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Coronavírus: a culpa não é da sopa de morcego?

© East News / UIG / AuscapeMorcego-de-peluche (foto de arquivo)
Morcego-de-peluche (foto de arquivo) - Sputnik Brasil
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Quando o novo coronavírus 2019-nCoV fez suas primeiras vítimas, informações amplamente divulgadas apontavam que a origens da doença estaria o mercado de frutos do mar da cidade de Wuhan e nos hábitos alimentares chineses. Por que a culpa não é da sopa de morcego?

Poucas semanas depois do início da crise relacionada à propagação do novo coronavírus, um vídeo viralizou nas redes sociais, mostrando uma garota comendo uma sopa de morcego. No vídeo, ela segura  o animal cozido, praticamente inteiro, com a ajuda de palitinhos.

Em 2003, a propagação global do SARS matou mais de 8.000 pessoas. Morcegos, civetas são apontados como a origem do vírus. ​

O vídeo levou milhares ao redor do mundo a culpar os hábitos alimentares chineses pela nova doença, retomando velhos preconceitos em relação à higiene de pessoas de origem asiática.

Mas o vídeo não foi filmado em Wuhan. Aliás, não foi filmado na China. Trata-se de uma garota chamada Wang Mengyun, que tem um programa de turismo, experimentando uma refeição típica da ilha de Palau, localizada no Oceano Pacífico.

No entanto, como acontece frequentemente, a notícia de que o vídeo era falso foi muito menos compartilhada nas redes sociais do que as postagens alarmantes, que associavam a cultura chinesa à origens obscuras do vírus 2019-cCoV.

Alguns dias mais tarde, um grupo de cientistas chineses demonstrou que o primeiro caso do coronavírus não estava relacionado com o mercado de frutos do mar.

Os cientistas ainda não foram capazes de detectar a fonte do vírus, mas ele pode, sim, estar ligado ao comércio de animais selvagens. Alguns mercados chineses abatem os animais no momento da venda, o que aumenta as dificuldades para manter a limpeza e higiene desses locais. Especialistas acreditam que é necessário reforçar os padrões sanitários e as inspeções nos abatedouros.

No entanto, o hábito de incluir na dieta animais não consumidos no Ocidente não deve ser considerado a causa da emergência do novo vírus. O vírus H1N1, por exemplo, foi originado em um abatedouro de suínos, um animal consumido em grande escala em países da Europa e das Américas.

A China é famosa pelos seus pratos exóticos e pela inclusão de insetos na dieta. O Brasil, por exemplo, exporta miúdos de boi que não são consumidos internamente para o país asiático em grandes volumes. Dentre os miúdos mais exportados, está o vergalho de boi, utilizado para cozinhar uma sopa rica em colágeno.

De acordo com jornalista James Palmer, em artigo publicado na Foreign Policy, os asiáticos também têm alguns preconceitos contra os hábitos alimentares ocidentais. Por exemplo, no país famoso por comer "tudo o que tem quatro pernas, menos a mesa, e tudo o que voa, menos o avião", a carne de cordeiro é considerada repulsiva.

Apesar da estigmatização contra a cultura chinesa ser infundada, o alerta do vídeo da sopa de morcego estava dado e milhões de chineses estão sendo alvo de racismo, em função da expansão do vírus. O Brasil não é exceção.

​Este tipo de preconceito é condicionado principalmente pelo medo, acredita Palmer. Conforme o vírus se espalha, minorias chinesas podem se encontrar em situações cada vez mais delicadas, principalmente em países nos quais as relações com os locais já são turbulentas, como na Malásia e na Indonésia.

Na França, membros da comunidade asiática criaram a hashtag #JeNeSuisPasUnVirus ("eu não sou um vírus") para denunciar atos de racismo ligados à eclosão da doença.

​O medo pode ser mais danoso do que um vírus.

O governo chinês passou a reagir aos casos de racismo e pedir que os países evitem "semear o pânico", conforme declarou o porta-voz do ministério das Relações Exteriores do país, nesta segunda-feira (4).  

Em 30 de janeiro, a Organização Mundial da Saúde (OMS) decretou emergência internacional pela propagação do novo coronavírus, no entanto, não recomendou que países imponham restrições de viagens ou isolem o país asiático.

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