Ir além do Círculo Polar
Um dos fatores que revela o interesse crescente de Pequim pelo Ártico é seu trabalho ativo no que se trata de reforçar a frota nacional de quebra-gelos.
"Até recentemente, a China só possuía quebra-gelos de pesquisa, sendo que o mais potente deles, o Dragão de Neve ("Xuelong"), de fato, era apenas um veículo de transporte da classe de gelo. Ainda em 1993, a China comprou à Ucrânia este navio de produção soviética da classe Ivan Papanin e o modernizou várias vezes. Ao longo dos últimos dois anos, sua frota do Norte recebeu outros dois quebra-gelos", escreve o autor.
Hoje em dia, Pequim, junto com a empresa finlandesa Aker Arctic Technology, está construindo seu primeiro quebra-gelo da produção própria, o Dragão de Neve-2. Este será capaz de superar camadas de gelo até 1,5 metros de espessura à velocidade de 3 nós e navegar para trás, mesmo tendo menor deslocamento que seu antecessor.
Assim, Pequim está desenvolvendo as investigações científicas no Ártico e, por isso, uma frota de quebra-gelos é cada vez mais importante.
"A China é bastante ativa nesse campo e tem 4 instalações de pesquisa no Ártico, inclusive duas que funcionam por todo o ano. É difícil efetuar tal atividade de pesquisas sem um quebra-gelo ártico", afirma.
Mais curto e mais seguro
O que tem o Ártico de interessante para a China? À primeira vista, a resposta é evidente: os recursos minerais, escreve Ardaev, pois nesta zona se localiza a quinta parte de todos os recursos na Terra.
Porém, não é apenas isso, tanto mais que essa é uma perspectiva a longo prazo, uma vez que atualmente na exploração petroleira Pequim se baseia nas tecnologias estrangeiras — ou seja, simplesmente não tem experiência adequada nesta área.
"Em um futuro próximo, a China considera o Ártico como um caminho mais curto e mais seguro que liga a China continental com a Europa", diz Ardaev. Ademais, tal projeto é mais promissor que os outros (como o Cinturão Econômico ou o Caminho Marítimo do Século XXI), pois as regiões que atravessa são muito mais calmas.
Segundo disse à Sputnik China o diretor executivo do Instituto de Direito Polar e Política da Universidade Oceânica chinesa, Go Peiging, o lado econômico de tais projetos também é extremamente importante, pois os caminhos árticos ajudariam as empresas chinesas a economizar tempo e dinheiro para levarem seus produtos para a Europa.
"Dado o processo de degelo no oceano Ártico, o Caminho Marítimo do Norte pode virar uma alternativa à maior via transcontinental, que atravessa os mares quentes da Eurásia e o canal de Suez. Deste modo, o percurso de um navio de carga de Xangai a Hamburgo através deste caminho é 2,8 mil milhas [4,5 mil km] mais curto que o caminho através do canal de Suez", assinala o autor.Projetos conjuntos
Ademais, adianta Ardaev, o respectivo percurso atravessa as zonas onde se realizam projetos conjuntos russo-chineses, por exemplo, o Yamal SPG, que prevê a exploração de gás natural e a construção de uma fábrica para sua liquefação.
"A parceria com a Rússia é prioritária para a China. Vemos o quão ativa é a realização do projeto de gás em Yamal, como é promissora a cooperação no âmbito do projeto rodoviário Belkomur desde Arkhangelsk através do mar Branco e da república de Comi até os Urais. Os maiores holdings chineses planejam investir nele. Não há dúvidas de que, no futuro, Arkhangelsk e Murmansk serão os maiores nós de transporte na Europa, ligando o caminho marítimo ártico, o Norte da Europa e as regiões do interior russo", explica o especialista chinês.
Planeja-se que Pequim receba anualmente 20 navios-tanque com 3 milhões de toneladas de gás liquefeito produzido na região russa de Yamal.
Ambições sob controle
A China procura se fixar nos caminhos marítimos do Norte inclusive para realizar o seu objetivo ambicioso e mais global — diminuir a influência estratégica dos EUA em várias regiões do mundo.
Nesse respeito, os territórios árticos bem podem ser utilizados pela China para resolver questões de caráter militar. O especialista Vasily Kashin relembra que anteriormente não só a Rússia e os EUA, mas também o Reino Unido e, talvez, até a França enviaram seus submarinos atômicos ao oceano Ártico, inclusive para efetuar lá operações militares.
"O gelo do Ártico que colide todo o tempo cria um ruído constante que obstaculiza a deteção de submarinos através dos radares hidroacústicos. O uso de aviação antinavio é impossível por causa da camada de gelo, por isso os submersíveis nucleares que atuam no Ártico possuem grande vantagem no que se trata da furtividade", resumiu.
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