'Há duplos padrões e abordagem seletiva na mídia internacional em relação à Venezuela'

© REUTERS / Carlos Garcia RawlinsUm manifestante atira um coquetel Molotov, durante os protestos contra o governo em Caracas, na Venezuela, em 10 de abril de 2017
Um manifestante atira um coquetel Molotov, durante os protestos contra o governo em Caracas, na Venezuela, em 10 de abril de 2017 - Sputnik Brasil
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No fim de semana passado, a crise na Venezuela se vinha agudizando, com as manifestações mais maciças desde o início da confrontação entre a oposição e as forças do governo. O editor-chefe da revista Latinskaya Amerika (América Latina, em russo), lançada pela Academia de Ciências da Rússia, Vladimir Travkin, comenta o assunto.

No sábado passado (20), em Caracas se deu o maior protesto popular desde o próprio início da crise em 2013, do qual, segundo a imprensa local, participaram mais de 160 mil pessoas. De acordo com o prefeito do município de Chacao, o opositor Ramón Muchacho, a manifestação resultou em pelo menos 46 mortos e mais de 700 feridos.

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Enquanto a situação continua se agudizando, a edição el Nuevo Herald publicou há poucos dias o vazamento de uma gravação na qual se ouve que o general venezuelano José Rafael Torrealba Pérez teria ordenado aos militares do país para se prepararem para o provável uso de snipers ao dispersarem os manifestantes.

Tal medida já parece algo de muito sério e mostra que a crise venezuelana está atingindo seu verdadeiro auge. O analista Vladimir Travkin comentou sobre quem, a seu ver, pode estar por detrás da nova escalada de tensão interna.

"O governo venezuelano afirma que tenta implantar o socialismo do século XXI, ou seja, realizar uma socialização do capitalismo que lá existe, tentar fazer partilhar aqueles que não costumavam partilhar com aqueles que produzem esses bens", destacou. "Aqueles que antigamente tiravam uma parte leonina desta riqueza ficaram obrigados, no governo de Chávez e Maduro, a partilhar com a população. Nem todos gostam disso na Venezuela, e isto é uma base dos protestos que se dão", continuou.

Porém, o especialista sublinhou que estes protestos não surgem de uma maneira espontânea, mas de modo organizado, com a chegada de fluxos financeiros impressionantes.

"O dinheiro provém daqueles que devem partilhá-lo, daqueles aos quais o tentam tirar. Ou seja, pessoas que, em primeiro lugar, estão ligadas ao capital estrangeiro, principalmente o americano", assegura o especialista, destacando que o governo do país tenta responder e lidar com tais provocações, mas nem sempre com sucesso, e sua popularidade acaba por continuar caindo.

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O especialista também faz questão de lembrar que a oposição, responsável pela organização da maioria dos protestos populares, tem um "trunfo" importante na sua manga — quer dizer, a maioria no parlamento, que lhe permite ditar suas exigências. Pelos vistos, a tensão vai ainda aumentar, ressaltou o entrevistado.

Quanto às medidas radicais que alegadamente terão sido propostas pelo general José Rafael Torrealba Pérez, Travkin realçou que estas podem contribuir para a escalada do conflito e duvidou que as Forças Armadas do país recorressem a elas. Além disso, o analista fez lembrar de que o governo de Maduro já empreendeu toda uma série de medidas diplomáticas para buscar um consenso na sociedade.

"A coisa é que Maduro já repetidas vezes propôs variantes diferentes, variantes diferentes de diálogos, de negociações com a oposição. Houve tentativas para achar um consenso. Além disso, há tentativas de envolver a Igreja Católica. Recordo que o socialismo do século XXI que Maduro está construindo é uma mistura de postulados marxistas e católicos", assinala o especialista, acrescentando que este conjunto de medidas não ajuda Maduro a melhorar a situação no poder, já que "o inimigo está forte".

No final da conversa, Vladimir Travkin analisou a postura da mídia em relação à crise venezuelana e revelou uma espécie de "duplos padrões" e "abordagem seletiva" que existem nesta área. O especialista assinala que as mídias retratam a população como se estivesse à beira da miséria total, mas abafam às vezes os problemas muito mais sérios em outros países da América Latina por motivos ideológicos.

"Dentro do mesmo sistema político da América Latina há diferentes países, vários líderes no poder, uns mais bem sucedidos, outros menos bem sucedidos. A coisa é que várias pessoas ficam a ponto de atacar e há uma vontade de castigar a Venezuela por ela querer pôr e dispor das suas riquezas nacionais. A Colômbia, por exemplo, onde a guerra civil durou por 50 anos e morreram pessoas ao longo de todo este período, nunca foi criticada de mesma forma e teve simpatia da mídia ocidental e da mídia americana em particular", resumiu.

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