Para o professor Roberto Santana a atual crise na Venezuela pode ter seu início localizado na primeira vitória eleitoral de Maduro para a presidência, em 2013. Ele ressalta que atualmente as forças políticas da oposição na Venezuela não reconhecem os resultados eleitorais que deram a vitória novamente ao chavismo, já em 2018. Os grupos de oposição a Maduro afirmam que as eleições que garantiram o segundo mandato ao chavista teriam sido fraudadas.
"Essa postura da direita carece de fundamento, porque a Justiça Eleitoral venezuelana também fez a eleição legislativa de 2015, na qual a oposição saiu amplamente vitoriosa. Então fica uma impressão de que a oposição de direita reconhece quando ela vence e não reconhece quando ela perde", afirmou Santana.
O pesquisador se lembra também do aspecto econômico da crise que assola a Venezuela. Ele aponta que o país está sob sanções econômicas impostas pelo governo de Donald Trump, dos Estados Unidos. As sanções, segundo explica Santana, têm "sufocado" a economia venezuelana e "prejudicando" o povo do país.
"O problema econômico atual da Venezuela ele é de fora para dentro. Há um bloqueio econômico sobre a Venezuela — foi imposto pelo presidente Donald Trump desde o ano passado", ressalta o professor. Ele explica que as sanções econômicas dificultam as principais transações da economia do país, excluído do mercado financeiro dos EUA, o principal do mundo. Essa situação se reflete no conflito político interno. Em seu segundo mandato consecutivo, Maduro assume o governo sem apoio da Assembleia Nacional, o Legislativo venezuelano.
"Os demais poderes são de maioria chavista, ainda são pró-Maduro. A Venezuela, ao contrário do Brasil, ela não tem três poderes, ela tem cinco. Eles consideram a Justiça Eleitoral como um quarto poder e têm um quinto poder que é o poder Moral, que seria junção do que é aqui a Procuradoria Geral da República, da Defensoria Pública e da Controladoria Geral da União", lembra o professor, explicando que a oposição venezuelana controla apenas um dos poderes dentro do país.
"Então, o poder Legislativo do país, hoje não tem poder nenhum, não tem poder eficaz nenhum, pelos próprios erros dessa oposição de direita de não reconhecer e muitas vezes não participar dos processos eleitorais colocados no país. Com isso ela perdeu apoio até de setores sociais que votavam nela, principalmente setores médios.
Após a eleição legislativa de 2015, a Assembleia Nacional venezuelana, de maioria da oposição, passou a confrontar as medidas de Nicolás Maduro, sendo posteriormente penalizada pela Suprema Corte do país, explica o professor. Já em 2017, conforme manifestações violentas eclodiram no país, o governo convocou uma Assembleia Nacional Constituinte para redesenhar a constituição do país. Nesse processo, as eleições presidenciais também foram adiantadas de dezembro para maio de 2018, com o objetivo de apaziguar a crise política.Isolamento regional leva o olhar venezuelano para além do Ocidente
A posse do segundo mandato de Nicolás Maduro sofreu protestos oficiais de diversos países vizinhos, incluindo o Brasil.
Após a inauguração de Maduro, alguns desses países voltaram a se manifestar contra Maduro. O Paraguai chegou a cortar relações diplomáticas com a Venezuela.
Para Roberto Santana, essa situação desenha um isolamento diplomático regional à Venezuela, que deverá contar com o apoio de governos da região alinhados ao perfil ideológico do país. Entre eles, Cuba e Nicarágua.
"[O governo de Maduro] vai apostar, já vem apostando desde o ano passado, com o aprofundamento das relações com China, com Rússia, com Índia, com Turquia, ou seja, voltando a sua economia para a Ásia — que vem se tornando nas últimas décadas o centro da economia mundial — e secundarizando a política com as Américas e com a Europa", explica.
Santana recorda que essa mudança de perspectiva é uma forma de traçar caminhos alternativos aos bloqueios econômicos, o que também inclui a criação da criptomoeda Petro.
O professor acredita que não é possível saber quanto tempo essa situação durará, mas aponta que razões econômicas podem diminuir esse cerco. Ele explica que países como o Brasil e Argentina perdem dinheiro ao diminuir as relações com Caracas.
"Não interessa aos povos latino-americanos que os governos estejam em conflito. Na verdade interessa aos povos latino-americanos a integração da América Latina em todos os sentidos — econômico, social, diplomático, cultural — porque todos os países têm a ganhar com isso", conclui.
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