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Mulheres partem para cima e dizem não à violência

© Rovena Rosa/Agência BrasilMulheres protestam em SP contra o aumento dos casos de violência
Mulheres protestam em SP contra o aumento dos casos de violência - Sputnik Brasil
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Manifestações como a deste domingo, 23, reunindo milhares de pessoas na Avenida Paulista, em São Paulo, protestando contra o aumento da violência contra a mulher extrapolaram as fronteiras do Brasil e da América Latina e crescem, junto com a violência, em todo o mundo.

Os protestos que voltaram a aumentar após o assassinato de Lúcia Pérez, uma jovem argentina de 16 anos, em Mar del Plata comoveram todo o mundo devido à brutalidade do crime: a jovem foi drogada, estuprada e empalada até a morte em 8 de outubro. No último domingo, um novo caso estarreceu os argentinos: um professor de artes marciais assassinou a ex-companheira, a irmã dela e a avó, além de ter atirado e esfaqueado uma bebê de cinco meses, que se encontra entre a vida e a morte. O crime ocorreu na província de Mendoza e o suspeito foi identificado e detido.

No Brasil, o quadro também é preocupante, Levantamento realizado pela Faculdade Latino-americana de Ciências Sociais (Flacso), a pedido da Organização das Nações Unidas (ONU), revela que o Brasil ocupa o quinto lugar no ranking global de homicídios de mulheres entre 83 países, ficando atrás de nações como El Salvador, Colômbia, Guatemala, e Rússia. Os dados foram colhidos a partir de dados levantados em 2013 pelo Ministério da Saúde. Hoje o Brasil é um dos 15 países da América Latina que criminalizam o feminicídio.

Em entrevista à Sputnik Brasil, a socióloga Jacqueline Pitanguy, da Cépia – Cidadania, Estudos, Pesquisa, Informação e Ação observa que as mulheres estão indo às ruas, protestando se mobilizando não só quando acontece um crime em uma determinada cidade ou em determinado país. Os movimentos, segundo ela, já têm um caráter internacional.

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Ban Ki-moon condena violência contra mulheres

"Isso denota uma característica atual e importante: o movimento das mulheres é uma força internacional que é capaz de se mobilizar se unir e ter visibilidade em momentos exponenciais de violência contra a mulher como nos casos do que aconteceu com a menina em Mar del Plata e agora em Mendonza.É uma voz que clama frente ao imenso ódio que esse tipo de crime demonstra contra a mulher e ultrapassa de muito o que você imagina num caso comum de homicídio."

Jacqueline diz que o homicídio e diferente do feminicídio. E explica:

"Você está andando na rua, uma pessoa vem para você com um revólver, você se defende e termina matando aquela pessoa até sem intenção. Quando você vê esse tipo de ódio dirigido à mulher, há aí um agravante. O homicídio tem atenuantes e agravantes, já o feminicídio é perpetrado contra a mulher pelo simples fato dela ser mulher."

A socióloga lembra que o primeiro grande caso que deu origem à expressão aconteceu na década de 90 no Canadá, quando num departamento técnico de uma universidade, um estudante que prestou concurso e não foi aceito invadiu à noite o dormitório das estudantes e matou 14.

Pesquisa realizada pelo Instituto DataFolha no final de setembro mostra que um em cada três brasileiros culpa a mulher em casos de estupro, "por não se dar ao respeito". A pesquisa, encomendada pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, ouviu 3.625 pessoas em 217 cidades no país. Para a socióloga da Cépia, culpar a mulher pelo estupro é uma questão cultural, mas que não é só do brasileiro.

"Essa é uma questão universal que se dá com maior ou menor ênfase em certos países, em certas sociedades e em certos momentos históricos. Por uma cultura machista e patriarcal, violências as mais diversas perpetradas contra as mulheres são justificadas. Temos séculos no Brasil dessa cultura, inclusive em leis. Até a Constituição de 1988, a mulher era colocada como cidadã de segunda categoria no país."

Jacqueline finaliza afirmando que as mudanças que se colocam numa perspectiva histórica são recentes ainda no Brasil.

"A cultura do machismo, do patriarcalismo, que é milenar, ela também é reproduzida todos os dias em filmes, mensagens, músicas e até mesmonas religiões. É preciso também reparar nos 70% que já não pensam assim."

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