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'Humor' das facções criminosas será o termômetro da violência no Ceará, diz especialista

© AP Photo / Alex Gomes/O PovoAtaques causaram pânico e destruição ao longo de janeiro no Ceará
Ataques causaram pânico e destruição ao longo de janeiro no Ceará - Sputnik Brasil
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A Força Nacional deu início à sua retirada progressiva do Ceará nesta semana, em um movimento que vai levar até dois meses. Mas quem está no estado tem dúvidas se a violência, que registrou 280 ações em 184 cidades cearenses em janeiro, está sob controle no curto, médio e longo prazo.

Até mesmo quem estuda violência e segurança pública não esconde que a insegurança ainda é muito grande. É o que relatou, em entrevista à Sputnik Brasil, o sociólogo César Barreira, coordenador do Laboratório de Estudos da Violência da Universidade Federal do Ceará (UFC).

"Isso dá uma insegurança muito grande. Nós estamos trabalhando no estado do Ceará com essa questão da existência dessas facções […] são três facções que precisam ser atacadas, elas têm disputa entre elas e, em alguns momentos elas se aliam e em outros elas não estão aliadas, então tudo isso dá um cenário muito grande dessa violência difusa que dificulta a atuação dos órgãos de segurança", avaliou.

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Duas das organizações criminosas mencionadas por Barreira são consideradas nacionais: o Primeiro Comando da Capital (PCC) e o Comando Vermelho (CV). A terceira é local, reúne criminosos mais jovens e menos organizados, mas bastante violentos. O seu nome é Guardiões do Estado (GDE).

Foi a união destas três facções – e uma parcela pequena da Família do Norte (FDN) – que deu início aos episódios de violência, anteriormente protagonizados por disputas por pontos do tráfico de drogas entre as três facções no estado. O que levou à união? Uma fala do policial civil Luís Mauro Albuquerque, que assumiu a Secretaria da Administração Penitenciária.

"Me parece que o que desencadeou os ataques foi essa fala do secretário", ponderou o sociólogo da UFC, relembrando três medidas anunciadas por Albuquerque ao assumir o cargo, convidado pelo governador reeleito Camilo Santana (PT):

1 – Não considerar diferenças por facção dentro dos presídios;

2 – Medidas para o bloqueio dos celulares;

3 – Transferir os líderes das organizações criminosas para presídios federais de segurança máxima;

"Acho essas três medidas corretas, todos nós sabemos que, por exemplo, essa separação por facção pode, de certa forma, deixar uma tranquilidade em um primeiro momento, a questão de evitar carnificinas, mortes, dentro dos presídios, mas essa diferença ou separação leva a um certo fortalecimento dessas facções", acrescentou Barreira, elogiando a postura de Santana de não recuar.

Ao longo do mês de ampla violência no Ceará, foi comum ver pichações nas quais os criminosos garantiram que não parariam de atacar ônibus do transporte público, repartições públicas ou pontos públicos, como viadutos, até que Albuquerque – que fez fama de "linha-dura" no Rio Grande do Norte – deixasse o cargo. E isso não ocorreu.

O envio de 406 homens da Força Nacional foi autorizado pelo secretário nacional de Segurança Pública, general Guilherme Theophilo, filiado ao PSDB e derrotado por Santana na disputa pelo governo do Ceará. Entretanto, o petista queria que a tropa ficasse pelo menos mais 60 dias, porém soube pela imprensa apenas que a Força Nacional estava de saída do estado, há dias sem episódios de violência.

Contudo, a falta de sintonia exposta pela saída da tropa do Ceará ajuda a entender porque o momento é de avaliação, a fim de buscar soluções para o combate às facções criminosas e o seu poderio nas ruas. Na opinião de Barreira, só um plano nacional de segurança pública poderá dar um norte para a área em todo o Brasil. Por ora, o estado deve olhar para a sua própria atuação.

"Primeiro, eu acho que a questão das facções, do tráfico de drogas e armas só serão combatidas quando nós tivermos uma política nacional de segurança pública. E nesse sentido o nosso governador tem batido nessa tecla, que não são questões locais, mas sim nacionais, e por isso é preciso uma maior participação da União. Eu defendo, além de uma política nacional de segurança pública, um certo pacto federativo nessa área de segurança, no qual fique claro qual é o papel da União, dos estados e dos municípios", explicou.

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Mas a pergunta que não quer calar é uma só: a situação já está controlada o suficiente para a saída da Força Nacional? O coordenador do Laboratório de Estudos da Violência da UFC pontuou que é difícil definir um prazo para uma atuação como essa, mas que o momento de "paz" abre espaço para que as autoridades se articulem de maneira mais efetiva.

"É um momento muito singular para que a gente possa analisar friamente o que nós poderíamos fazer. Para mim, é uma avaliação muito séria da segurança pública do estado, se a política [na área] é a mais correta, é o momento em que nós deveríamos reforçar cada vez mais o sistema de inteligência dos órgãos de segurança pública, bem como fazer um planejamento mesmo […] é o momento em que todas as forças do estado se unam, as universidades têm muito a dizer sobre essa situação. No laboratório que eu coordeno tem feito pesquisas sobre essa questão das facções, então eu acho que é o momento para termos a união dessas forças", destacou.

As autoridades cearenses revelaram que 466 pessoas foram presas por envolvimento nos ataques de janeiro. Entretanto, a incerteza se mantém como a tônica, refém do "humor" das facções criminosas que estão presentes no estado.

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