Como EUA 'apreendem' cargas de equipamentos médicos destinadas ao Brasil e outros países?

© REUTERS / Flavio Lo ScalzoMédico utilizando proteção trata de paciente com COVID-19 em hospital na província de Cremona, na Itália, 19 de março de 2020
Médico utilizando proteção trata de paciente com COVID-19 em hospital na província de Cremona, na Itália, 19 de março de 2020 - Sputnik Brasil
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Aumentam relatos de que EUA estariam oferecendo até três vezes mais dinheiro para desviar cargas de equipamentos médicos destinadas a outros países. Brasil, França e Alemanha já tiveram envios cancelados por causa da compra massiva dos EUA.

Compradores norte-americanos estão oferecendo até três vezes mais dinheiro para desviar para os EUA cargas de equipamentos médicos oriundas da China com destino a países como França e Brasil.

França denuncia carga desviada em aeroporto

Máscaras adquiridas por Paris estavam carregadas em aeronave no aeroporto de Xangai, quando compradores dos EUA apareceram e ofereceram o triplo do valor da carga para que ela fosse enviada a Washington, reportou o The Guardian.

Jean Rottner, médico e presidente do Conselho Regional de Medicina da França, afirmou que o país vai ficar sem a carga de milhões de máscaras, muito aguardada nos hospitais lotados do leste francês.

"Já na pista de pouso, eles chegam, mostram o dinheiro vivo [...] então realmente precisamos lutar", revelou Rottner.

Rottner não identificou os compradores, mas funcionário do governo francês indicou ao jornal britânico que se tratava de um grupo a serviço do governo dos EUA.

"A cereja do bolo é de um país estrangeiro que pagou três vezes mais o preço da carga na pista do aeroporto", disse o chefe da província francesa de Provença-Alpes-Costa Azul ao canal francês BFMTV.

Fonte do governo dos EUA disse à AFP que "o governo dos EUA não comprou nenhuma máscara que deveria ter sido enviada da China para a França. Informações contrárias a essa são completamente falsas".

Primeiro-ministro do Canadá expressa preocupação

O primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau, descreveu informações como as divulgadas pelos franceses como "preocupantes" e pediu para que seu governo investigasse casos similares.

"Temos que garantir que equipamentos destinados ao Canadá sejam entregues e permaneçam no Canadá. Eu pedi a ministros que acompanhem esses relatos", afirmou Trudeau nesta quinta-feira (2).

Berlim relata caso similar

Na Alemanha, nesta sexta-feira (3), o jornal Tagesspiegel reportou que carga de equipamentos médicos encomendada por Berlim também teria sido desviada pelos EUA.

© REUTERS / Hannibal HanschkeParamédicos verificam o equipamento de uma ambulância na Alemanha em meio ao coronavírus (imagem referencial)
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Paramédicos verificam o equipamento de uma ambulância na Alemanha em meio ao coronavírus (imagem referencial)

Berlim havia encomendado máscaras respiratórias profissionais FFP2 e FFP3 de uma fabricante, que seria uma empresa norte-americana que produz na China. A carga teria sido interceptada pelos norte-americanos e desviada para os EUA, reportou o jornal.

Compras do Brasil 'caíram'

O ministro da Saúde do Brasil, Luiz Henrique Mandetta, fez um relato similar em coletiva de imprensa, na quarta-feira (1º). De acordo com o ministro, compras feitas pelo Brasil na China de equipamentos de proteção individual, como máscaras e toucas, foram canceladas após os EUA adquirirem volume imenso desses produtos.

"Hoje os EUA mandaram 23 aviões cargueiros dos maiores para a China, para levar o material que eles adquiriram. As nossas compras, que tínhamos expectativa de concretizar para fazer o abastecimento, muitas caíram", afirmou Mandetta.

O ministro acrescentou que a situação é ainda pior no caso dos respiradores, uma vez que fornecedores que já haviam sido contratados cancelaram os pedidos.

© REUTERS / Aly SongMáscaras em linha de produção na cidade de Xangai, na China, 31 de janeiro de 2020
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Máscaras em linha de produção na cidade de Xangai, na China, 31 de janeiro de 2020

"Nós estávamos comprados, tínhamos, quando começamos a pedir. Entregaram a primeira parte. Na segunda parte, mesmo com eles contratados, assinados, com o dinheiro para pagar, quem ganhou falou: não tenho mais os respiradores, não consigo te entregar", relatou o ministro.

O ministro lamentou que, por causa dos cancelamentos, o Brasil não irá avançar na questão do abastecimento de equipamentos médicos no curto prazo.

"Então nós voltamos de algo que a gente achava que já tinha. Demos um passo para trás", declarou o ministro. 

A pandemia de COVID-19 já registra mais de 1 milhão de infectados ao redor do mundo e 53.975 vítimas fatais. Os países com maior número de casos são os EUA, Espanha e Itália. O Brasil registra 8.066 casos e 327 vítimas fatais, até a manhã desta sexta-feira (3).

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