A previsão, com tom apocalíptico, não é de nenhum astrólogo ou místico. Foi feita por Luiz Cesar Fernandes, criador dos bancos Pactual e Garantia, e desde que foi postada em rede social na última quarta-feira vem gerando um intenso debate entre economistas. Ouvido pela Sputnik, Istvan Kasznar, mestre em Economia e professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV), diz que, embora a previsão de Fernandes tenha um tom alarmista ela reforça o alerta que vem sendo dado por economistas há algum tempo: a necessidade de o governo fazer uma política fiscal séria e parar de sacrificar a população com mais impostos.
"Esses são déficits públicos gigantescos que se tornam maiores depois de declarações oficiais. São heranças do governo Dilma Rousseff, no mínimo. Eram R$ 175 bilhões de déficit em 2015, R$ 190 bilhões em 2016, este ano falava-se em R$ 136, depois pulou para R$ 139, aumentou para R$ 159, daqui a pouco foi R$ 169. Ninguém sabe onde é o teto e onde vai parar isso. O que está sendo dito pelo Ministério da Fazenda, às claras e em bom português, é que existe um desgoverno, sem capacidade de controle, sem capacidade de gerar fixidez de reducionismo no déficit público e incapaz de mostrar outra coisa que não seja um déficit primário, que continua um desastre. Isso é consequência de uma política assistencialista, onde se pensa que dinheiro nasce em árvore", diz o economista.
"De 45% a 47% do valor arrecadado pela União é pago em juros e amortização da dívida interna pública, o que é absurdo. É ótimo para banqueiro e para quem vive de renda e um desastre para a nação, que precisa de investimentos, empregos e riqueza. O Luiz Cesar é mais um na multidão de pessoas que faz um alerta: a possibilidade de um calote que se gera em função de uma má prática contínua no processo de gestão das contas públicas e do Estado no Brasil."
Kasznar diz que o que se vê são tentativas isoladas de salvar as contas, ora liberando recursos das contas inativas do FGTS, ora recursos do PIS/Pasep, na tentativa de reduzir os níveis de endividamento, das famílias que, apesar dos esforços continuam elevados, tentando aquecer as vendas no comércio, que em julho deste ano, por sinal, teve o pior desempenho desde 2003, com queda em torno de 7%. O economista também critica a análise positiva do governo, quando comemora um avanço de 0,5%, 0,7% da economia, diz ele, afirmando que o patamar atual de endividamento de 75% do PIB é muito elevado.
"Não é tão terrível quanto nos Estados Unidos (102%), Dinamarca (117%) e Itália (108%), mas há uma diferença: nos EUA, eles emitem dólar em divisa e o mundo aceita. No Brasil, a gente emite em real — e nem dá para emitir porque a Casa da Moeda também quebrou e vai ser privatizada — e isso implica que não temos esse grau de liberdade para emitir dinheiro e dizer que nossa moeda é divisa. O Brasil está acostumado há décadas a viver num regime de classe média com lamúrias e uma elite acompanhando com muito prazer taxas de juros estratosféricas que lhes asseguram mais retorno através de aplicações financeiras do Tesouro Direto, CDBs (Certificados de Depósito Bancário) e uma população miserável que se contenta com as migalhas de um assistencialismo mal engendrado que acaba quebrando o Estado."
Para o economista da FGV, a prática de manifestações nas ruas é muito sadia, necessária mas é insuficiente para fazer com que os membros da elite do poder mudem a governança.
"Estamos necessitando, há muitos anos, da mudança das estruturas de Estado que não envolvem apenas o revisionismo generalizado de cargos, postos, empresas, mas uma arquitetura de Estado que modifique as formas de evolução do regime eleitoral. das formas de atuação da economia e facilitar a vida da classe média, que é a grande engendradora das pequenas e médias empresas, que é de onde sai a riqueza. O Estado não é provedor, é gerador de serviços em função do provisionamento de recursos oriundo da iniciativa privada", conclui o economista.
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