'Presença militar nas Malvinas ameaça toda a região'

© AP Photo / Natasha PisarenkoMemorial da Guerra das Malvinas, Argentina
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De acordo com Ernesto Alonso, secretário de Relações Institucionais do Centro de Ex-Combatentes das Ilhas Malvinas (CECIM) de La Plata, o alto nível de militarização do território constitui uma "ameaça" para toda a região.

Ernesto Alonso visitou pela quinta vez o arquipélago desde o final do conflito, em que participou como soldado conscrito. Para o argentino, que integra a Comissão Estadual da Memória de Buenos Aires (CPM), a ligação entre o continente e os insulares é fortemente condicionada pela presença militar britânica nas Malvinas.

"Estamos no lugar, que, acredito eu, é o território mais militarizado do mundo, pela quantidade de efetivos. Estamos falando de 3.000 civis e 2.000 militares em um lugar onde existe uma força que ameaça não somente a paz da Argentina, mas também a da região", disse Alonso ao correspondente da Sputnik Mundo, Nicolás Ayala.

© Sputnik / Nicolás AyalaErnesto Alonso, ex-combatente da Guerra das Malvinas
Ernesto Alonso, ex-combatente da Guerra das Malvinas - Sputnik Brasil
Ernesto Alonso, ex-combatente da Guerra das Malvinas

De acordo com o ex-combatente, a base militar britânica situada no território do sul tem como fim "ser o instrumento do poder econômico" para a "exploração de recursos naturais", como a pesca e, "no futuro", os hidrocarbonetos.

No entanto, para o membro do CECIM, também significa "uma porta de entrada para a Antártida".

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"Os interesses que estão aqui em jogo, por ser um ponto geopolítico e estratégico, são imensos. O conflito da Argentina não é exclusivamente pelas Malvinas: estão também as ilhas Sandwich, Geórgias do Sul e a Antártida", destacou o entrevistado.

Alonso também indicou que a presença militar leva à limitação da informação que entra na ilha. Por exemplo, é "praticamente proibido de forma aberta trazer equipamento de televisão via satélite de outros países".

Por isso, "toda a informação é obtida através da BFBS, o sinal das Forças Armadas britânicas em todo o mundo".

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O membro do CECIM disse que a comitiva da CPM, que esteve nas Malvinas até o dia 18 de março, não aceitou se reunir com as autoridades das ilhas por considerá-las "ilegítimas", em sintonia com a "reclamação histórica da República Argentina" para que o Reino Unido cumpra "com mais de 40 resoluções da ONU que pedem as partes a sentar-se e negociar".

No entanto, os ex-combatentes vão "continuar tentando estabelecer alguns laços" entre os ilhéus e o continente, que se romperam com o conflito armado de 1982. Antes da guerra, Alonso destacou que "havia uma comunicação contínua" e laços com a Argentina, como voos regulares, a presença de empresas estatais e de professores oriundos do continente.

"Infelizmente o que quebrou essa ligação entre a população da ilha com o continente foi o conflito armado e a ditadura militar. Estamos cansados de explicar que não foi uma decisão do povo argentino, mas a decisão de uma ditadura militar", disse Alonso.

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A Sputnik entrevistou o referente do CECIM no Monte Longdon, palco de uma das batalhas mais sangrentas da Guerra das Malvinas. Ali perderam a vida muitos jovens que, como Alonso, foram conscritos e enviados para lutar sem praticamente preparação.

Pouco antes da entrevista, o ruído e a coluna de fumaça que saiu da explosão programada de uma mina terrestre lembrou a proximidade do conflito. Alonso fazia parte do Regimento VII, "o qual teve o maior número de baixas" durante a Batalha de Monte Longdon. Por isso, o considera "um local da memória".

"Viemos aqui para levantar uma série de assuntos e um deles é a falta de justiça pelos crimes cometidos contra os próprios soldados argentinos pelas Forças Armadas Argentinas. Fizemos alguns pontos nos lugares onde sabemos que houve este tipo de tortura", explicou o ex-combatiente.

Entre as vexações a que foram submetidos os jovens argentinos por parte dos seus superiores, estão torturas em poços de água e enterramentos. Em muitos casos, a responsabilidade pela morte dos soldados "está na consciência das Forças Armadas argentinas".

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