Argentina: terreno propício para ressurgimento do nacionalismo croata?

© REUTERS / Argentine PresidencyA presidente da Croácia, Kolinda Grabar-Kitarovic, e o presidente da Argentina, Mauricio Macri
A presidente da Croácia, Kolinda Grabar-Kitarovic, e o presidente da Argentina, Mauricio Macri - Sputnik Brasil
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Nesta semana a presidente da Croácia, Kolinda Grabar Kitarovic, realizou uma visita à Argentina, onde se reuniu com os membros da diáspora croata no país latino-americano. Durante essa reunião, realizada em Buenos Aires, a presidente fez declarações controversas. O colunista da Sputnik Sérvia, Nikola Joksimovic, comenta esse assunto.

"Foi precisamente na Argentina que muitos croatas buscaram e encontraram um espaço de liberdade depois da Segunda Guerra Mundial onde puderam […] apresentar exigências legítimas de liberdade para o povo e a pátria croata", disse ela.

O problema destas declarações reside na história da imigração croata à Argentina na época do pós-guerra, sublinha o autor. Naquela época, muitos integrantes do governo do chamado Estado Independente da Croácia, marionete da Alemanha nazista, se mudaram para a América Latina.

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Um dos destinos mais populares entre eles era a Argentina, governada então pelo presidente Juan Domingo Perón. Uma quantidade enorme de ustashes – nome usado para referir-se aos ultranacionalistas croatas, culpados de extermínio massivo da população não croata dos Bálcãs – se refugiaram na Argentina de Perón, explicou Joksimovic.

Entre eles estava o próprio líder dos ustashes, Ante Pavelic, que foi assessor de Perón. O líder nacionalista croata sobreviveu a um atentado contra a sua vida em 1957 e como consequência emigrou para Espanha onde morreu dois anos depois.

Embora a presidente logo tenha explicado que suas palavras foram mal interpretadas e tenha sublinhado mais uma vez a importância do papel do movimento antifascista na criação da Croácia de hoje, muitos políticos croatas condenaram essas declarações de Grabar Kitarovic.

Grabar Kitarovic costuma fazer declarações conciliadoras em relação à Servia e se mostra a favor de normalizar as relações com o país vizinho. Por outro lado, ela também faz frequentemente declarações parecidas às da sua viagem à Argentina, explicou o autor.

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A presidente croata usa uma retórica diferente consoante o caso, declarou à Sputnik Sérvia o jornalista da edição croata Novosti, Sasa Kosanovic.

"Na companhia da comunidade de direita ela usa um tipo de retórica, na presença da comunidade sérvia usa outro, em outras circunstâncias usa um terceiro tipo de retórica. Ou seja, não há consistência alguma, embora a orientação de direita da presidente seja bem conhecida", afirmou ele.

Mais de 200 mil pessoas de origem croata vivem atualmente na Argentina. A maioria deles tem suas raízes nos imigrantes que chegaram a este país latino-americano antes da Segunda Guerra Mundial. Mas a presidente croata não se dirigia a esta parte da diáspora.

"Ela se dirigia às pessoas que obtiveram uma certa liberdade no regime semifascista de Perón. Os criminosos que deveriam ser julgados por um tribunal chegaram à Argentina por intermédio do Vaticano", sublinhou Kosanovic.

"Mas devido à mudança das circunstâncias […] em vez de acabar numa prisão ou na forca, eles chegaram a países com ditaduras de tipo latino-americano", acrescentou ele.

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Segundo Kosanovic, os descendentes daqueles imigrantes não são responsáveis pelos crimes de seus antepassados. Mas realmente existem muitos que sofreram influência da retórica da ideologia ustashe.

Por exemplo, o famoso ativista argentino de origem croata Tomislav Frkovic, neto do ministro de Recursos Florestais e Indústria Mineira ustashe, insiste que se deve eliminar a herança antifascista da Constituição da Croácia.

O colunista também lembrou o exemplo do jornalista Drago Pilsel, que nasceu em Buenos Aires. Seu pai trabalhou como guarda-costas de Ante Pavelic. Mas o próprio Pilsel se tornou no primeiro jornalista croata que começou a escrever sobre os crimes do Exército croata contra os sérvios nos anos 90.

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