'Acefalia política': especialistas avaliam renúncia do presidente peruano

© REUTERS / Peruvian Government Palace/HandoutPresidente peruano, Pedro Pablo Kuczynski, durante a mensagem à nação sobre sua renúncia
Presidente peruano, Pedro Pablo Kuczynski, durante a mensagem à nação sobre sua renúncia - Sputnik Brasil
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A renúncia inesperada do presidente peruano Pedro Pablo Kuczynski afetou todo o palco da política latino-americana. A Sputnik falou com especialistas para avaliar o impacto que este evento terá sobre a região.

O analista Pedro Brieger, entrevistado pela Sputnik Mundo, qualificou a renúncia do presidente peruano como inesperada, já que no fim de 2017 o político conseguiu manter o cargo em meio ao escândalo em que era acusado de receber propina da empresa brasileira Odebrecht.

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De acordo com Brieger, a partir desse momento o presidente de Peru "entrou em um período de contradições muito fortes que minaram sua credibilidade frente à opinião pública".

A situação se agravou quando na Internet surgiram vários vídeos que alegadamente "provam que o governo comprou vários votos a troco de obras públicas em algumas regiões", mesmo que até à data não haja evidências que provem a autenticidade dessas gravações.

"Em 22 de março o Congresso deveria considerar o pedido de renúncia [do presidente]. Só podemos adivinhar o quão chocante eram os vídeos, já que o próprio presidente resolveu se demitir antes de ser submetido à vergonha pública no Congresso", comentou o especialista.

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Pedro Brieger assinalou que a turbulência política se desencadeou várias semanas antes da próxima Cúpula das Américas, agendada para os dias de 13 e 14 de abril em Lima. Um dos temas da Cúpula deveria ser a expulsão da Venezuela, depois de Kuczynski cancelar o convite ao presidente Nicolás Maduro. Agora a incerteza que envolve o poder executivo peruano também está se estendendo a este evento.

Quanto ao candidato ao posto presidencial, Brieger acredita que ainda seja cedo demais para fazer previsões se o vice-presidente do país, Martín Vizcarra, substituirá Kuczynski ou se serão realizadas eleições antecipadas.

"A autoridade do presidente ficou seriamente minada, enquanto ele possui várias honras nas organizações internacionais, representando o eixo principal da política neoliberal da região que, como havia sido considerado antes, estava completamente consolidada."

O analista se referiu aos escândalos envolvendo o presidente brasileiro, Michel Temer, e os membros do governo de Maurício Marci na Argentina.

'Presidente fraco' 

Foi essa a definição que outro analista entrevistado pela Sputnik, Sergio Rodríguez Gelfenstein, deu a Kuczynski. O analista recordou que, para manter seu cargo, o presidente teve que negociar com os partidários de Alberto Fujimori um indulto ao ex-ditador.

"Todo o seu governo tem sido extremamente fraco. Há que levar em consideração que ele também possuía minoria no Congresso", destacou.

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Quanto às ligações com Odebrecht, o especialista frisou que estas informações "eram conhecidas antes de ele ter sido candidato".

Gelfenstein assinalou que os últimos cinco presidentes do Peru "foram presos, perseguidos ou julgados".

"Estamos falando sobre uma completa acefalia política. Nem sequer Keiko Fujimori pode gabar-se de ter destituído o presidente, já que ela própria está envolvida no caso Odebrecht", disse.

Nesta situação de "vazio de poder", a Frente Ampla esquerdista "pode se aproveitar" do momento, já que sua candidata, Verónika Mendoza, "quase foi ao segundo turno e não está envolvida em escândalos de corrupção", explicou o analista.

Nesta quarta-feira (21), o presidente do Peru, Pedro Pablo Kuczynski, anunciou sua renúncia. O chefe de Estado peruano, que está no poder há um ano e sete meses, tomou a decisão após uma reunião do Conselho de Ministros em meio à crise provocada por uma suposta compra de votos, em troca de obras e cargos, com o objetivo de barrar um pedido de impeachment no Congresso.

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