Liderada pelo vice-ministro de Comércio Exterior, Juan Carlos Pineda, uma comitiva mexicana esteve em Brasília mantendo encontros com autoridades e lideranças empresariais para ampliar a lista de produtos isentos de tarifas entre os dois países, que têm nos acordos automotivos um de seus pilares. Itens ligados à cadeia de montadoras de ambos países representaram quase 50% dos US$ 3,8 bilhões vendidos pelo Brasil ao México no ano passado. O acordo, vigente desde 2015 e que termina em 2019, permite um grande intercâmbio de produtos ligados à indústria automotiva com a venda de peças e equipamentos, veículos, ônibus, motores e outros insumos.
Para o professor do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Luiz Carlos Prado, o México fez, na década de 90, uma opção por aproximar-se dos Estados Unidos e estabelecer, através do Nafta, um acordo de longo prazo na expectativa de que isso iria trazer importantes ganhos para a sociedade mexicana e possibilitar uma convergência do nível de renda do México com o dos EUA, o que acabou não se confirmando.
"Essa relação bilateral não beneficiou a agenda de desenvolvimento do México, embora tenha aumentado muito suas exportações aos EUA e ampliado a pauta de exportações de produtos manufaturados. Os efeitos para a economia doméstica não implicaram em um crescimento mais acelerado e nem uma mudança dramática nos níveis de miséria e concentração de renda no país. Com a eleição de Trump, quem dá as costas para o acordo não é o México, mas são os Estados Unidos, que agora sinalizam a criação de questões que seriam ainda mais prejudiciais para os interesses do México, que tem quase 80% de suas exportações para os EUA", observa o professor.
Prado diz que, neste sentido, é muito positiva a reaproximação do México ao Brasil. Segundo ele, a pauta de exportação brasileira para o México ainda está muito restrita à área automobilística ligada ao comércio das transnacionais do setor. Prado defende que essa exportação seja diversificada e que vá além do acordo automotivo. O professor ressalta, porém, que essa aproximação acontece em um momento muito difícil para o Brasil, "onde a qualidade da política externa piorou dramaticamente com o novo governo".
"Uma agenda ideológica tem sido implementada às custas de um maior pragmatismo que caracterizava a diplomacia brasileira não apenas nos governos anteriores do PT mas historicamente, passando por Fernando Henrique Cardoso e outros governos. Há claramente na gestão Temer uma política externa que não faz jus à diplomacia brasileira, muito agressiva e sem dar continuidade a uma agenda que foi muito bem-sucedida nas relações econômicas internacionais do Brasil", afirma Prado, observando que, apesar disso, a relação entre Brasil e México é estratégica, independe de uma relação entre governos, é se consolida como uma entre Estados.
Seja como for, especialistas concordam em um ponto: o Brasil precisa recuperar os índice de participação que tinha nas importações mexicanas. Em 2005, a indústria made in Brazil respondia por 2,4% das importações mexicanas, percentual que recuou para 1,2% em 2016.
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