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Após missão institucional que percorreu vários países, o que os investidores árabes miram no Brasil?

© Foto / Divulgação / Presidência da República Secretário Especial de Assuntos Estratégicos, Flávio Rocha, em reunião com o presidente da Câmara de Comércio do Bahrein, Sameer Abdulla Nass, em 29 de maio de 2022
Secretário Especial de Assuntos Estratégicos, Flávio Rocha, em reunião com o presidente da Câmara de Comércio do Bahrein, Sameer Abdulla Nass, em 29 de maio de 2022 - Sputnik Brasil, 1920, 07.06.2022
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A Missão Institucional e Comercial a Países Árabes e do Leste Europeu terminou nesta terça-feira (7), após um périplo de 60 pessoas — entre autoridades federais, empresários, think tanks e representantes de setores estratégicos — que percorreu nove países desde o dia 18 de maio na tentativa de captar investimentos para o Brasil.
De acordo com dados compilados pela Câmara de Comércio Árabe-Brasileira, as exportações brasileiras para a Liga Árabe somaram US$ 14,42 bilhões (R$ 70,22 bilhões) em 2021, alta de 26,15% sobre o ano anterior. Na percepção da entidade, trata-se do melhor resultado dos últimos oito anos.
Mas quais os setores mais estratégicos para os investidores árabes em relação ao maior país da América do Sul?
A Sputnik Brasil conversou com especialistas na tentativa de entender o porquê do fortalecimento de laços do governo de Jair Bolsonaro (PL) com os países do Oriente Médio, além dos impactos que isso traz às relações comerciais entre Brasília e a chamada Liga Árabe.
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O secretário-geral da Câmara de Comércio Árabe-Brasileira, Tamer Mansour, participou das tratativas. Segundo ele, embora não tenha havido fechamentos de parcerias concretas, a missão foi benéfica ao país.

"A missão foi super positiva. [...] Começamos por Marrocos, Egito, Arábia Saudita, Omã, Bahrein, Catar, Emirados Árabes Unidos, Kuwait, Iraque, ou seja, nove países. Tivemos resultados bastante seguros em diversas áreas. O mais importante é essa integração governamental e comercial que agrega bastante a importância do Brasil para os países árabes, especialmente na área de segurança alimentar e defesa", avaliou.

Mas é nas áreas de exportação de alimentos e investimento em fertilizantes que está a joia da coroa para a Liga Árabe, segundo Mansour.
Ele citou como exemplo a entrada no Brasil da gigante marroquina OCP no Porto de Itaqui, em São Luís, no Maranhão.
A multinacional, que é líder mundial na produção de fósforo e derivados, fez o anúncio cerca de uma semana antes do início da missão. As novas instalações consistirão em uma fábrica e um centro de distribuição.
A empresa detém 70% das reservas globais de fósforo, e os insumos produzidos vão desde fertilizantes até suprimentos baseados no elemento químico para alimentação animal — o que seria altamente favorável para o agronegócio brasileiro.

"Não tivemos retorno de parcerias concretas. Mas, por exemplo, no Egito há bastante interesse na área de defesa e também na área da segurança alimentar. Na Arábia Saudita e no Kuwait há bastante interesse por parte de investidores no Brasil, para investirem especialmente no setor de segurança alimentar. Acho que nos próximos dias teremos realizações sólidas", projetou.

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Ainda que lamente as restrições impostas à Rússia em decorrência de sua operação militar especial na Ucrânia, ele observa que é difícil que o Brasil substitua o trigo oriundo do mar Negro, tão essencial para muitos países do Oriente Médio.
Por outro lado, ele entende que os laços da Liga Árabe com o Brasil podem se estreitar mais ainda na área de fertilizantes.
"É muito difícil para curto ou médio prazo que o Brasil substitua essas quantidades oriundas da Ucrânia e da Rússia. Infelizmente, por todas essas restrições internacionais, isso abre um pouco mais as ligações entre os países árabes e o Brasil, especialmente na área de fertilizantes e petroquímicos, como potássio, entre outros", apontou Mansour.
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'Boia de salvação': Brasil, Liga Árabe e contexto geopolítico

Embora Bolsonaro tenha feito duas viagens em comitiva presidencial para o Oriente Médio em um período de três anos, a Missão Institucional e Comercial a Países Árabes e do Leste Europeu foi um ponto de contato que não trouxe resultados concretos — ao menos até agora.
Para Leonardo Paz, analista de Inteligência Qualitativa no Núcleo de Prospecção e Inteligência Internacional da Fundação Getulio Vargas (FGV NPII), o incremento das relações com os países árabes vem como uma "espécie de boia de salvação" ante as dificuldades que o governo Bolsonaro teve no âmbito da política externa desde o seu início.
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Isso porque desde o seu início o governo Bolsonaro apostou na aproximação e alinhamento com o ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump, que tentou a reeleição em 2020 com apoio explícito do mandatário brasileiro e perdeu a disputa.
O chefe do Executivo brasileiro, por sua vez, não mantém contato com o atual mandatário, Joe Biden.

"Desde então a política externa brasileira está perdida. Houve, também, um afastamento muito duro do Brasil em relação a outros países, especialmente os europeus, por causa das queimadas na Amazônia. Bolsonaro vai se distanciando de [Emmanuel] Macron [presidente da França], de [Angela] Merkel [ex-chanceler da Alemanha], de todos", relembrou Paz.

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Ele prossegue apontando que a situação se agrava com o ex-ministro das Relações Exteriores Ernesto Araújo, que chegou a dizer que o Brasil era um "pária mesmo".
"Nesse contexto, os países árabes surgem como uma espécie de boia de salvação", opina o especialista, citando o conservadorismo como um fator de aproximação entre o governo brasileiro e os governos de alguns países árabes. "É com essa capacidade de atrair esses valores mais conservadores que ele consegue alguma coisa em política externa", argumenta.
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Basicamente, com essa aproximação, são valores de comércio que o governo brasileiro busca, afirma o analista, citando como exemplo a Expo Dubai, no ano passado, quando um xeique disse que compraria dois times de futebol do Brasil — negócio que, no entanto, jamais se concretizou.

"Ele tenta atingir essas questões de comércio com os países árabes para obter vitórias e usá-las para fins eleitorais. Porém nenhuma dessas conquistas chegou de fato. Ele tentou aproximação por falta de opção, com poucos resultados. Não tenho informação de que ele teria criado algo de facilitação ou de baixar barreiras de importação, por exemplo", disse.

Embora crítico do alinhamento com agendas consideradas mais "reacionárias", o especialista sublinha que "a postura diplomática do Brasil, historicamente, é de dialogar com o mundo" e "nunca é ruim a aproximação".
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