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Cracolândia se consolidou em 20 anos e não acabará em 20 dias, diz ex-usuário (VÍDEO)

© Foto / Reprodução / Facebook Márcio AméricoEscritor, humorista e ex-usuário de crack Márcio Américo
Escritor, humorista e ex-usuário de crack Márcio Américo - Sputnik Brasil
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A polêmica em torno da ação policial e governamental para pôr fim à Cracolândia, no centro de São Paulo, muitas vozes vieram a público para apoiar ou criticar a iniciativa. Uma delas é de alguém que já esteve lá e, por conhecimento de causa, advoga sobre o assunto com uma palavra: informação.

Em entrevista exclusiva à Sputnik Brasil, o escritor Márcio Américo – também humorista e ex-usuário de crack – falou a respeito do seu vídeo que, em tom de desabafo, já alcançou mais de 40 mil visualizações no YouTube e outros 1,5 milhão de acessos no Facebook. O título é claro: “Cracolândia para Iniciantes”.

“Tantos acessos mostram que as pessoas estão interessadas pelo tema”, afirmou Américo. No vídeo, ele procura esclarecer algumas impressões que considera equivocadas pelo grande público, como as campanhas que trabalham ser articulação e a ‘politicagem’ que impede uma solução.

“Seria pretensão minha falar em solução, até porque não é a minha área. Mas acho que essa situação [em São Paulo] só vem servindo para guerra política. Precisamos de uma trégua para buscar uma solução. A primeira coisa é que deve ser algo de longo prazo, demora. É um lugar que levou 20 anos para se consolidar e não vai acabar em 20 dias”, avaliou.

Um das maiores polêmicas em torno da operação protagonizada pelo prefeito de São Paulo, João Dória, e pelo governador de São Paulo, Geraldo Alckmin – ambos do PSDB –, diz respeito à falta de planejamento e ao forte esquema policial que tentou expulsar os usuários, enquanto se tentou prender traficantes que atuam na área. O problema é que houve uma migração e divisão em grupos menores pelo centro da cidade, o que está longe de resolver a questão.

Outro aspecto da polêmica envolve as internações compulsórias, apoiadas por Doria, mas que a Justiça paulista vetou. De acordo com Américo, há aspectos de tais internações que precisam ser considerados.

“Não é nenhuma garantia de ajuda ao dependente químico, mas não sou 100% contra isso. As pessoas não entendem que a ideia não é só ajudar quem está na rua, mas também o morador que poderá sair de casa, ou a família que terá um pouco de paz ao saber onde esse dependente está. Com uma boa equipe terapêutica, pode ajudar na recuperação. Mas não do jeito que foi feito, tentando pegar [os usuários] pelo laço”.

Luta pessoal

Relembrando a própria experiência na Cracolândia, o escritor contou que passou três anos na área, alternando períodos de até três dias nas ruas e outros perto da família. O apoio em casa, aliás, foi fundamental para Américo abandonar o vício em crack, ainda no início dos anos 2000. A porta de entrada, segundo ele, foi a bebida alcóolica.

“Comecei bebendo e aí entrou essa droga no caminho. Muitos dizem que a maconha é a porta de entrada para outras drogas, mas eu acredito que o álcool é pior. Dificilmente alguém entra nessa sem ter bebido, é onde começa e muitas vezes termina. Fico com pena dos que estão lá e que não têm uma família como a minha, que me permitiu renascer”, comentou.

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Como tenta esboçar no seu vídeo, Américo reforçou que é preciso informar a sociedade como um todo, desde os usuários (“muitas vezes não sabem que estão doentes”), passando pelas famílias e pela comunidade, esta em várias situações avessa ao problema por preconceito e falta de conhecimento.

“O Doria se mostrou uma pessoa extremamente desinformada e muito mal assessorada. Foi uma ação desastrosa. É preciso começar a informar pela administração e espalha isso. Na internet também se reproduz muita informação equivocada sobre o problema. É um tema delicado e quem está lá não é um zumbi, mas sim um ser humano que foi vencido por uma doença. Ninguém opta em viver naquele lixo”, concluiu.

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