Análise: oposição venezuelana busca 'elo mais fraco' para realizar golpe militar

© AFP 2023 / Federico ParraPoliciais durante confronto com manifestantes antigovernamentais em Caracas, Venezuela
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A oposição da Venezuela está buscando o "elo mais fraco" no Exército venezuelano e, logo que o encontrar, conseguirá realizar um golpe militar, afirma o professor da Universidade de São Petersburgo Viktor Jeifets.

Na madrugada de quarta-feira (23), em várias cidades venezuelanas começaram protestos contra o presidente do país Nicolás Maduro. Em 23 de janeiro se esperam manifestações da oposição, bem como dos adeptos do presidente em função. O deputado da oposição José Olivares comunicou que os protestos já provocaram a morte de uma pessoa.

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Segundo o analista Viktor Jeifets, não se deve menosprezar o perigo potencial dos protestos na Venezuela nos últimos dias, inclusive a tentativa de motim militar na segunda-feira (21).

"Não é o tamanho das manifestações, mas o fato de ocorrer a busca dos elos mais fracos do atual governo, que tem importância. Não é a mera manifestação espontânea da cisão existente, inclusive entre as elites no poder. Ainda quatro anos atrás, era óbvio que o Exército não estava unido, já que até nas eleições de 2015 foi visível o grande número de votos na oposição nas regiões onde moram as famílias de militares. O Exército simplesmente não demonstra deslealdade ao governo até determinado momento, mas isso não elimina o descontentamento existente", assinalou.

Para ele, a ação de segunda-feira não visava a derrubada de Maduro, teve sim como alvo demonstrar que dentro do Exército também há descontentamento e mostrar a outros descontentes que não estão sozinhos. "Se esses descontentes potenciais deixarem de duvidar de que não estão sozinhos, poderá acontecer uma tentativa (…) de cenário militar e mudança de poder", acredita o especialista.

De acordo com Jeifets, pode acontecer qualquer cenário. É difícil determinar ao certo o grau de descontentamento no Exército, mas ele existe e a oposição usa isso para encontrar o "elo mais fraco" entre os comandantes, não entre os generais mas entre os majores e capitães. Se os oposicionistas encontrarem alguns comandantes bastante influentes, eles podem realizar "um golpe militar".

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A possibilidade de manobras econômicas por parte do governo de Maduro é muito limitada, por isso a razão para o descontentamento se manterá. Os militares estão avaliando o cenário de desenvolvimento dos acontecimentos em caso de mudança de poder e entendendo que terão mais chances no quadro de um novo governo, concluiu Jeifets.

Pavel Salin, diretor do Departamento de Ciências Políticas do Instituto de Finanças junto ao Governo da Rússia, acredita que a situação na Venezuela tem sido difícil desde os tempos do ex-presidente da Venezuela Hugo Chávez que, graças a seu carisma e capacidades de organizar os processos, conseguiu manter o controle da situação. Porém, Maduro "é uma versão inferior de Chávez", por isso tudo se deteriora e não há premissas para melhorar.

"Não se vê saída da situação e […] daqui a um ou dois anos isso acabará na transformação significativa do governo venezuelano […] visto que o nível da atividade de protestos nas ruas é extremamente alto", comentou o analista.

Segundo Salin, Maduro já usou todos os métodos possíveis para influir sobre a crise econômica, "de fato colocando a economia do país nas mãos dos militares, o que apenas piorou a situação". Maduro já não tem recursos internos no contexto da diminuição do apoio exterior, sendo o petróleo venezuelano cada vez mais atraente para outros países, assinalou.

Maduro foi reeleito em 20 de maio nas eleições presidenciais, assumindo segundo mandato no dia 10 de janeiro de 2019, que durará até 2025. Os EUA, a União Europeia e um grupo de países da América Latina se pronunciaram contra o segundo mandato de Maduro, qualificando-o "usurpador", pois afirmam que ele foi eleito de maneira "fraudulenta".

As autoridades venezuelanas, por sua vez, destacaram a legitimidade das eleições, nas quais Maduro foi reeleito com 68% dos votos de 48% dos eleitores.

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