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A Polícia está perdendo a ‘guerra do Rio’?

© AP Photo / Leo CorreaPoliciais da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) revistam moradores do complexo de favelas do Alemão no Rio de Janeiro
Policiais da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) revistam moradores do complexo de favelas do Alemão no Rio de Janeiro - Sputnik Brasil
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A saída de José Mariano Beltrame do comando da Secretaria de Segurança Pública do Estado do Rio de Janeiro e a do chefe da Polícia Civil, Fernando Veloso, anunciadas nesta semana, causaram grande consternação. Eles perderam a guerra?

Em entrevista exclusiva à Sputnik, o Delegado Wladimir Reale, presidente da Adepol (Associação dos Delegados de Polícia Civil do Rio de Janeiro), comenta a situação na Segurança Pública estadual:

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“Todos nós sabemos que o Estado do Rio de Janeiro está em crise permanente. Mas a saída do Dr. José Mariano Beltrame, embora não tenha sido surpresa, aconteceu num momento inesperado. Eu, que passei pela Marinha de Guerra do Brasil, aprendi que não se deve abandonar o barco no meio do maremoto. E isso aconteceu com Beltrame. Em relação ao Dr. Fernando Veloso, o que aconteceu foi uma mera consequência. Ele fazia parte da equipe do Dr. Beltrame e entendeu que também deveria sair para deixar o novo secretário de Segurança, Dr. Roberto Sá, bem à vontade para a escolha de sua equipe.”

Para Reale, o afastamento voluntário de Beltrame da Secretaria de Segurança Pública não chegou a ser surpresa:

“Isso é resultado de um longo processo. A saída do Dr. Beltrame não aconteceu da noite para o dia. A atividade do secretário estadual de Segurança Pública, do chefe da Polícia Civil e também do comandante geral da Polícia Militar é muito difícil. Havia uma expectativa de que estes desligamentos poderiam ocorrer, mas não no momento em que ocorreram.”

Muito debatido na gestão de José Mariano Beltrame, o projeto das UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora) também é comentado pelo Delegado Wladimir Reale:

“Eu não considero que este projeto tenha sido boicotado. Para mim, o projeto das UPPs deu um passo maior do que as pernas. Fui delegado nos anos 80, da Delegacia da Gávea, e naquela época a Polícia Civil tinha um projeto de cooperação com a Polícia Militar, através dos DPOs (Destacamentos de Polícia Ostensiva). Pois bem, já naquela época era complicado colocar a polícia ostensiva dentro das comunidades. Hoje, então, com o crescimento dos índices de violência, a situação tornou-se mais complexa ainda.”

Já o Delegado Rafael Barcia, presidente do Sindelpol (Sindicato dos Delegados de Polícia do Estado do Rio de Janeiro), entende que, apesar de preocupante, a situação precisa ser analisada de forma muito realista. Em entrevista à Sputnik, o Dr. Rafael Barcia destaca:

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“O Rio de Janeiro vive um momento muito importante de transição na Segurança Pública. O Dr. José Mariano Beltrame entendeu que seu ciclo havia se encerrado, e nós, que o respeitamos muito, não deixamos de nos preocupar com esta situação. Ao mesmo tempo, damos as boas-vindas ao seu sucessor, o Dr. Roberto Sá, para quem colocamos a Polícia Civil à disposição. Nesta nova gestão, esperamos que o policial civil seja valorizado. O crime organizado atua de forma muito intensa no Estado. E só há três formas de combater o crime organizado: proporcionando meios de trabalho aos policiais, equipando os policiais e as delegacias e motivando os policiais. É isto o que eu espero do novo secretário estadual de Segurança Pública.”

Rafael Barcia diz ainda que a Segurança Pública, para ser realmente eficaz, tem de se separar da política:

“A polícia não tem autonomia. A polícia é um órgão técnico que não pode ser gerido por interesses políticos. Vou dar um exemplo prático: é como se equipamentos de hospitais fossem comprados por pessoas que não conhecem Medicina. É o caso da Polícia. Nós, policiais, sabemos do que precisamos para trabalhar bem. Mas, infelizmente, não somos nós que compramos nossos equipamentos, e, sim, os políticos. Outro exemplo: precisamos de veículos descaracterizados para efetuar com sucesso as nossas investigações. Ninguém, numa área complexa, vai dar informações relevantes a uma pessoa que desce de uma viatura policial. Mas os políticos querem viaturas caracterizadas nas comunidades para que elas sejam vistas e o povo possa dizer que o Governo comprou carros para a Polícia. Precisamos ter comprometimento com a eficácia da ação policial e não com interesses eleitorais.”

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