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Vender o Brasil lá fora é fácil, difícil é explicar os números da economia brasileira

© Beto Barata/PRPresidente Michel Temer durante reunião do Brics, na China
Presidente Michel Temer durante reunião do Brics, na China - Sputnik Brasil
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O presidente Michel Temer e a comitiva brasileira encerraram neste fim de semana em Goa, na Índia, a participação na 8ª Cúpula dos BRICS, mostrando aos investidores internacionais que o Brasil está se abrindo para o mundo e fazendo reformas políticas e econômicas que possam reinserir o país no ranking da atratividade para o capital externo.

Temer mostrou o compromisso do atual governo com a aprovação de 34 projetos em áreas de infraestrutura, rodovias, energia, petróleo, gás, entre outras, a desburocratização de processos e total segurança jurídica para novos investimentos. Esse mesmo discurso será apresentado no Japão, onde a comitiva brasileira terá uma série de encontros com autoridades, empresários e investidores nesta terça-feira, 18.

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Na avaliação de alguns analistas, contudo, será difícil convencer os investidores estrangeiros que o Brasil é hoje um paraíso para o capital externo quando o país ainda ostenta inflação de dois dígitos, taxa de desemprego que afeta 12 milhões de brasileiros e tem uma previsão de queda do Produto Interno Bruto (PIB) entre 3,3% e 3,8% este ano. Um dos grandes trunfos desse discurso é aprovação, praticamente certa da Proposta de Emenda Constitucional 241 (PEC), que congela por 20 anos os gastos público. O projeto previa uma revisão após dez anos, mas na semana passada o próprio Temer considerou a hipótese de reduzir esse prazo para quatro ou cinco anos.

Na avaliação de Marcelo Caparoz, economista da RC Consultores, é ruim tentar convencer investidores que o país terá uma ferramenta durante 20 anos para reequilibrar as contas públicas e no meio desse caminho já começar a surgir ruídos sobre uma possível redução desse tempo. 

"As expectativas acabam sendo afetadas, e esse é o grande ponto que o Brasil vive hoje: os indicadores do Brasil são muito ruins, do PIB, da indústria, do aumento do desemprego. O Brasil continua sendo um país com muitas oportunidades de investimento e crescimento. É preciso, porém, organizar alguns setores, principalmente das contas públicas para voltar a ter um ambiente competitivo e aberto à produção."

Segundo o economista, tudo passa por expectativas, e quando se começa a mudar o discurso ao longo de um projeto, isso em algum momento pode pegar mal. 

"É muito importante nesse momento, principalmente quando se está falando com investidores internacionais, porque eles estão preocupados com o futuro do Brasil, daqui a cinco, dez anos. Governo e Banco Central devem deixar muito claro quais os planos para o futuro e a vontade política de assegurar esse projeto."

Para o economista, uma dificuldade hoje do empresariado brasileiro é o acesso ao crédito, o que de certa forma incentiva os investimentos internacionais no Brasil. 

"Hoje se você tem uma empresa e precisa tomar um empréstimo para aumentar a capacidade de produção ou investir na renovação de maquinário, o custo é muito elevado. Fazer investimento no Brasil custa muito caro, e isso impede que as fábricas brasileiras se renovem e continuem competitivas nesse mercado internacional. A questão do investimento externo acaba sendo uma maneira de corrigir esse problema."

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Na opinião de Caparoz, esses recursos devem ser direcionados à ampliação da infraestrutura produtiva no Brasil: aeroportos, portos, estradas, comunicação. Segundo ele, o Brasil precisa dessa parceria com o mercado internacional, já que não consegue enfrentar de igual para igual os demais países que têm uma infraestrutura produtiva muito mais eficiente.

Com relação ao esforço empreendido pelo Brasil de ampliar o leque de acordos comerciais, como o em andamento entre Mercosul e União Europeia (EU), o economista da RC Consultores o grande problema dos sócios do bloco latino-americano é que todos são grandes exportadores de commodities agrícolas, que esbarram no protecionismo dado ao agronegócio na Europa.

"Aumento de exportação de produtos com valor agregado não se resolve de um ano para o outro simplesmente com uma canetada. Tem que melhorar toda a infraestrutura de produção no país. Produzir no Brasil e caro, burocrático, com a quantidade de impostos que se tem de pagar, a dificuldade de entender a legislação tributária, a dificuldade de se conseguir fazer uma entrega no interior do país. Tudo isso vai tirando a competitividade da economia brasileira no mercado mundial." 

A receita apresentada por Caparoz envolve aumento de competitividade, redução de ineficiências, reforma tributária, melhora da infraestrutura de logística e reforço dos laços de comércio internacional. 

"Já temos importância mundial no mercado de commodities de alimentos, mas o Brasil tem capacidade de avançar em outros setores com manufaturados de maior valor agregado. Não basta ficar tentando negociar em grandes blocos, dependendo de decisões do Mercosul. É preciso ter coragem e tomar medidas que podem, num primeiro momento, dificultar a vida de alguns setores, mas no médio e longo prazo á tendência é que você viabilize um mercado mais competitivo, o que vai garantir ao Brasil um espaço maior no mercado mundial."

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