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Nova liderança europeia pressionará Bolsonaro na questão ambiental e indígena, dizem especialistas

© REUTERS / FRANCOIS LENOIRUrsula von der Leyen, ministra da Defesa da Alemanha, que foi nominada a próxima presidente da Comissão Europeia. Na foto ela discursa à imprensa em Bruxelas, na Bélgica, em 10 de julho de 2019.
Ursula von der Leyen, ministra da Defesa da Alemanha, que foi nominada a próxima presidente da Comissão Europeia. Na foto ela discursa à imprensa em Bruxelas, na Bélgica, em 10 de julho de 2019. - Sputnik Brasil
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A eleição da ambientalista alemã, Ursula von der Leyen, como presidente da Comissão Europeia pode impactar o Brasil sob o acordo Mercosul-União Europeia em relação às políticas ambientais do presidente brasileiro, Jair Bolsonaro (PSL).

Com uma bandeira voltada para as questões ambientais, a alemã se elegeu com apoio da chanceler Angela Merkel e também do presidente da França, Emmanuel Macron. Ursula von der Leyen é também a atual ministra da Defesa da Alemanha e cientista, com declarado apoio à pauta ambiental. Uma de suas principais promessas é fazer da Europa um continente livre das emissões de carbono.

A Sputnik Brasil entrevistou um especialistas em política internacional e também um ambientalista para analisar o impacto dessa eleição na política ambiental brasileira, uma vez que o setor é crucial para a implementação do acordo comercial entre Mercosul e União Europeia.

Amazônia e questão indígena serão fundamentais

A história de vida de Ursula von der Leyen mostra muito sobre o se deve esperar de sua postura no âmbito da relação com o Brasil e o Mercosul. É o que afirma, em entrevista à Sputnik Brasil, Leonardo Trevisan, especialista em Geoeconomia Internacional e professor de Relações Internacionais da ESPM-SP.

Trevisan recorda que a futura presidente da Comissão Europeia teve atuação importante dentro da Alemanha para mudanças na política ambiental do país.

© Foto / Isac Nóbrega/PR/Agência BrasilO ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, durante encontro de trabalho em Belo Horizonte.
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O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, durante encontro de trabalho em Belo Horizonte.

"Ela tem um passado, ela tem uma história, em que as relações ambientais marcaram os diferentes cargos que ela ocupou. Até mesmo - isso é central de ser visto - há uma luta histórica dela em torno das usinas nucleares", lembra o especialista, acrescentando que ela foi "uma espécie de pivô" na mudança da postura ambiental do partido de Angela Merkel, como no apoio à desativação das usinas nucleares na Alemanha.

Trevisan é contundente ao afirmar que o histórico da próxima presidente da Comissão Europeia mostra que a questão ambiental para ela é "basilar", ou seja, central em sua atuação.

"Nesse aspecto eu acho que o Mercosul encontrou hoje uma situação diferente e inesperada. O quadro com que ele [o Mercosul] negociou o acordo não é o mesmo quadro político que vai governar a Europa a partir de setembro. Esse quadro vai ter o seu peso", explica o pesquisador.

Além disso, Trevisan acredita que a Amazônia e a questão indígenas serão pontos de pressão com a eleição da alemã.

"A presença de Ursula na Comissão Europeia, não tenho dúvidas, terá uma força muito maior para fazer pressões, em especial sobre a Amazônia", explica o professor, concluindo que "um dos lados dessas pressões - talvez o lado mais enfático dessas pressões - estará em torno da questão indígena".

"Brasil caminha para isolamento diplomático"

Sérgio Ricardo, ecologista e gestor ambiental, além de fundador do movimento Baía Viva, no Rio de Janeiro, acredita que a atual gestão ambiental brasileira cria problemas diplomáticos para o país.

"O Brasil, desde a posse do presidente Bolsonaro, com uma política anti-meio-ambiente, tem caminhado para uma espécie de isolamento diplomático", afirma em entrevista à Sputnik Brasil.

Ricardo cita o que chamou de "aumento vertiginoso do desmatamento na Amazônia", com perda de 19 hectares de floresta a cada hora.

O ecologista ressalta que esse quadro já criou problemas internacionais, que é o caso do Fundo Amazônia, financiado por Alemanha e Noruega, que ameaçam cessar com o financiamento.

"Ao meu ver esse é um padrão que não será alterado durante o governo Bolsonaro. É um governo de extrema-direita, foi eleito com um discurso anti-populações indígenas, contra a demarcação das terras indígenas, foi eleito com um discurso contra as questões ambientais", detalha.

Para Ricardo, o governo Bolsonaro tem destruído os avanços que foram conquistados no setor ambiental desde a redemocratização.

Nesse contexto, o especialista acredita que há um olhar negativo da comunidade global sobre a situação brasileira.

"Há uma preocupação internacional com os rumos da democracia brasileira, que está ameaçada a partir da ascensão de uma força de extrema-direita", afirma.

Ele ainda acrescenta que atual política frustra expectativas anteriores sobre os rumos brasileiros.

"Esperava-se que o Brasil, a partir da assinatura do acordo do clima [...] avançasse para uma mudança do seu padrão de desenvolvimento", conclui o ecologista que teme pela vida dos ambientalistas ao longo da atual gestão.

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