Sanções, guerras comerciais e cúpulas históricas: 2 anos da política externa de Trump

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Tomada de posse do presidente eleito dos EUA, Donald Trump, em Washington - Sputnik Brasil
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No dia 20 de janeiro se cumprem dois anos desde que Donald Trump assumiu a presidência dos EUA. Estes 24 meses foram marcados tanto por suas decisões provocatórias, inclusive com respeito aos acordos internacionais, como por passos em direção à paz com adversários de longa data.

A Sputnik analisou os resultados da primeira metade do mandato presidencial de Donald Trump.

Nada pessoal, apenas negócio: guerras de tarifas e rompimento de acordos comerciais 

As relações comerciais têm tido importância especial para Trump como ex-empresário. O presidente tem tentado renegociar ou cancelar acordos comerciais em uma tentativa de alcançar condições comerciais mais favoráveis para os Estados Unidos.

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Trump instruiu a retirada dos EUA da Ёdesastrosa” Parceria Transpacífica (TPP), defendida por Obama e pelos governos de outros onze países. O presidente argumentou que o acordo prejudicaria os trabalhadores americanos e a economia do país.

O mesmo destino teve o acordo do NAFTA, que Donald Trump também prometeu durante a campanha presidencial renegociar para reduzir o déficit comercial dos EUA, eliminar os subsídios injustos e criar empregos na indústria do país. Ele cumpriu essa promessa, substituindo o acordo por um novo, firmado entre os EUA, o México, e o Canadá (USMCA).

Além disso, Trump se envolveu na guerra comercial com a China, se recusando a aceitar o que ele descreveu como "práticas comerciais injustas" do gigante asiático, e aplicou tarifas de 25% sobre as mercadorias chinesas no valor de até US$ 50 bilhões (R$ 187 bilhões) em junho de 2018. Pequim acusou Washington de iniciar uma guerra comercial e retaliou com medidas similares. Posteriormente, os países introduziram impostos adicionais um contra o outro, afetando suas economias.

Às margens da cúpula do G20 em Buenos Aires, em dezembro de 2018, as duas superpotências econômicas chegaram a uma trégua de 90 dias na guerra comercial. Trump concordou em não elevar as tarifas sobre importações chinesas no valor de US $200 bilhões (R$ 750 bilhões) de 10% para 25%, enquanto o líder chinês Xi Jinping se comprometeu a comprar mais produtos americanos para reduzir o déficit comercial.

Contudo, a China não era o único país na mira da política comercial de Trump – os aliados "tradicionais" dos EUA não escaparam à controversa política protecionista do 45º presidente. Donald Trump impôs tarifas de 25% e 10% sobre as importações de aço e alumínio da Europa e do Canadá, respectivamente, o que levou a medidas similares por parte deles.

Transferência da embaixada dos EUA de Tel Aviv para Jerusalém

Cumprindo outra promessa de sua campanha presidencial, Donald Trump tomou a decisão histórica de transferir a embaixada dos EUA em Israel para a "eterna capital do povo judeu, Jerusalém".

Em 6 de dezembro de 2017, o presidente dos EUA reconheceu oficialmente Jerusalém como a capital de Israel e anunciou que iniciaria o processo de transferência da embaixada de Tel Aviv para a recém-reconhecida capital.

O anúncio agradou a Israel, mas agravou as tensões na região, provocando a indignação das nações árabes, que advertiram Trump por minar o processo de paz no Oriente Médio.

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Tanto Israel como a Autoridade Nacional Palestina reivindicam a cidade de Jerusalém como sua.

A cerimônia oficial de abertura da nova Embaixada dos EUA em Jerusalém foi realizada em 14 de maio de 2018, provocando ondas de protestos e confrontos sangrentos entre palestinos e as Forças de Defesa de Israel na Faixa de Gaza, que resultaram na morte de pelo menos 55 manifestantes.

Confrontando Irã 

O Plano de Ação Conjunto (JCPOA), conhecido como acordo nuclear com o Irã, foi assinado em 2015 pelo Irã e pelos países do P5+1 – Rússia, EUA, China, França, Reino Unido mais Alemanha – após anos de negociações. O acordo multilateral buscou conter as ambições nucleares do Irã em troca do levantamento gradual das sanções econômicas impostas contra Teerã.

Desde que assumiu o cargo, Trump criticou constantemente o acordo, descrevendo-o como um dos piores jamais assinados pelos Estados Unidos.

Após meses de especulações e rumores que Trump planejava acabar com o acordo, o presidente anunciou em 8 de maio de 2018 a retirada dos EUA e a retomada das sanções contra o Irã. A decisão foi condenada pelos outros signatários do acordo.

A reintrodução de sanções contra várias indústrias iranianas, incluindo transporte marítimo, energia e serviços financeiros, foi reforçada pela ameaça de Trump de impor restrições secundárias às empresas estrangeiras envolvidas no comércio com o Irã, forçando assim a saída de um número significativo delas do mercado iraniano.

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Após a retirada dos EUA, os estados membros da UE demonstraram seu interesse em manter laços comerciais com Teerã, apesar da ameaça de sanções. A UE atualizou seu Estatuto de Bloqueio em uma tentativa de proteger as empresas europeias das sanções secundárias de Washington.

Coreia do Norte: do 'Fogo e Fúria' à aproximação histórica

O caminho desde as ameaças recíprocas até às conversações sobre desnuclearização da península coreana foi difícil.

Quando o líder norte-coreano ameaçou lançar mísseis balísticos contra a ilha estadunidense de Guam, em agosto de 2017, Donald Trump emitiu um aviso que iria soltar "fogo e fúria" contra Pyongyang.

A partir desse momento, o presidente Trump solicitou à comunidade internacional que ampliasse a pressão sobre o país asiático, já que os testes nucleares levados a cabo pela Coreia do Norte aumentaram ainda mais as tensões.

Trump, que ganhou uma certa reputação de ser extremamente criativo quando se trata de apelidos, deu ao líder norte-coreano o apelido de "homem-foguete", enquanto Kim retaliou, dizendo que seu oponente era "mentalmente perturbado". Depois de o líder norte-coreano ter alertado Trump sobre as capacidades nucleares de Pyongyang, o presidente dos EUA insistiu que seu "botão nuclear" era "muito maior e mais poderoso".

Entretanto, os dois iniciaram o diálogo, primeiro informal. Depois concordaram em realizar uma cúpula em Singapura em junho de 2018 e acabaram assinando um documento abrangente, no qual Kim se comprometeu pela desnuclearização total, uma conquista tangível que não pode ser negada.

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Atualmente, os dois lados estão planejando mais uma cúpula conjunta.

Mais duro com Rússia que qualquer outro presidente?

Ao longo dos últimos 24 meses, Trump tem sido consistentemente acusado de ter alegadamente ligações com a Rússia, ainda que ele mesmo afirme ser "muito mais duro" em relação a Moscou do que seus antecessores.

Embora a investigação de Robert Mueller sobre a suposta interferência do Kremlin na eleição de Trump ainda esteja em andamento, o presidente dos EUA aparentemente ainda se recusa a ceder à mídia e aos apelos dos democratas para desencadear uma cruzada completa contra a Rússia.

Acalentando a ideia de que algum dia os EUA terão boas relações com a Rússia – tal como aconteceu com a Coreia do Norte – Donald Trump procurou melhorar os laços bilaterais e concordou em realizar uma cúpula com o presidente Vladimir Putin em Helsinque em 16 de julho de 2018.

Apesar de terem enfrentado muitas críticas mesmo antes do encontro, Trump e Putin rotularam suas primeiras conversas em grande escala como "sucesso", tendo discutido uma ampla gama de questões.

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Já que nenhum comunicado foi divulgado depois do encontro de tête-à-tête, a mídia e vários políticos americanos propagaram diversos rumores e teorias conspiratórias.

Jornais e revistas criticaram Trump por seus esforços para manter a interação com Putin em segredo, e até o acusaram de ser um agente do Kremlin.

Ambos os chefes de Estado negaram ter uma conspiração um com o outro. Trump rejeitou muitas vezes as alegações, classificando-as de “caça às bruxas”, enquanto o Kremlin apontou repetidamente que todas as acusações de manter relações secretas com Trump eram infundadas.

Síria: 2 ataques com mísseis e retirada de tropas

No 77º dia de sua presidência, Trump ordenou um ataque com mísseis contra um aeródromo sírio em resposta ao suposto ataque químico em Khan Shaykhun, na província síria de Idlib, responsabilizando por ele o governo da Síria. Damasco, por sua vez, rejeitou as acusações.

Um ano depois, o presidente norte-americano fez uma tentativa de cumprir sua promessa da campanha presidencial de retirar as tropas dos EUA, particularmente dos conflitos no Oriente Médio.

Entretanto, duas semanas após o anúncio, surgiram informações de outro ataque com armas químicas na Síria.

Ao qualificar Bashar Assad de "animal assassino com gás", o presidente dos Estados Unidos ordenou outra rodada de ataques aéreos contra a República Árabe em abril de 2018.

Desta vez, os Estados Unidos, apoiados por seus aliados militares – França e Reino Unido – dispararam mais de 100 mísseis de cruzeiro e ar-terra contra vários alvos em retaliação por mais um suposto ataque químico na cidade de Douma, responsabilizando novamente o governo sírio.

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Damasco e Moscou qualificaram o incidente como uma operação de bandeira falsa, enquanto a Organização para a Proibição de Armas Químicas (OPAQ) comunicou que os investigadores não encontraram vestígios de agentes nervosos no local do incidente.

Nove meses depois dos ataques, o presidente Trump fez mais uma tentativa para cumprir sua promessa. Em 19 de dezembro de 2018, ele anunciou sua decisão de retirar 2.000 soldados norte-americanos do norte da Síria.

O presidente anunciou que o Daesh (organização terrorista proibida na Rússia e em vários outros países) foi derrotado, argumentando que os EUA não têm mais motivos para permanecer na República Árabe.

Entretanto, parece que a retirada pode demorar um pouco, já que Trump procura garantir a segurança das forças curdas que estão em risco de uma incursão turca no norte da Síria.

Além disso, a retirada pode ser complicada por um ataque suicida na cidade de Manbij, que deixou 20 pessoas mortas, incluindo quatro militares norte-americanos.

OTAN obsoleta? 'Parte justa' e rumores de saída

Desde que assumiu a presidência, Trump criticou repetidamente seus aliados transatlânticos por não cumprirem suas obrigações quanto aos gastos com defesa dentro da OTAN.

Trump apontou que apenas cinco dos 29 Estados da organização gastavam dois por cento do PIB com a defesa e insistiu que os outros integrantes da aliança deviam pagar sua "parte justa".

Além disso, o presidente dos EUA questionou a relevância de um bloco da época da Guerra Fria na conjuntura atual, considerando-o de “obsoleto” e “injusto” para Washington.

Os países da OTAN ficaram preocupados que Trump estivesse tentando retirar os EUA da aliança. Os rumores foram reforçados por diversas reportagens na mídia, alegando que Trump informou repetidamente seus principais assessores sobre a intenção de se retirar da aliança.

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Apesar desses rumores, Trump nunca divulgou publicamente planos para retirar os EUA da OTAN.

Alarmados com o potencial colapso do bloco, os aliados europeus cederam perante Trump nas margens de uma cúpula em Bruxelas em julho de 2018 e concordaram em gastar 2% do PIB até 2024.

Tratado INF à beira do colapso

As relações entre a Rússia e os EUA continuam tensas, e a redução do número de armas nucleares voltou à agenda em 2018. Em 20 de outubro, o presidente Trump anunciou sua intenção de abandonar o Tratado de Forças Nucleares de Alcance Intermediário (INF) de 1987, acusando a Rússia de violar o acordo.

O presidente americano, de fato, afirmou que os EUA começariam a desenvolver armas atualmente proibidas pelo tratado.

Por sua vez, Moscou apontou que Washington havia implantado lançadores de mísseis de cruzeiro Tomahawk na Romênia e na Polônia, violando assim o tratado.

A administração dos EUA declarou no início de dezembro que suspenderia sua participação do acordo, a menos que a Rússia “voltasse a cumprir” o tratado dentro de 60 dias.

Respondendo a essa declaração, o presidente russo Vladimir Putin advertiu que tal passo poderia resultar em consequências imprevisíveis e poderia levar a uma catástrofe global, devido à queda do limiar para o uso de armas nucleares.

O acordo marcou a primeira vez que as duas superpotências – a União Soviética e os EUA – concordaram voluntariamente em reduzir seus arsenais nucleares, destruindo todos os mísseis balísticos e de cruzeiro com alcance entre 500 e 5.500 quilômetros, além de permitir inspeções no local para verificar seu cumprimento.

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Decisão de abandonar acordo climático de Paris

Durante sua campanha eleitoral de 2016, Trump rejeitou a mudança climática como "um embuste" e prometeu abandonar o Acordo de Paris sobre as mudanças do clima.

Em um discurso de junho de 2017, Trump criticou o acordo, no âmbito do qual os EUA deveriam voluntariamente limitar suas emissões de carbono, o que, segundo Trump, iria prejudicar as empresas americanas, a economia do país e restringir a soberania dos EUA.

Trump anunciou que os EUA estão se retirando do acordo, que ele considerou muito injusto para Washington.

Firme parceiro da Arábia Saudita apesar do caso Khashoggi

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Em 2 de outubro de 2018, Jamal Khashoggi, um jornalista do Washington Post de origem saudita, desapareceu depois de entrar no Consulado Geral da Arábia Saudita em Istambul. Depois de semanas de especulações de que ele poderia ter sido sequestrado ou morto dentro do edifício, bem como das buscas nas instalações consulares pela polícia turca, o promotor-geral saudita confirmou a morte do jornalista.

As autoridades sauditas negaram qualquer envolvimento da família real, descrevendo as ações turcas como uma "operação desonesta" e lançando uma investigação própria sobre o assassinato.

Apesar da pressão dos principais senadores, o presidente Trump disse que a inteligência dos EUA ainda está avaliando todas as informações relacionadas ao caso.

Trump também expressou preocupações de que se os contratos militares dos EUA com Riad fossem suspensos e que os sauditas simplesmente passassem a gastar seu dinheiro em armas russas ou chinesas.

Sugerindo que o mundo "talvez nunca conheça todos os fatos" sobre o assassinato, o presidente dos EUA reafirmou que Washington permanecerá um "parceiro firme" de Riad.

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