Professor vê 'perigo de escalada' se Biden não reverter remoção de Trump de restrições a Taiwan

© AP Photo / Susan WalshPresidente eleito dos EUA Joe Biden, durante discurso
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A remoção das "restrições" entre EUA e Taiwan pelo governo Trump gerou forte reação de Pequim, que advertiu os EUA a não "brincar com fogo". Por outro lado, a equipe de transição de Joe Biden teria afirmado que suas negociações com Taiwan continuariam sendo regidas pela Lei de Relações com Taiwan.

Existe um sério "perigo de escalada" se o governo de Joe Biden não reverter a decisão do governo Trump em remover as restrições aos laços entre Taiwan e Washington, segundo Srikanth Kondapalli, professor de Estudos Chineses da Universidade Jawaharlal Nehru (JNU) de Nova Deli, contou à Sputnik.

O secretário de Estado norte-americano, Mike Pompeo, afirmou que os EUA acabariam com as restrições "autoimpostas" nas negociações entre Washington e a nação insular. Assim, a visita da embaixadora dos Estados Unidos nas Nações Unidas, Kelly Croft, a Taipé nesta semana, está programada para acontecer sob um novo conjunto de regras.

"A declaração do secretário de Estado Mike Pompeo [sobre a remoção das 'restrições'] é uma questão administrativa que pode ser revertida pelo presidente eleito Joe Biden se ele decidir. O perigo de escalada é se Biden não intervir! A retaliação da China pode aumentar ainda mais os custos para ambos. Taiwan foi um ponto de inflamação ao longo de várias décadas e passou por duas grandes crises em 1958 e 1994", explica Kondapalli.
© REUTERS / Saul LoebMike Pompeo, secretário de Estado dos EUA, fala à mídia em Washington, EUA, 24 de novembro de 2020
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Mike Pompeo, secretário de Estado dos EUA, fala à mídia em Washington, EUA, 24 de novembro de 2020

As "restrições" em causa correspondem aonde os funcionários de Taiwan e dos EUA poderiam se reunir, bem como à limitação da senioridade dos funcionários dos EUA que participariam de eventos organizados por Taipé, entre outros protocolos diplomáticos, em linha com o compromisso declarado de Washington para a política de Uma Só China.

O professor afirma ainda que a reação de Pequim poderá assumir forma de "mobilização militar" no estreito de Taiwan nos próximos dias. Ele avisa, no entanto, que o plenário do Partido Comunista da China (PCC) no próximo ano poderá testemunhar um maior apoio político à ideia de "reunificação" com Taiwan pela força.

Uma disputa quase interminável

No 19º plenário do PCC no ano passado, o presidente chinês, Xi Jinping, sublinhou a necessidade de trazer de volta Taiwan sob o controle direto de Pequim. A China afirmou que o status de Taiwan é a questão bilateral mais importante entre ela e os EUA.

"Com o 20º Congresso do partido marcado para o ano que vem, no entanto, as lutas partidárias devem aumentar na China [obrigando o governo a agir] sobre esta questão", adverte Kondapalli.

Taiwan sempre foi considerada pela China "uma parte inseparável do seu território", com as Nações Unidas forçando Taipé a sair de sua estrutura formal e reconhecendo Pequim como o único Estado chinês.

© AP Photo / Andy Wong, FilePresidente americano Donald Trump (à direita) e o presidente chinês Xi Jinping (à esquerda) durante encontro (foto de arquivo)
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Presidente americano Donald Trump (à direita) e o presidente chinês Xi Jinping (à esquerda) durante encontro (foto de arquivo)

A disputa entre a China e Taiwan remonta à Guerra Civil Chinesa, que terminou em 1949, quando as forças comandadas pelo Kuomintang (KMT) – também conhecido como Partido Nacionalista da China – foram derrotadas pelo Partido Comunista chinês sob Mao Zedong, que então estabeleceu o controle político sobre todo o continente.

Nos dias de hoje, Taiwan não é reconhecido por nenhuma grande potência, isto é, todas se comprometeram com a política de Uma Só China, segundo a qual Pequim é o único herdeiro do Estado chinês pós-1949.

Situação complicada para os parceiros asiáticos dos EUA

O professor universitário disse que o anúncio do governo – que está de saída – dos EUA sobre Taiwan corre o risco de reabrir um potencial ponto de inflamação regional e criar uma "situação complicada" para os parceiros dos EUA na Ásia, incluindo o Japão e a Austrália.

"A postura da Austrália, Japão e Índia se complicou", diz Kondapalli, referindo-se às disputas atuais entre a China de um lado e, do outro, Japão, Austrália e Índia.

Kondapalli acredita que até mesmo a Índia, que atualmente está envolvida em uma disputa territorial com o gigante asiático, ficou em um dilema sobre se suportaria inteiramente a ação dos EUA em Taiwan.

"No entanto, eles [Japão, Austrália e Índia] [ainda] não fizeram qualquer declaração sobre a questão de Taiwan. Isso depende da China", explica Kondapalli.

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