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Nova Rota da Seda dá aula de globalização aos EUA

© AFP 2023 / Damir SagoljPresidentes Vladimir Putin e Xi Jingping acenam durante evento em Pequim
Presidentes Vladimir Putin e Xi Jingping acenam durante evento em Pequim - Sputnik Brasil
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"A Nova Rota da Seda é um movimento geopolítico que o presidente Donald Trump deixou a bola cair. Isso é óbvio. Ele (Trump) ainda tem um pouco do ranço antiglobalização. A China aproveitou, já que eles não quiseram fazer o TPP (Tratado Transpacífico, no qual a China não estava incluída), e ressuscitou o One Belt, One Road"

A opinião é de Roberto Dumas, mestre em Economia pela Universidade de Fudan, em Xangai, e professor do Ensino Superior em Negócios, Direito e Engenharia (Insper), que falou com exclusividade à Sputnik Brasil sobre esse megaprojeto que abarca 70 países, desde a Ásia, passando pela Eurásia, Oriente Médio e parte da África, uma área que abriga 60% da população mundial e 25% do comércio global de bens e serviços. O assunto ganha a cada dia mais importância mundial, a ponto de o Conselho Empresarial Brasil-China discutir esta semana, em São Paulo, as implicações decorrentes e como o Brasil pode se beneficiar deste novo realinhamento, e a Câmara dos Deputados lançar a Frente Parlamentar Brasil-China.

Dumas, que chegou da China há três dias, diz que o assunto é o dominante em toda a mídia chinesa. O especialista chama a atenção para o fato de que o One Belt, One Road não pode ser visto apenas pela ótica do investimento de US$ 1 trilhão, mas também pelo lado do aumento da globalização e da troca de conhecimento. Por fazer parte dos BRICS, segundo ele, o Brasil também está correndo atrás. 

"A China precisa arranjar novos mercados, e nada melhor do que abrir relacionamentos com todos os países do One Belt, One Road. A China precisa de novos polos de investimento e, abrindo esses canais com esses países, ela consegue também diversificar as reservas internacionais. Tem um lado geopolítico, uma espécie de soft power, porque ela ganha uma influência muito maior junto com a Rússia e do lado econômico", diz o economista, que cita os bons exemplos da China como fonte de inspiração de planejamento econômico para o Brasil.

"Não vejo necessidade do Brasil ter um plano quinquenal, mas o problema do Brasil é que estou preocupado com a próxima capa da Veja. Eles ficam olhando, cinco, dez, 15 anos à frente e eu fico pensando no que vai acontecer na próxima semana. É uma coisa que tem planejamento, você tem vontade de investir, você tem confiança.  Não adianta: economia é confiança, e o Brasil de alguma maneira tem que se aproveitar disso", afirma Dumas.

Outro ponto interessante, segundo o professor do Insper, é que os chineses relevam toda a crise política no Brasil. A prova disso são os preparativos para o lançamento de um fundo de US$ 25 bilhões que a China fará em parceria com o país para investimentos em projetos de infraestrutura e logística, garantindo a exportação de commodities essenciais para a China, como soja e minério de ferro pelos portos.

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Pelo estatuto, o comitê gestou terá seis membros, divididos igualmente entre representantes dos dois países. Para Dumas, há alguns fatores que indicam que o fluxo de investimento chinês tende a aumentar no país, como nas obras públicas, uma vez que as maiores empreiteiras brasileiras passam por problemas financeiros depois de envolvidas nas investigações da Operação Lava Jato. Várias já colocaram ativos à venda, o que é uma boa oportunidade para os chineses, que contam agora com um câmbio favorável. Na área de energia o mesmo acontece, lembra Dumas, citando a venda da CPFL, da Camargo Correa, à State Grid.

Ainda com relação à Nova Rota da Seda, o economista vê que a China hoje está à frente dos EUA no entendimento dos benefícios da globalização.

"É óbvio que a globalização beneficia a maioria. Você vai trazer produtos melhores, mais baratos e usar sua mão de obra para aquilo que ela sabe fazer. Macroeconomicamente já está provado. Olha a Coreia do Sul, olha Taiwan, as que mais se abrem. É o princiípio Jumpiteriano: a criatividade tem que ser destrutiva, não no sentido de destruir o próximo, mas quem está lá em cima tem que ser sempre testado, e a China percebe isso: você precisa cada vez mais de competição, e a única maneira é abrindo cada vez mais as fronteiras", finaliza Dumas.

A Sputnik Brasil entrou em contato com Conselho Empresarial Brasil-China, que não dispunha de nenhum porta-voz para comentários nesta segunda-feira. A Câmara Chinesa de Comércio do Brasil e a Câmara de Comércio e Indústria Brasil-China também foram contactadas, mas não retornaram os  pedidos de entrevista até o fechamento desta edição.

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