Os EUA estão em seu 11º ano de expansão econômica recorde e Donald Trump planeja surfar na onda do bom desempenho econômico durante a sua campanha para reeleição.
Usando o slogan "Grande recuperação americana" ("Great American Comeback", em inglês), o presidente irá argumentar que a assinatura da "fase um" do acordo comercial com a China e a renegociação da parceria com o México foram essenciais para garantir o crescimento econômico dos EUA.
"Estou radiante por poder informar que a economia [dos EUA] está melhor do que nunca", declarou Trump, em seu discurso do Estado da União.
No entanto, existem alguns indicativos econômicos que o presidente dos EUA preferiu não citar no seu discurso.
Indicadores positivos
Alguns indicadores mostram que Trump realmente atendeu à expectativa do eleitorado. Durante sua campanha de 2016, o então candidato havia prometido criar novos postos de trabalho. Conforme reportou a Reuters, os indicadores mostram que esse objetivo foi atingido.
O nível de desemprego nos EUA é o mais baixo dos últimos cinquenta anos. Além disso, os salários pagos para postos que exigem baixa qualificação estão em alta, o que sugere aumento da renda na base da pirâmide social.

As minorias também parecem estar sendo beneficiadas pelo bom desempenho no mercado de trabalho. A discrepância entre os índices de desemprego de brancos e negros diminuiu, apesar de ainda ser mais elevada do que a discrepância entre brancos e latinos.
Os extremamente ricos também obtiveram ganhos durante a administração Trump, principalmente em função do aumento dos índices das bolsas de valores e bom desempenho dos preços das ações. Aqueles que tiveram capital para investir em ações angariaram ganhos significativos.
Indicadores medíocres
Mas nem tudo são flores. Alguns indicadores apontam que a economia norte-americana apresenta sinais de estagnação.
Os índices de produtividade, por exemplo, não apresentaram melhoras nos últimos quatro anos, o que indica que o quadro geral da economia dos EUA mudou pouco desde a administração Barack Obama.
A estagnação dos níveis de produtividade influencia o nível de investimento, que tampouco apresenta sinais de recuperação. Para tentar reverter o quadro, a administração Trump aprovou uma reforma tributária que favoreceu largamente as empresas.
A reforma foi aprovada por Trump em 2017. Cumprindo sua promessa de campanha, o presidente reduziu a taxa de impostos para as empresas de 35% para 21%.
No entanto, os indicadores mostram que as empresas não utilizaram o incentivo para aumentar o investimento, e os recursos podem ter sido utilizados tanto para aumentar os salários dos executivos, quanto para engordar carteiras de investimento em ativos financeiros.

Como resultado, o nível de investimento encontra-se estagnado e sem sinais de recuperação, o que coloca a economia norte-americana em risco de estagnação.
No entanto, o indicador que mais preocupa os assessores de Trump é o déficit na balança comercial. Apesar da retórica do presidente e das "guerras comerciais" que ele iniciou ao redor do mundo, impondo tarifas inclusive a produtos de países aliados, como a França, os EUA continuam comprando muito mais do que vendendo no mercado internacional.
Indicadores negativos
A reforma tributária pode ter sido uma das vilãs da economia norte-americana sob Trump, uma vez que é apontada como a responsável pelo déficit fiscal recorde do governo.
Ao abrir mão dos impostos das empresas, o governo federal norte-americano não conseguiu sanar as suas contas e fechou o ano fiscal de 2019 com déficit recorde, de cerca de US$ 984 bilhões (cerca de RS$ 4 trilhões).
Além disso, apesar da economia estar em crescimento, ela não atingiu a meta de Trump de 3% e manteve-se em pouco acima dos 2%, a média do período de 2016 a 2019.
Com níveis de investimento praticamente inalterados, os preços dos bens também apresentam sinais de estagnação. Ao contrário do preço das ações, os preços das mercadorias não aumentaram, o que pode dificultar a manutenção do crescimento econômico no médio prazo.
Mas o principal vilão da economia dos EUA sob Trump é a desigualdade socioeconômica. Os dados do ano fiscal de 2019 mostram que a desigualdade nos EUA atingiu seu pior nível em mais de meio século.

O índice de Gini, utilizado para medir a desigualdade socioeconômica, subiu para 0,48 nos EUA. Para fins de comparação, a desigualdade média na Europa é muito menor, cerca de 0,38.
Analistas sugerem que, apesar dos ganhos salariais da base da pirâmide econômica dos EUA, os ganhos dos "ultrarricos" foram muito superiores, o que levou ao aumento da desigualdade sob Trump.
O aumento na desigualdade é um dos principais temas nos debates da corrida presidencial norte-americana. O descontentamento popular com a concentração de renda é um dos principais fatores favorecendo candidatos à esquerda do espectro político, como Bernie Sanders e Elizabeth Warren.
Nesta terça-feira (5), Donald Trump proferiu o anual discurso do Estado da União, na Câmara dos Representantes do Congresso dos EUA. O discurso indica os principais temas e argumentos que o presidente deve explorar durante sua campanha para a reeleição. As eleições presidenciais dos EUA estão previstas para novembro de 2020.
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