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'No Brasil, corrupção é tanto fenômeno impregnado na sociedade como arma de luta política'

© AFP 2023 / Heuler AndreyEx-Presidente da Câmara dos Deputados do Brasil, Eduardo Cunha, chega a Curitiba, em 20 de outubro de 2016, acompanhado pela Polícia Federal
Ex-Presidente da Câmara dos Deputados do Brasil, Eduardo Cunha, chega a Curitiba, em 20 de outubro de 2016, acompanhado pela Polícia Federal - Sputnik Brasil
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No meio da turbulência política e nova onda de investigações no Brasil, o editor-chefe da revista Latinskaya Amerika (América Latina, em russo) lançado pela Academia de Ciências da Rússia, Vladimir Travkin, partilhou à Sputnik sua visão em relação ao futuro do atual governo Temer.

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Na época em que o impeachment da presidente Dilma Roussef ainda se encontrava na fase de construção, muitos, tanto cientistas políticos como cidadãos comuns, afirmavam que o próprio Temer, então vice-presidente, poderia estar participando de esquemas de corrupção semelhantes. Agora, estas suspeitas ganham cada vez mais força.

"Acredito que as acusações contra o presidente atual continuarão surgindo ainda por muito tempo. Há dois objetivos principais dessas acusações: primeiro, consolidar a opinião pública no país e no exterior de que houve uma luta justa contra os atos de corrupção e a ex-presidente, Dilma Rousseff, que se sujeitou ao impeachment, foi destituída de modo justo, tendo sido de modo justo substituída pelo atual presidente. Por outro lado, os opositores de Temer e das forças opositores ao governo de centro-esquerda vão continuar lutando por suas ideias, visando destituir Temer também", partilhou Travkin ao serviço russo da Rádio Sputnik.

De acordo com o analista, a situação é "dificílima", já que se trata não só do presidente atual que foi "qualificado por Dilma como traidor" e "desmoronou a coalizão baseada no PT no poder".

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Levando em consideração que o mandato já está chegando ao seu fim, com as próximas presidenciais marcadas para o ano que vem, "é estimulada a realização de todas as opções possíveis para poder influenciar no resultado das eleições".

"Praticamente a maioria absoluta dos observadores hoje em dia tenta acreditar que o presidente no poder não tem chances de ser eleito no próximo ano, ou seja, receber o mandato por via natural, através da votação geral. Porém, agora ele tenta estabilizar a situação, afirmando que estas acusações contra vários funcionários não devem desestabilizar o governo", explica o analista, adiantando que o presidente já perdeu vários ministros no seu gabinete.

Não vale a pena enumerar todos os acusados de corrupção, mas a coisa importante é que estes funcionários destituídos são "ministros-chave do governo atual, governadores, deputados de vários níveis", o que faz com que a crise política assuma um caráter cada vez mais perigoso. Claro que uma parte das acusações será rechaçada, sublinha Travkin, mas por outro lado, podem surgir novos nomes.

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"Não se pode falar de qualquer tipo de estabilidade no Brasil hoje em dia, está dando sorte para ele", acrescentou.

Neste contesto, surge uma pergunta justificada: será que é possível a convocação das eleições antecipadas, como consequência da perturbação cada vez maior no governo?

"Teoricamente sim, é possível, mas imaginem só: quem se ocuparia destas eleições se o governo estará ocupado em tentar rebater todas estas acusações, sendo que alguns destes ministros-chave, sem dúvida, vai acabar na cadeia? É uma questão seríssima — as eleições presidenciais. Já resta pouco tempo. Na minha humilde opinião, a convocação das eleições antecipadas é muito pouco provável, já que se deve ser preparado para elas. Tanto mais que Lula tem bastante popularidade hoje em dia e é um dos candidatos", realçou o especialista.

Ao discutir com Sputnik a imparcialidade das investigações em curso, Vladimir Travkin expressou que, provavelmente, alguma parte das acusações na verdade tem fundamento, mas em relação a muitos envolvidos, "há mais fatores políticos do que da justiça imparcial".

"Por um lado, a corrupção se tornou um fenômeno impregnado em toda a sociedade, mas por outro — em uma arma muito conveniente de luta política", assinalou, afirmando que também não se pode esquecer a evidente "participação de terceiros" em todos os processos da crise presentes no país latino-americano hoje em dia.

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"A ideia é simples: os americanos querem restaurar sua hegemonia na América Latina. […] Agora se faz tudo para romper as tendências esquerdistas. Olhe só para o Brasil, maior país da região que serve como exemplo para todos os outros países", resumiu o analista, apresentando as situações na Argentina, Venezuela e Equador como uma ilustração desta tendência de "contaminação".

"Friso que temos um candidato bem resoluto em Washington. Neste caso, a resolução pode ter um sentido negativo, tomando em conta os recentes acontecimentos no Oriente Médio e, Deus nos livre, aquilo que pode acontecer na Coreia do Norte", alertou.

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