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Baleia Azul: Criminosos já estimulam vítimas a antecipar suicídio, diz delegada (VÍDEOS)

© Foto / Pixabay / CC0 Public DomainBaleia azul
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A 50ª e última etapa do chamado ‘Desafio da Baleia Azul’, um jogo virtual em que os participantes são estimulados a se automutilarem e cometerem suicídio, pode ser adiantada caso as vítimas queiram. É o que declarou a delegada Fernanda Fernandes, da Delegacia de Repressão aos Crimes de Internet (DRCI) da Polícia Civil do Rio de Janeiro.

Em entrevista exclusiva concedida à Sputnik Brasil nesta quarta-feira, a delegada revelou que o estímulo ao suicídio foi relatado por uma das testemunhas ouvida nesta semana pelos investigadores. No Estado do Rio já foram confirmados pelo menos dois casos de jovens envolvidos com o jogo, tendo nenhum deles resultado em morte.

“No Rio ainda não temos casos de morte, o que em outros estados infelizmente já temos. Às vezes não dá tempo [de salvar as vítimas] porque o jogo [se constitui] de 50 etapas. A última etapa é a morte, é o suicídio, e essas etapas podem ser inclusive antecipadas. Ontem [terça-feira], em um depoimento nos foi falado que se a vítima quiser ela pode antecipar a 50ª etapa para 10ª, 20ª, e antecipar a morte durante o jogo e muitas vezes a gente não tem esse tempo”, disse.

Após pelo menos três casos terem sido vinculado ao Desafio da Baleia Azul pelo país na semana passada – um na Paraíba, um em Mato Grosso e outro em Minas Gerais –, os relatos em outras localidades elevaram o número consideravelmente em todo o Brasil nesta semana. Só no Paraná a polícia investiga sete casos que podem ter vinculação com o jogo, porém não há um número nacional oficial de quantas vítimas o desafio já fez até o momento.

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A polícia do Rio iniciou as investigações há duas semanas, tendo como principal prioridade a identificação das vítimas dos chamados curadores, que são os criminosos que seduzem os jovens a aderirem ao desafio, para depois fazerem ameaças contra as vítimas e seus familiares – expondo dados pessoais e ameaçando-as de morte –, impedindo assim que os envolvidos abandonem o jogo.

Fernanda Fernandes revelou que o processo de triagem e investigação vem sendo lento não pela falta de esforços da polícia, mas sim pela ausência de apoio das próprias vítimas – majoritariamente crianças e adolescentes – e seus familiares. Segundo contou a delegada, muitas vezes os pais até percebem mudanças de comportamento em seus filhos, mas minimizam as reais causas.

“A maioria dos casos [que se tem conhecimento] não nos foi informado por ninguém, nós é que estamos chegando aos casos por conta própria, por meio de investigação mesmo, então é um trabalho um pouco mais demorado. Quando a vítima ou algum familiar vai até a delegacia, é mais fácil a gente identificar não só os autores como toda a materialidade do crime. Facilita a investigação, que está sendo diária através de rondas virtuais”, comentou.

Cuidados

Os investigadores alertam que, embora o perfil das vítimas seja parecido – jovens vulneráveis, com problemas emocionais e psicológicos –, não se pode generalizar quanto ao que leva as vítimas a aderirem ao Desafio da Baleia Azul. Nem sempre um adolescente depressivo será o único a ser procurado e coagido por curadores do jogo. A delegada da DRCI relembrou que a vítima vinculada ao desafio, que morreu afogada em Mato Grosso, tinha um perfil extrovertido, conforme já foi noticiado pela imprensa local.

“A gente tem que lidar com todo o tipo de situação, não só um perfil único de vítima. Nesses casos aqui do Rio nós estamos lidando com duas vítimas com esse perfil [depressivo]. A gente não sabe ainda se elas já tinham esse perfil antes ou só aconteceu depois que entraram no jogo. Até porque depois que entra no jogo o adolescente não consegue sair, sofre muita pressão psicológica, muita coação, então ela não consegue se livrar mais do jogo e deixa o adolescente com um comportamento mais introspectivo e mais depressivo mesmo”.

Assim, a atenção dos pais e responsáveis precisa ser redobrada, sobretudo quando a criança ou adolescente tem acesso irrestrito às redes sociais. É por ela que os curadores agem, buscando vítimas para o jogo. Quando dentro do desafio, a vítima tende a se sentir culpada.

“[A vítima] pensa: ‘já que alguém vai ter que morrer, que seja eu. Fui eu quem escolhi estar dentro do jogo’. Só que essas ameaças fazem com que os jovens se sintam coagidos, ficam com medo não só de contar aos pais mas também de procurar a delegacia, então isso acaba dificultando a investigação”, ponderou Fernanda Fernandes, que também alertou para a postura de algumas vítimas e seus pais.

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“Até quando eles chegam à delegacia, em um primeiro momento eles tendem a negar a sua participação no jogo, então a gente através do setor de inteligência da delegacia é que estamos conseguindo identificar […]. Os pais não acreditam que o adolescente esteja envolvido nisso, ainda que apresente um comportamento mais introspectivo, mais depressivo. Às vezes sequer percebem as mutilações pelo corpo ou as lesões nos braços, nas pernas, mesmo quando os adolescentes só andam de casacos e os pais não conseguem perceber e não veem relação com o jogo. Então acabam não procurando a delegacia porque não acham que é um problema muito grande, que aquilo ali vai passar, mas às vezes não passa”, explicou.

Nessa “corrida contra o tempo”, como descreveu a delegada em relação ao trabalho de investigação para salvar vidas, o papel e perfil dos curadores ainda não está completamente claro. A perspectiva de foco nas vítimas não é de apenas impedir o desfecho fatal pregado pelo jogo, mas também facilitar justamente a coleta de provas que permitirá a identificação daqueles que estão por trás do desafio.

Fernanda Fernandes ainda fez alguns alertas, tanto para jovens quanto para pais que estejam envolvidos de alguma forma com o Desafio da Baleia Azul.

“Para o jovem, [a recomendação] é para não entrar mesmo no jogo. De jogo não tem nada, ali se trata de um conjunto de atos criminosos que os adolescentes são envolvidos até por serem vulneráveis, inexperientes, são seduzidos a entrar. Não tem desafio nenhum, não é entre participantes. O objetivo é a prática de várias lesões e a morte. Assim, não tem brincadeira. E aos pais a orientação é prestarem mais a atenção nos seus filhos, porque eles vão indicando uma mudança de comportamento [tanto] antes como durante o jogo. Notar se está mais introspectivo, mais deprimido, mais calado, se está mais noturno e praticando mais atos de madrugada, fiscalizar as redes sociais que são utilizadas por esses menores porque é por elas que eles se comunicam com esses curadores e praticam todas essas condutas”.

Uma vez identificados, os curadores e demais nomes por trás do desafio podem responder pelos crimes de associação criminosa, ameaça, lesão corporal e homicídio consumado ou tentado, de acordo com a delegada do DRCI. Denúncias no Rio de Janeiro podem ser feitas pelo e-mail drci@pcivil.rj.gov.br e pelo telefone (21) 2202-0280, das 9h às 17h.

E aos que ainda acham que a Internet é uma “terra sem lei”, a delegada deixa um recado. “Tudo o que é praticado na Internet é investigado, é apurado. As pessoas são identificadas, sempre há um esforço da polícia nesse sentido”.

CPI da Baleia Azul

No Congresso Nacional, a notícia dos casos envolvendo o jogo já chegaram ao conhecimento de deputados e senadores. Nesta quarta-feira, o senador Magno Malta (PR-ES) defendeu a criação de uma CPI para apurar os casos de maus tratos praticados contra crianças e adolescentes no país.

“[O Desafio da Baleia Azul] leva o jovem à depressão, faz desafios, e quando ele tenta sair, quem está por trás do jogo, começa a ameaçar de morte a família dele”, comentou Malta. Já o colega de Senado José Medeiros (PSD-MT) defendeu a punição dos responsáveis daqueles que induzem ou instigam alguém a cometer suicídio.

“Você, que está mexendo no jogo, saiba que está cometendo um crime esculpido no artigo 122 do Código Penal brasileiro, o de induzimento ou instigação ou auxílio ao suicídio, com pena prevista de reclusão de dois a seis anos, podendo a pena ser duplicada caso a vítima seja menor de 18 anos, o que na maioria das vezes é o caso”, afirmou.

Há a possibilidade da CPI, se for levada adiante, ser uma comissão mista, com a participação de deputados federais. A deputada Eliziane Gama (PPS-MA) defendeu ainda que a Polícia Federal passe a apurar os casos envolvendo o jogo. Um ofício foi enviado ao diretor-geral da PF, Leandro Daiello, com o pedido. “É um jogo que está trazendo pânico e terror para as famílias brasileiras”, disse a parlamentar.

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