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Vice-presidente dos EUA 'ignora' Temer em visita à América do Sul na próxima semana

© REUTERS / Carlo AllegriMike Pence, vice-presidente dos EUA, durante campanha eleitoral de 2016, em Nova Hampshire, 7/11/2016
Mike Pence, vice-presidente dos EUA, durante campanha eleitoral de 2016, em Nova Hampshire, 7/11/2016 - Sputnik Brasil
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O vice-presidente dos Estados Unidos, Mike Pence, terá uma série de encontros com líderes da América Central e da América Latina na próxima semana, entre os dias 13 e 18 de agosto. Como se tornou frequente recentemente, o Brasil está fora da agenda do vice de Donald Trump.

Em entrevista exclusiva à Sputnik Brasil, o cientista político e professor do Departamento de Relações Internacionais da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), Maurício Santoro, avaliou que o fato do presidente Michel Temer ter sido “esnobado” por Pence evidencia o desprestígio brasileiro no cenário internacional.

“É interessante se você comparar com 10 anos atrás, quando algum líder internacional vinha à região, sempre visitava pelo menos Chile e Brasil, passando por cima da Argentina. Agora é o contrário. Isso dá a dimensão da crise brasileira, com uma recessão profunda e a perda da estabilidade política”, afirmou.

Recentemente, em junho, a primeira-ministra alemã Angela Merkel também evitou visitar o Brasil, preferindo desembarcar em Buenos Aires e na Cidade do México. Já em janeiro, o então presidente francês François Hollande optou por visitar exclusivamente a Colômbia, em sua última oportunidade de visitar a América do Sul.

Para Santoro, o fato de líderes estarem evitando o Brasil não acontece ao acaso. Segundo o cientista político, o fato de dois setores caros à política externa do país – o de construção civil e o de petróleo e gás – estarem no coração da Operação Lava Jato ajuda a minar o prestígio brasileiro perante outras nações neste momento.

“Toda essa atuação das empresas brasileiras no exterior foi colocada em xeque [...]. De 2011 para cá, tivemos cinco ministros de Relações Exteriores diferentes, e a cada entra e sai mudam os postos de cúpula, os secretários, ocasionalmente os embaixadores, e tudo isso dificulta. Além disso, houve uma partidarização da política externa, com uma falta de agenda e objetivos a longo prazo”, explicou.

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O professor da UERJ analisou ainda que o Brasil ser esnobado neste momento é algo até esperado, principalmente se forem considerados os resultados das idas de Temer ao exterior.

“Todas as viagens de Temer têm sido marcadas por situações constrangedoras, sem conseguir encontros privados com chefes de Estado, ao passo que as pessoas o questionam sobre a corrupção no país. Pelo padrão da história brasileira, só tivemos influência externa quando havia estabilidade política em casa e uma economia próspera, o que dava às autoridades brasileiras uma maior influência”, destacou Santoro.

Escalas e objetivos

Anunciada há dois meses, a visita de Mike Pence à América Latina prevê encontros com presidentes e empresários na Colômbia (visita Bogotá e Cartagena), Argentina (passa por Buenos Aires), Chile (visita a Santiago), e ainda um desembarque na Cidade do Panamá, na América Central.

“Durante sua viagem, o vice-presidente vai se reunir com líderes do governo e da comunidade empresarial para reafirmar o compromisso do presidente [Trump] em aprofundar o comércio bilateral e os laços de investimento com a região, e continuar o apoio da Administração na cooperação em segurança, engajamento comercial, agricultura e desenvolvimento de infraestrutura”, informou a Casa Branca em um comunicado.

A principal mensagem de Pence à região deve abordar as políticas da Casa Branca para a região, tocando em pontos espinhosos, como o corte da ajuda financeira fornecida aos países latino-americanos em 2018, determinado pelo governo Trump. Apesar disso, a ênfase que Pence tentará passar ao longo da sua visita é de que a região segue sendo considerada importante pelo governo estadunidense.

A crise da Venezuela também deve ser abordada nos encontros de Pence na Argentina, Chile e Colômbia. Os EUA elogiaram a decisão do Mercosul em suspender por tempo indeterminado o país vizinho, após o que chamaram de “quebra da ordem democrática” por conta da eleição e implementação de uma Assembleia Constituinte, que planeja reescrever a Constituição venezuelana, em vigor desde 1999.

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Na opinião de Santoro, há o risco da crise venezuelana ser colocada no mesmo patamar de Cuba, uma vez que Pence aborde quais são as políticas de Trump em prol da democracia e da estabilidade na região. Todavia, se isso se confirmar será um equívoco, de acordo com o cientista político.

“São situações até opostas. Cuba passa por um processo de reforma do seu sistema político e vinha tendo uma aproximação com os EUA no governo [de Barack] Obama. Houve um baque com Trump, que quer reverter acordos com a ilha. Já a Venezuela vive a pior situação de um país no mundo que não esteja em guerra, com perda de um terço do PIB [Produto Interno Bruto] em quatro anos, escassez de comida, uma inflação de 800% e a deterioração das liberdades civis”, afirmou.

Embora pouco se saiba sobre o quão enfático Pence será quanto aos regimes cubano e venezuelano, o que se espera é que o vice-presidente norte-americano traga mais clareza sobre o que a Casa Branca pretende para sua política externa em torno das duas questões. Santoro possui um palpite a respeito.

“O que pode haver de comum entre os dois países envolve a posição dos EUA para ambos, atuando por meio de sanções, o que representa um retrocesso nas políticas americanas para a região”, concluiu.

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