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Não há controle eficaz após nuvem de gafanhotos ser formada, diz bióloga

© REUTERS / Baz RatnerFormação de nuvem migratória de gafanhotos
Formação de nuvem migratória de gafanhotos  - Sputnik Brasil
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Após formadas, não existe um controle eficaz para combater as nuvens de gafanhotos, mas a tendência é elas irem perdendo força com o tempo, disse à Sputnik Brasil a bióloga Amanda Cruz Mendes.

Devido à ameaça da entrada de uma grande nuvem de gafanhotos no Brasil, da espécie Schistocerca cancellata, o governo decretou emergência fitossanitária nos estados do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina.

Após se formar no Paraguai e se deslocar para a Argentina, a nuvem parecia que entraria no território brasileiro. As últimas atualizações apontam que os gafanhotos continuam migrando para o sul, mas não há alterações climáticas que indiquem seu ingresso no Brasil, embora essa possibilidade não esteja descartada.

Como continuação do decreto de emergência sanitária, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento publicou portaria com diretrizes para elaboração de um plano de supressão da praga.

​Baseado em pareceres técnicos da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), o texto prevê, "em caráter emergencial e temporário, o uso dos inseticidas biológicos a base de Beauveria bassiana e Metarhizium anisopliae, assim como de ingredientes ativos autorizados atualmente para o controle de outras espécies de gafanhotos que geram prejuízos às lavouras brasileiras, seguindo doses máximas e os intervalos de segurança para cada cultura e cada produto especificado".

Sem controle de curto prazo

Segundo Amanda, que é professora-adjunta do Departamento de Zoologia da UERJ (Universidade do Estado do Rio de Janeiro), seguir as "recomendações da Embrapa é sempre bom, porque o órgão tem pessoal técnico capacitado".

Ela explica que os inseticidas mencionados são "fungos que atacam insetos, e por isso têm sido usados para controle biológico desse tipo de praga". No entanto, ressalta que "esse controle biológico é mais direcionado para a prevenção da formação de nuvens futuras".

A bióloga esclarece ainda que não existe um controle eficaz para combater as nuvens de gafanhotos rapidamente.

"Uma vez que a nuvem se forma, é muito difícil fazer uma medida de controle. Você pode fazer tentativas de pulverização de inseticidas químicos, mas não é muito eficaz, é um paliativo. A gente não tem um controle muito eficaz de curto prazo, uma vez que a nuvem já esteja formada", afirmou.

'Enfraquecer com o passar do tempo'

Segundo a especialista, a Argentina tem feito esse tipo de pulverização, mas o que deve enfraquecer a praga é a passagem do tempo.

"O governo argentino tem feito essas pulverizações, além do acompanhamento da nuvem. Mas a tendência da nuvem é ela mesma enfraquecer com o passar do tempo, ir diminuindo", disse ela. 

A professora afirma também que o melhor combate contra a praga é o monitoramento constante, para "prever a formação das nuvens" e evitar seu surgimento com as "devidas precauções".

A bióloga explica que, como no Brasil as grandes nuvens de gafanhotos são um problema incomum, o monitoramento é fraco.

"A última vez que houve esse problema de nuvem extensas, migratórias, foi no século passado, nas décadas de 1930 e 1940, então esse monitoramento estava mais frouxo. Ele foi sendo deixado de lado porque deixou de ser um problema muito importante", disse.

Apenas 3% das espécies podem causar grandes nuvens

A partir de agora, Amanda acredita que a questão voltará ao radar das autoridades brasileiras. Um sinal disso é que o decreto de emergência fitossanitária tem validade de um ano.

"O que eu acredito, é que daqui para frente haja uma preocupação maior com esse fenômeno. Vamos aguardar para ver se há o monitoramento dessa espécie em nosso território, e também de outras espécies que tenham potencial de formação de nuvens. Porque realmente as medidas de médio e longo prazo são melhores e mais eficientes", disse a especialista.

De acordo com Amanda, existem no Brasil cerca de 800 espécies conhecidas de gafanhotos, sendo que apenas 3% delas têm potencial de formação de nuvens capazes de gerar prejuízo econômico.

Risco para humanos?

A bióloga explica que a maioria dos gafanhotos são herbívoros, como é o caso da espécie que se encontra na Argentina. Por isso, existe o risco de destruição de plantações que estejam na rota de deslocamento da nuvem. Para animais de cativeiros, há um risco indireto: a perda de plantações que servem de alimento para essas espécies.

Em relação à saúde dos seres humanos, a bióloga diz que os gafanhotos não são uma ameaça.

"Não há nenhum risco para os humanos que entrem em contato direto com os gafanhotos. Eles não são animais venenosos, não possuem nenhum tipo de ferrão, não picam e não tem registro no Brasil de transmissão de nenhum tipo de doença ou patógeno por gafanhoto, que dizer, não são vetores de doenças", afirmou Amanda Cruz Mendes.
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