Ao discursar no Instituto Hudson, em Washington, o vice-presidente estadunidense, Mike Pence, assegurou que, para efetuar essa intervenção, Pequim "tinha mobilizado seus agentes de influência secretos" e "agrupamentos propagandísticos de vanguarda".
Assim, acredita Washington, as autoridades chinesas, bem como Moscou, estariam manipulando a opinião pública através de ciberataques.
Ameaça à defesa americana?
A guerra comercial entre os EUA e a China irrompeu em julho. A partir daí, nem um dia passou sem acusações recíprocas, na maioria vindas do lado norte-americano.
Quanto aos relatos sobre a alegada intervenção chinesa nas eleições, a Casa Branca prometeu apresentar provas, a serem recolhidas por funcionários do Conselho de Segurança Nacional, em um futuro breve. Porém, a ausência de provas não impediu que Washington lançasse novas acusações contra Pequim, desta vez de tentar minar a base da indústria de defesa do país.
Outra medida foi o aumento das tarifas alfandegárias contra produtos chineses, sendo ele motivado do modo habitual — pelo desiquilíbrio comercial entre os países, ou seja, pela predominância das importações americanas.
Amizade chinesa com Clinton
Enquanto as acusações políticas ficam ainda sem resposta por parte de Pequim, esta já se recusou a dialogar com os EUA sobre os assuntos de política externa e de defesa — o vice-premiê chinês Liu He cancelou sua visita ao país, na qual tinha planejado discutir os problemas comerciais entre as duas nações. Além disso, as autoridades do país apelaram ao fim das práticas de pressão e intimidação.
As opiniões dos especialistas quanto à influência chinesa nos processos políticos dos EUA se dividiram, escreve a autora. Assim, o diretor do Centro de Pesquisas Russas da Universidade Pedagógica da China Oriental, Feng Shaolei, acredita que os EUA, tal como no caso das acusações contra a Rússia, não dispõem de quaisquer evidências concretas.
Enquanto isso, o investigador sênior do Instituto do Extremo Oriente da Academia de Ciências da Rússia, Vasily Kashin, acredita que os norte-americanos têm razões para suspeitar.
"Os chineses têm uma longa história de estreitas relações de parceria com grupos influentes do empresariado e círculos políticos estadunidenses. Pequim nunca poupou para isso nem forças nem recursos. Ao contrário do atual caso da Rússia, em grande parte mítico, no ano de 1996 foi provado que a China tinha tentado intervir nas eleições dos EUA. Na época, Bill Clinton foi reeleito para seu segundo mandato", afirmou.
Em opinião de Kashin, a administração de Trump hoje em dia tenta fazer relembrar aquele episódio e o contrapor às acusações atuais apresentadas conta Moscou.
Causas políticas
Além do mais, as acusações sobre as tentativas de "minar" a base da indústria de defesa norte-americana também causam ceticismo. Pelo visto, as numerosas pretensões estadunidenses são em algum sentido provocadas pela luta política interna desencadeada nos EUA antes das legislativas.
"A China tem controlado o mercado de terras raras e alguns tipos de produtos químicos por muito tempo. O monopólio contínuo tem sido possível graças aos preços baixos. Isto devastava os concorrentes exteriores, mas nunca ameaçou a base da indústria de defesa estadunidense. Agora, os norte-americanos querem simplesmente apoiar seus próprios produtores de recursos químicos e expulsar os chineses do mercado. Essa é a razão das novas acusações. Mas não há evidências de que os chineses teriam deliberadamente manipulado o preço dos produtos químicos", explicou Kashin.
Já na opinião de Feng Shaolei, as declarações mais recentes devem ser consideradas no contexto da guerra comercial entre os dois países.
"Ao apresentar à China novas reclamações, os EUA não querem ouvir a nossa visão. Não é sério manter um diálogo sob tais condições", acredita o cientista político.
Enquanto isso, Pequim espera que após as legislativas a tensão nas relações bilaterais diminua. Só então, pelo visto, o país refletirá sobre a continuação do diálogo com Washington, resume a colunista.