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Forças Armadas ou agronegócio: quem ficará com a vaga de vice de Bolsonaro?

© Foto / Carolina Antunes / Palácio do Planalto / CCBY 2.0O presidente da República Jair Bolsonaro (foto de arquivo)
O presidente da República Jair Bolsonaro (foto de arquivo) - Sputnik Brasil, 1920, 20.06.2022
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A Sputnik Brasil conversou com especialistas para entender quais as intenções e estratégias do presidente Jair Bolsonaro em sua busca pela reeleição. Apesar de Tereza Cristina aproximar a campanha do agronegócio e do eleitorado feminino, o general Walter Braga Netto tem maior proximidade com o chefe do Executivo.
A princípio, o vice-presidente da República pode não ter grandes atribuições, mas o cargo vem ganhando cada vez mais visibilidade no Brasil. Enquanto a chapa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva já tem o nome do ex-governador Geraldo Alckmin definido desde abril, o presidente Jair Bolsonaro indica que protelará a escolha de seu vice para as eleições de 2022.
Após ter o general Hamilton Mourão como segundo na linha sucessória há quatro anos, Bolsonaro busca novo nome para tentar a reeleição, em outubro. Até o momento, o presidente acena para dois setores que deram sustentação à sua candidatura no último pleito: os militares e o agronegócio, nas figuras do ex-ministro da Defesa e da Casa Civil Walter Braga Netto e da ex-ministra da Agricultura Tereza Cristina, respectivamente.

"No limite... Quanto mais tarde melhor. Porque essa pessoa que, a princípio, deve ser a vice está também se adaptando... Porque se eu falo que é o 'João', você hoje vai para cima do 'João', e pode ser que ele não esteja preparado para responder as perguntas que vocês merecem", despistou Bolsonaro em entrevista a repórteres no Palácio do Planalto, conforme noticiou o jornal Extra, na última segunda-feira (13).

Na ocasião, o presidente aproveitou para elogiar Braga Netto, afirmando que o ex-interventor federal no Rio de Janeiro (2018–2019) é "um nome palatável, de consenso e que sabe conversar com o Parlamento". Mas frisou que alguns aliados gostariam de ver como vice a ex-ministra da Agricultura, que, segundo ele, seria "um excelente nome também".
© Foto / Alan Santos / Palácio do Planalto / CCBY 2.0O presidente da República Jair Bolsonaro e o general Braga Netto, em Brasília, em 18 de fevereiro de 2020
Presidente da República, Jair Bolsonaro e general Braga Netto, em Brasília, 18 de fevereiro de 2020 - Sputnik Brasil, 1920, 20.06.2022
O presidente da República Jair Bolsonaro e o general Braga Netto, em Brasília, em 18 de fevereiro de 2020. Foto de arquivo
O professor de ciência política José Paulo Martins Júnior, da Universidade Federal Fluminense (UFF), avalia que Braga Netto está mais alinhado ao histórico político de Bolsonaro. Para o especialista, com o ex-ministro da Defesa e da Casa Civil o presidente teria "não uma garantia, mas maior tranquilidade" em eventuais conspirações do Legislativo contra seu mandato, devido à proximidade de classe.
Tereza Cristina é deputada federal desde 2015 e conta com prestígio no bloco do "centrão", no Congresso Nacional, que dá sustentação ao governo.

"Sem dúvida é o militar o campo que ele transita melhor, haja vista os milhares de militares em cargos de confiança. Um pouco diferente da Tereza Cristina, que certamente não é alguém com quem Bolsonaro tinha relação antes. Ela comandou um ministério importante, fez uma boa figura, diferentemente de outros ministros. Manteve-se no governo desde o início, fiel a Bolsonaro, mas é política. Isso pode preocupar o presidente", ressaltou Martins Júnior.

O cientista político Danilo Bragança, professor de relações internacionais da Universidade Federal Fluminense (UFF) e especialista em Defesa, não acredita que o presidente fará movimentos em busca de ampliação de sua base. Segundo ele, além de "mal assessorado", Bolsonaro já avalia que tem "base extensa o suficiente".

"Não há nada que indique, neste momento, que o vice não será um general de novo. E o Braga Netto faz parte de uma linha de pensamento dentro das Forças Armadas ainda mais radical e próxima ao bolsonarismo do que o Mourão", disse Bragança, que também é pesquisador do Laboratório de Estudos sobre Política Externa Brasileira da UFF (LEPEB-UFF).

Para o especialista, por mais que o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, dê suporte a Bolsonaro, "quem sustenta o governo, na prática, são as Forças Armadas", representada, em sua ala mais radical, por Braga Netto.

"Mourão talvez tenha sido um casamento de conveniência [em 2018], e agora Bolsonaro casaria por afinidade, por gosto", disse.

© Folhapress / Antonio Molina /FotoarenaPresidente do Brasil, Jair Bolsonaro, e ex-ministra da Agricultura Tereza Cristina durante comemoração do Dia Internacional da Mulher no Palácio do Planalto, em 8 de março de 2022
Presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, e ex-ministra da Agricultura Tereza Cristina durante comemoração do Dia Internacional da Mulher no Palácio do Planalto, em 8 de março de 2022 - Sputnik Brasil, 1920, 20.06.2022
Presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, e ex-ministra da Agricultura Tereza Cristina durante comemoração do Dia Internacional da Mulher no Palácio do Planalto, em 8 de março de 2022. Foto de arquivo

Tereza Cristina como estratégia contra Lula?

Para Martins Júnior, Bolsonaro já tem boa relação com empresários do agronegócio e não seria uma indicação de Tereza Cristina que ajudaria ou impediria um eventual crescimento da chapa de Lula no setor.

"Acho que simplesmente consolidaria o avanço de Bolsonaro no agronegócio e talvez dificultasse um pouco para Lula e Alckmin", afirmou.

Danilo Bragança avalia que, independentemente da chapa nas eleições presidenciais, a boa relação de Bolsonaro com o agronegócio continuará.

"Mesmo em situação de insegurança alimentar, o agronegócio segue mantendo bons patamares de produtividade, não necessariamente por políticas do Bolsonaro, mas por afagos, subsídios que foram dados ao setor", frisou.

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Para ele, Tereza Cristina seria uma escolha "mais racional", devido à maior aceitação no mercado e em outros setores da economia, representando uma "moderação" na campanha.

"Mas não acho que o momento agora seja o da moderação. Não sei se essa é a vontade da base eleitoral mais fiel, que vai até reclamar que ela não é da base bolsonarista e que o presidente estaria se vendendo para o centrão, e isso, na prática, pode ser mais um tiro no pé", ponderou.

Impactos no eleitorado feminino

De acordo com a última pesquisa eleitoral do instituto Datafolha, Bolsonaro está 21 pontos percentuais atrás de Lula em intenções de voto no primeiro turno. No recorte entre as mulheres, a distância sobe para 26 pontos. De 48% a 27% no geral, as intenções são de 49% a 23% para Lula entre elas.
Segundo Martins Júnior, politicamente "seria mais importante" ter uma vice mulher para "tentar romper a resistência" que Bolsonaro tem no público feminino. Mas o especialista avalia que para o presidente o quesito não teria peso maior do que a fidelidade do ocupante do cargo.

"Ela é política, pode azeitar mais sua relação com políticos, mas Bolsonaro teme a indicação de nomes políticos como vice, porque vice é alguém que ele não pode demitir e tem que engolir até o final. Isso pode ser arriscado para ele", afirmou.

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Já Danilo Bragança não acredita que Tereza Cristina seria o nome ideal para alavancar a chapa em meio ao eleitorado feminino. Para ele, o perfil das eleitoras de Bolsonaro seria mais atraído, por exemplo, pela ex-ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos Damares Alves, pré-candidata ao Senado pelo Distrito Federal.

"Se a escolha fosse por Damares, talvez a questão com o eleitorado feminino fosse mais acentuada, mas Tereza Cristina não representa a pauta da mulher na visão do eleitorado feminino. Isso não converteria votos", avaliou.

Segundo ele, até a pré-candidata à Presidência pelo MDB, Simone Tebet, "teria mais chance de amealhar" o segmento pela representação, histórico e combatividade no Senado.

"Estamos falando de um 'conceito Damares' de feminilidade, de família e de direitos humanos. A Tereza se propôs a uma atuação bem mais discreta na vida política, mantendo-se alheia às crises criadas pelo governo, exatamente porque era a pauta de costumes que fazia a diferença", disse.

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