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COVID-19: militares da Saúde usam 'Véio da Havan' para inspirar maquiagem de dados, diz jornal

© Folhapress / Toni Pires / FramePhotoCemitério da Vila Alpina, zona leste de São Paulo, abre mais valas por conta das mortes por COVID-19
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Recheado de militares desde a saída de Nelson Teich, em 15 de maio, o Ministério da Saúde tem visto os seus técnicos serem coagidos a maquiar os dados referentes à COVID-19, e usando como base um vídeo compartilhado por um empresário conhecido como "Véio da Havan".

Segundo informações publicadas pelo jornal Valor Econômico nesta segunda-feira (8), os militares que ocupam postos da cúpula do ministério, este comandado interinamente há quase um mês pelo general Eduardo Pazuello, têm pedido que os números de infectados e mortos sejam maquiados.

Há dias os dados diários do Ministério da Saúde vêm sendo divulgados cada vez mais tardiamente. Na semana passada, o presidente Jair Bolsonaro declarou que, diante das divulgações por volta das 22h, acabariam as reportagens do novo coronavírus no Jornal Nacional, da Rede Globo, chamada pelo mandatário de "TV Funerária".

A admissão veio depois da pasta, dias antes, ter atribuído a divulgação tardia dos dados a um "problema técnico", mas técnicos logo desmentiram a versão em conversas reservadas com jornalistas. Ao Valor, fontes do ministério disseram que as mudanças já vistas na apresentação dos números diários de casos e óbitos terão mais alterações.

Por sugestão do empresário Luciano Hang, conhecido nas redes sociais como "Véio da Havan", o coronel Elcio Franco Filho, secretário-executivo do ministério, e outros militares de alto escalão pressionaram seguidamente para que sejam divulgadas apenas mortes ocorridas e confirmadas no mesmo dia.

A título de comparação, sob a tutela do ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta, que deixou a pasta em 16 de abril, os números da COVID-19 eram divulgados por volta das 17h, e continham os dados das mortes registradas no mesmo dia e os óbitos confirmados naquela data, mas que ocorreram anteriormente e estavam sob investigação. Sob Teich, isso foi mantido, ainda que sem as entrevistas diárias com a cúpula da Saúde.

© Folhapress / Wallace Martins / Futura PressSecretário-executivo adjunto do Ministério da Saúde, Élcio Franco
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Secretário-executivo adjunto do Ministério da Saúde, Élcio Franco

No vídeo usado por Franco Filho, Hang – conhecido bolsonarista, investigado pela Polícia Federal (PF) no inquérito das fake news – promete fazer uma live com o deputado federal Osmar Terra (MDB-RS), e exibe um gráfico com dados de cartórios sem curva descendente. Em seguida, ele exibe outro com curva descendente, mas apenas com dados recentes.

Ao jornal, técnicos do ministério afirmaram estar em choque com a falta de critério científico da sugestão, que respingou até mesmo na Agência Brasileira de Inteligência (Abin), que produz relatórios usados para consumo interno do Centro de Coordenação de Operações (CCOP) da Casa Civil – grupo que atua no Palácio do Planalto e reúne funcionários de vários ministérios.

Os relatórios da Abin sobre o tema são para consumo interno, relembrou o jornal, mas afetam diretamente a percepção do presidente Jair Bolsonaro – que já vem sendo criticado por vários setores da sociedade pela condução da pandemia em solo brasileiro. A tendência é que, sem dados calcados na ciência, o presidente atue ainda menos com base no aspecto técnico.

A atitude do Ministério da Saúde já rendeu movimentações na sociedade civil. Veículos da imprensa anunciaram uma união para a coleta de dados juntos às 27 secretarias estaduais de saúde, a fim de realizar uma divulgação mais confiável dos números do novo coronavírus no Brasil.

Outras autoridades, como o ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), e o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), também criticaram a medida. A tendência é que o assunto seja discutido nos tribunais nos próximos dias.

O Brasil tem até o momento, segundo o Ministério da Saúde, 685.427 infectados pela COVID-19, com 37.312 óbitos confirmados.

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