto pode ocorrer até a metade do ano, para que em agosto as aulas voltem com atividade praticamente plena.

Municípios já programaram retorno das aulas presenciais

Em relação à notícia de que muitas cidades já programaram a volta às aulas nas próximas semanas, Cúrcio avaliou que a decisão é temerária: "Que segurança esses prefeitos dão aos profissionais da escola, aos alunos e aos pais?", se perguntou.

"Será que vamos brincar de vai e vem? A situação explode aí paramos tudo abruptamente? Ou faremos de conta que voltamos presencialmente com oito ou dez alunos por sala? Se quisermos que todos voltem deveria haver um rodízio, e aí, como será ministrado o conteúdo? Umas poucas escolas particulares tem condições de fazer um trabalho muito bom, criando redes de ensino a distância para seus alunos, mas e as redes públicas? Elas possuem um contingente de profissionais para fazer esse revezamento?", avaliou o especialista.

Cúrcio reiterou que é a favor da rápida vacinação massiva e da segurança para todos antes desse retorno, pois se não houver segurança será um "faz de contas com consequências terríveis".

Aulas de forma remota

Para o pedagogo as aulas ministradas de forma remota podem ser uma solução, mas tudo depende de um planejamento, pois todos foram pegos de surpresa, e tudo teve que ser improvisado.

"Eu não posso avaliar o ensino remoto por aquilo que vimos em 2020, não posso dizer se ele é bom ou ruim, isso não é um ensino a distância conceitual, foi uma improvisação, graças a Deus pôde ser feito, mas não posso pensar que ensino a distância é isso", declarou Cúrcio.
© Foto / janeb13 / PixabayEnsino a distância: jovens trocaram o ambiente de sala de aula pela educação em isolamento durante a pandemia
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Ensino a distância: jovens trocaram o ambiente de sala de aula pela educação em isolamento durante a pandemia

Ele explicou que o ensino a distância já é praticado há muito tempo, havendo registros dessa modalidade datados do século 18 e que ele não mudou de conceito, sempre foi o ensino sem a presença física do professor ao lado do aluno, o que mudou foi o meio de transporte da mensagem.

"Os cursos serão híbridos, porém com projetos pedagógicos bem elaborados, realistas, diante daquilo que queremos para hoje e para o futuro. Com um ensino remoto bem estruturado, é possível chegar a resultados espetaculares, só que mais uma vez eu digo: essa nova escola será híbrida", finalizou o especialista.
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