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Reino Unido fez lobby com Bolsonaro antes de ele ser eleito presidente, revela jornalista

© Folhapress / Mateus Bonomi/AgifPresidente Jair Bolsonaro faz gesto de arma durante cerimônia no Palácio do Planalto
Presidente Jair Bolsonaro faz gesto de arma durante cerimônia no Palácio do Planalto - Sputnik Brasil
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Os contatos privados do governo britânico com o atual presidente do Brasil podem explicar o porquê da vacina britânica contra a COVID-19, da AstraZeneca, ser prioridade para o governo sul-americano, conta jornalista investigativo à Sputnik.

O governo britânico teria secretamente feito lobby com o presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, em nome dos interesses de grandes corporações britânicas, mesmo antes dele ter sido eleito para a Presidência em 2018, segundo documentos obtidos pelo site de notícias independentes Brasil Wire.

John McEvoy, jornalista investigativo, explicou à Sputnik a importância de suas descobertas, conforme descrito em seu artigo "'Strategic Partners': Britain's secret lobbying of Bolsonaro for Big Pharma, Oil and Mining" ("'Parceiros estratégicos': lobby secreto britânico de Bolsonaro por grande farmacêutica, petróleo e mineração").

Sputnik: Explique o que você e seus colegas encontraram em relação a esses documentos que mostram o lobby pré-eleitoral de Jair Bolsonaro pelo governo do Reino Unido?

John McEvoy: Descobrimos que o governo britânico estava secretamente fazendo lobby para o candidato Jair Bolsonaro antes da eleição presidencial de 2018. O então embaixador britânico no Brasil, Vijay Rangarajan, convidou Bolsonaro para uma reunião privada na residência pessoal de Rangarajan com os "parceiros estratégicos" britânicos no Brasil. Esses "parceiros estratégicos" são uma lista das principais corporações britânicas – BP, Shell, AstraZeneca, Anglo-American e outras. Também temos detalhes de mais reuniões entre Bolsonaro e representantes britânicos antes, durante e depois da campanha eleitoral de 2018. Bolsonaro conduziu abusos dos direitos humanos consideráveis e uma resposta desastrosa à COVID-19, logo é importante saber qual o papel britânico neste país.

Sputnik: Não é normal os governos fazerem lobby entre si?

John McEvoy: Sim, é normal – parte da missão do Escritório de Relações Internacionais, Comunidade e Desenvolvimento (FCDO, na sigla em inglês) é proteger e apoiar as empresas britânicas no exterior. Porém, Jair Bolsonaro – um homem que pediu o retorno de uma ditadura ao Brasil e que se expressa abertamente em seu ódio pelas comunidades indígenas brasileiras – não é normal. Nesse contexto, estava bem claro, em junho de 2018, que suporte da BP ou da Shell, por exemplo, no Brasil poderia implicar a expansão para territórios indígenas, abusos dos direitos humanos, e venda de recursos soberanos do Brasil. Agora, também vimos a resposta desastrosa de Bolsonaro à COVID-19. Ele colocou quase todas as esperanças do Brasil na vacina AstraZeneca, recusando-se a fazer pedidos de outras opções mais viáveis. Quase 200 mil brasileiros morreram de COVID-19, e vale a pena questionar se os esforços de lobby britânicos contribuíram para essa política desastrosa.

Sputnik: Qual é a importância, se houver, do fato de que esses esforços de lobby começaram antes de Bolsonaro ser eleito?

John McEvoy: Acho importante obter detalhes de toda e qualquer comunicação britânica com Bolsonaro [...], mas também é importante que essa comunicação tenha ocorrido antes das eleições, dado o longo e conhecido histórico de interferências britânicas em eleições estrangeiras. Se Bolsonaro se recusasse a jogar com o capital britânico, teria de se preocupar com o Reino Unido apoiando secretamente outro candidato?

Sputnik: Existem exemplos do governo brasileiro favorecendo os interesses comerciais do Reino Unido em detrimento dos seus próprios interesses por causa desse lobby?

John McEvoy: A confiança de Bolsonaro na vacina AstraZeneca foi descrita como "absurda" e "perigosamente homicida". Este é, talvez, o exemplo mais presciente, mas a BP, a Shell e a Anglo-American também expandiram a sua presença no Brasil. Bolsonaro supervisionou com eficácia uma venda incerta dos recursos naturais do Brasil, e essas empresas de mineração britânicas estão entre as que mais lucraram.

Sputnik: De onde vieram esses documentos?

John McEvoy: Estivemos em uma batalha prolongada pela liberdade de informação com o FCDO no ano passado. Aos poucos, estamos obtendo mais e mais detalhes das relações britânicas com Bolsonaro antes, durante e depois da eleição presidencial extremamente polêmica de 2018 no Brasil. Foi, efetivamente, o produto de um golpe lento – o Partido dos Trabalhadores, que melhorou a vida dos pobres do Brasil em basicamente todas as medidas socioeconômicas que você possa imaginar, teve um candidato destituído e outro, o principal candidato às eleições, preso por motivos totalmente duvidosos.

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