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Universidade brasileira usa energia nuclear para esterilizar mosquitos Aedes Aegypti

ENTREVISTA COM PROFESSORA EDVANE BORGES 2 DE 17-02-16
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O combate ao mosquito Aedes Aegypti está possibilitando parcerias que buscam formas alternativas eficientes de conter a proliferação dos insetos. No Nordeste, a Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e a Fiocruz no Estado usam energia nuclear para esterilizar mosquitos em experiências na ilha de Fernando de Noronha.

A experiência, em curso desde o final do ano passado, acontece na Vila da Praia da Conceição, onde mosquitos machos passam por um processo de exposição à radiação, sendo liberados no ambiente para competir com os demais no acasalamento das fêmeas, que só acasalam uma vez ao longo da vida. Com esse processo, o objetivo do experimento é impedir a reprodução da espécie. Os resultados iniciais estão animando os pesquisadores, como a Professora Edvane Borges, coordenadora do projeto na parte de irradiação da UFPE.

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“Em 2012, foi conversado com a coordenadora do projeto maior o uso da radiação que envolve um conjunto de técnicas para controle do Aedes Aegypti. A técnica já foi usada em 1946 e voltou a ser utilizada novamente para controle de pragas agrícolas, utilizando-se ou produtos químicos ou radiação X. A proposta seria utilizar essa radiação para provocar a esterilidade em machos para poder inviabilizar ou diminuir a densidade de mosquitos”, diz a coordenadora.

A Professora Edvane Borges explica:

“A fêmea do mosquito possui uma espermoteca em que, no momento em que ela acasala com vários machos, o esperma fica estocado. No decorrer de sua vida, ela pode sair depositando os óvulos em diferentes locais. Fernando de Noronha é uma ilha de preservação, onde não se pode utilizar nenhum tipo de contaminante, seja para controle de pragas ou purificação de água. O que se deve fazer é utilizar tecnologias limpas ou biolarvicidas. A escolha de Fernando de Noronha é especial. A Vila da Praia da Conceição oferece condições geográficas para se ter o monitoramento mais eficaz dos mosquitos.”

Segundo a Fiocruz, uma fêmea, em sua vida reprodutiva, pode dar à luz até 1.500 mosquitos. Após a eclosão da larva, o inseto se torna adulto em um prazo de 10 dias, daí a necessidade de medidas profiláticas por parte da população a cada semana, evitando o acúmulo de água limpa em recipientes.

Os resultados até agora, segundo a coordenadora, têm sido encorajadores.

“Em condições controladas de laboratório, a gente conseguiu determinar 70% da inviabilidade dos ovos que são depositados por essas fêmeas. Uma vez obtidos esses resultados, a gente começou em dezembro a lançar os mosquitos que foram irradiados e estamos esperando os resultados reais de campo mais significativos a partir de abril e maio”, explica a professora.

No processo desenvolvido em colaboração com o Grupo de Estudos em Radioproteção e Radioecologia (Gerar) do Departamento de Energia Nuclear da UFPE, os mosquitos são produzidos em massa no insetário da Fiocruz no Estado, e ainda na fase de pupa (a última antes da fase adulta/alada) são esterilizados no Irradiador Gammacel, cuja fonte radioativa é o cobalto-60.

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Representantes do Ministério da Saúde vão se reunir, na próxima semana, com especialistas de todo o mundo para discutir a eficácia de novas técnicas, como, por exemplo, a radiação e esterilização nuclear e mosquitos geneticamente modificados para combater o Aedes.

O diretor do Departamento de Vigilância de Doenças Transmissíveis do Ministério da Saúde, Cláudio Maierovitch, tranquiliza a população no caso da experiência de expor mosquitos à radiação para que eles fiquem estéreis. Segundo Maierovitch, embora haja o uso da energia nuclear, a técnica não causa riscos à saúde. Outra arma testada no Brasil é o uso de mosquitos geneticamente modificados. A técnica já foi colocada em prática nas cidades de Jacobina, na Bahia, e Piracicaba, em São Paulo, e tiveram resultados promissores. Na Bahia, as populações do Aedes Aegypti reduziram-se em mais de 90%.

O Ministério da Saúde e os Estados investigam 3.935 casos suspeitos de microcefalia em todo o país. Desse total, 60,1% dos casos (3.174) foram notificados em 2015 e 39,9% (2.106) neste ano. O novo boletim divulgado nesta quarta-feira, 17, aponta, também, que 508 casos já tiveram confirmação de microcefalia e/ou outras alterações do sistema nervoso central, sugestivos de infecção congênita. Outros 837 casos notificados já foram descartados por apresentarem exames normais, ou apresentarem microcefalias e/ou alterações no sistema nervoso central por causas não infecciosas. Amapá e Amazonas são os únicos Estados da Federação que não têm nenhum registro de casos.

Os 508 casos confirmados ocorreram em 203 municípios, localizados em 13 unidades da Federação: Alagoas, Bahia, Ceará, Espírito Santo, Goiás, Mato Grosso do Sul, Pará, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul.

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No total, foram notificados 108 óbitos por microcefalia e/ou alteração do sistema nervoso central após o parto (natimorto) ou durante a gestação (abortamento ou natimorto). Destes, 27 foram investigados e confirmados para microcefalia e/ou alteração do sistema nervoso central.  Outros 70 continuam em investigação e 11 já foram descartados. Ao todo, 5.280 casos suspeitos de microcefalia foram registrados desde o início das investigações em 22 de outubro de 2015 até 13 de fevereiro de 2016.

Em relação às notícias veiculadas nos últimos dias, atribuindo o uso de pyriproxyfen, substância larvicida utilizada na esterilização de locais que possam ter larvas do Aedes Aegypti, a Sumitomo Chemical, fabricante do produto, reafirma que o pyriproxyfen é seguro e eficaz no combate a mosquitos transmissores de doenças, dentre os quais Aedes Aegypti, Culex quinquefasciatus e mosca doméstica. Em nota enviada à Sputnik Brasil, a Sumitomo Chemical diz que não vê possibilidade de que o uso do produto esteja ligado à ocorrência de microcefalia.

Segundo a empresa, o pyriproxyfen, submetido a extensos testes toxicológicos, demonstrou não afetar sistemas reprodutivo e nervoso em mamíferos, e é um produto aprovado por autoridades de aproximadamente 40 países, dentre os quais Turquia, Arábia Saudita, Dinamarca, França, Grécia, Holanda e Espanha. No Brasil, o produto é aprovado e registrado desde 2004, pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Na Colômbia, é usado desde 2010, e na República Dominicana, desde 2011. Desde seu lançamento 20 anos atrás, diz a Sumitomo, não há relatos conhecidos em nenhum país que estabeleçam relação entre a ocorrência de microcefalia e o uso do produto. Ainda conforme a empresa, o  pyriproxyfen é aprovado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) para combate a mosquitos, dentre eles o Aedes Aegypti. 

Também a Monsanto disse que não fabrica e não comercializa o pyriproxyfen, bem como não tem nenhum tipo de parceria que envolva esse produto. “A Monsanto e a Sumitomo Chemicals não possuem nenhuma relação societária, mas mantêm parcerias comerciais em algumas regiões para herbicidas, produtos usados no controle de plantas daninhas”, afirma nota da empresa enviada à Sputnik.

Nesta semana, o Governo do Rio Grande do Sul anunciou a paralisação do uso do pyriproxyfen depois que um estudo da Argentina associou o uso do produto a casos de microcefalia.

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