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Projeto da maior mina de urânio do Brasil entra em nova rodada de análise e pode ganhar licença

© AFP 2023 / Fars NewsAmostras de urânio enriquecido
Amostras de urânio enriquecido - Sputnik Brasil, 1920, 10.04.2022
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Um dos itens na lista de prioridades do governo Bolsonaro, programa para jazida no Ceará avança e ganha audiências públicas liberadas pelo IBAMA. Entretanto, ambientalistas e população local temem por evolução do projeto que pode trazer grandes riscos de radiação.
O processo de licenciamento do maior empreendimento de exploração de urânio do Brasil, o Projeto Santa Quitéria, no Ceará, voltou a progredir, segundo o jornal Folha de São Paulo.
No projeto conjunto de mineração na jazida de Itataia, localizada entre os municípios de Santa Quitéria e Itatira, a 217 km de Fortaleza, o fosfato (que representa mais de 90% do volume de minério) e o urânio são encontrados de forma associada.
O intuito da exploração do local é produzir fertilizantes fosfatados de alto teor destinados à agricultura, assim como fosfato bicálcico e concentrado de urânio para produção de energia elétrica, conforme informado pelo site das Indústria Nucleares do Brasil (INB) do governo federal.
© Folhapress / Sérgio LimaConcentrado "Yellow Cake", produzido pela usina da Indústrias Nucleares do Brasil S.A. (INB), durante análise no laboratório da empresa. O concentrado é resultado da aplicação de ácidos sobre o urânio em estado mineral
Concentrado Yellow Cake, produzido pela usina da Indústrias Nucleares do Brasil S.A. (INB), durante análise no laboratório da empresa. O concentrado é resultado da aplicação de ácidos sobre o urânio em estado mineral - Sputnik Brasil, 1920, 10.04.2022
Concentrado "Yellow Cake", produzido pela usina da Indústrias Nucleares do Brasil S.A. (INB), durante análise no laboratório da empresa. O concentrado é resultado da aplicação de ácidos sobre o urânio em estado mineral
A Folha relata que o projeto entrou agora em uma nova rodada de análises e que as audiências públicas já foram liberadas pelo IBAMA. Os debates devem ocorrer nos próximos três meses e prometem ser intensos. Essa é a terceira tentativa do governo para conseguir licença e começar a operar no local.

"O projeto do Complexo Industrial Santa Quitéria se encontra em fase de obtenção de licenciamento ambiental, e deverão acontecer audiências públicas, a serem convocadas pelo órgão ambiental, as quais contribuirão para a devida instrução técnica do projeto, bem como para a integração com a comunidade local e regional", disse a INB em nota enviada ao jornal.

Desde o começo, a proposta têm grupos que combatem seu avanço, como movimentos sociais, indígenas e pesquisadores, os quais, através de estudos e pareceres, apontam para os altos riscos de contaminação por radiação.

"Dizem que esse projeto vai trazer emprego, desenvolvimento, mas também pode trazer morte e está tirando o nosso sono", afirmou Aroerê Tabajara citado pela mídia, que mora na aldeia Olho da Guinha, área de influência do projeto.

Segundo a mídia, a contaminação de ar e água com radiação é a principal preocupação. O processo de mineração libera material particulado que é carregado pelo vento e tende a se acumular no ambiente. A mina do projeto Santa Quitéria é a céu aberto, facilitando a dispersão de material radioativo e minérios pesados.
Os críticos batem de frente com o governo Bolsonaro que tem o complexo industrial no Ceará e a mineração de urânio em geral no país na lista de prioridades. De acordo com a mídia, o ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, é um entusiasta da fonte nuclear e tem se empenhado para viabilizar a agenda.
Pastilha de urânio produzida na Indústrias Nucleares do Brasil S.A. (INB), no Rio de Janeiro (foto de arquivo) - Sputnik Brasil, 1920, 03.11.2021
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Entretanto, de acordo com Aroerê Tabajara, se depender da mobilização local, o projeto volta para gaveta. Nas proximidades da jazida, estão localizadas 35 aldeias de oito etnias, há ainda 16 quilombos e várias pequenas propriedades rurais.
Mesmo com os já conhecidos riscos que o empreendimento pode levar a população local, ainda existe falta de dados sobre o monitoramento da radiação gama, da deposição de poeira radioativa, da contaminação dos solos, da contaminação da água da chuva e da cadeia alimentar, bem como o fato de nem os trabalhadores saberem a que níveis de radiação podem ser expostos.
Urânio no barril (imagem de arquivo) - Sputnik Brasil, 1920, 06.01.2022
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Raoni Adão Jonusan, doutor em Ciências e Técnicas Nucleares pela UFMG citado pela mídia, diz que no Brasil "a energia nuclear foi desenvolvida pelos militares, o que alimenta até hoje a cultura do sigilo" e colabora para desinformação.
"É preciso mudar isso, porque as pessoas têm direito a conhecer e a monitorar os riscos, e cobrar para que os melhores procedimentos sejam implantados. Sem isso, as pessoas vão continuar trabalhando contra o que não conhecem."
O projeto Santa Quitéria prevê um investimento de R$ 2,3 bilhões e a geração de 11 mil empregos, no entanto, os riscos ambientais e de saúde para os que trabalham e moram perto do local são bastante altos.
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