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Economista: medidas 'populistas' de Bolsonaro não reduzem preços e focam na reeleição

© Folhapress / Mathilde MissioneiroPessoas fazem compras em supermercado de classe média em São Paulo, 31 de agosto de 2021.
Pessoas fazem compras em supermercado de classe média em São Paulo, 31 de agosto de 2021. - Sputnik Brasil, 1920, 23.03.2022
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A inflação no Brasil segue em alta, pressionada pelo preço dos combustíveis e pela influência da instabilidade internacional. A Sputnik Brasil ouviu um economista para discutir a situação e os desdobramentos de medidas anunciadas pelo governo federal, descritas como "ineficientes" e de "interesse eleitoral" pelo especialista.
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) aponta que a inflação no Brasil está no patamar de 10,54% no acumulado dos últimos 12 meses, três vezes acima do centro da meta estabelecida pelo Banco Central — 3,5%. Entre os itens de maior peso nesse indicador está o preço dos combustíveis. Ajustados segundo o mercado internacional, produtos como a gasolina e o diesel se tornaram pivôs da pressão inflacionária no país.
O economista André Braz, professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV), salienta que em 2021 os combustíveis tiveram forte impacto sobre a inflação no Brasil — que fechou o ano em 10,06%, conforme dados do IBGE. Ele diz que o aumento dos preços no segmento de energia ameaça a economia brasileira encarecendo a atividade industrial e o setor de serviços.

"O Brasil é um país muito dependente de transporte rodoviário. O óleo diesel movimenta, além da nossa frota rodoviária, as máquinas no campo. Então vários produtos acabam chegando mais caros nos grandes centros urbanos porque o frete fica mais caro. As máquinas agrícolas têm seus custos de produção aumentados, o que pode refletir também no agronegócio, no aumento do preço dos itens colhidos no campo", explica o pesquisador à Sputnik Brasil, citando ainda o efeito nas tarifas de ônibus urbanos.

© Folhapress / Evandro LealPostos de Porto Alegre reajustaram os valores da gasolina em 7 de outubro de 2021. O aumento na bomba foi de R$ 0,20 no litro do produto.
Postos de Porto Alegre reajustam os valores da gasolina na manhã desta quinta-feira. O aumento na bomba foi de R$ 0,20 no litro do produto - Sputnik Brasil, 1920, 23.03.2022
Postos de Porto Alegre reajustaram os valores da gasolina em 7 de outubro de 2021. O aumento na bomba foi de R$ 0,20 no litro do produto.
Braz ressalta que a crise na Ucrânia agrava a pressão sobre os preços no Brasil devido ao impacto na precificação do petróleo e de grãos, como no caso do trigo, que reflete em produtos como pão, biscoitos e massas. O economista aponta que a instabilidade dos preços é global e o processo de adaptação no país deve demorar.

"Nesse tempo de ajuste, os preços podem se manter elevados, e isso vai gerar um desafio maior para o mundo todo. E o Brasil já vem com um processo inflacionário mais alavancado, então a política monetária vai ter que trabalhar mais para conter isso. A gente não vai ver a nossa economia reajustada rapidamente. O processo de ajuste é lento e vai depender da estratégia que o governo escolher para os anos seguintes", avalia.

Ele também salienta que os aumentos dos preços inspiram uma reação do Banco Central, uma vez que a inflação segue muito acima da meta estabelecida. Para Braz, a medida tomada tem sido o aumento da taxa de juros, que há um ano estava em 2,75% e agora está em 11,75%, tendente a subir ainda mais. Como efeito colateral, reforça, a economia do Brasil deve crescer menos.

"As previsões de crescimento do PIB [Produto Interno Bruto] deste ano são muito baixas. Então, com o PIB baixo, a gente acaba vendo as oportunidades de emprego e renda desaparecerem. Uma chance de aquecer a atividade seria combater essa inflação o mais rápido possível e tentar fazer com que esses juros recuem, abrindo espaço para a tomada de crédito, para a retomada de financiamento", indica o pesquisador, ressaltando que com os juros altos, empresários e famílias tendem a investir menos.

Medidas fiscais do governo Bolsonaro visam à reeleição e não têm impacto real

Diante do cenário de pressão inflacionária, o economista acredita ainda que o atual governo tem mostrado interesse em medidas fiscais como "propaganda política" devido ao ano eleitoral, em desacordo com a autoridade monetária — o presidente Jair Bolsonaro está em busca da reeleição.

"Nesse período a gente tem visto medidas populistas, que não têm muito efeito, mas que são a tentativa do governo de mostrar para a população que está trabalhando. Então se vê corte de impostos, concessão de 13º antecipado para idosos, saque do Fundo de Garantia — uma série de coisas que são um pouco desafiadoras para a política monetária", afirma Braz.

© Foto / Isac Nobrega / Palácio do Planalto / CC BY 2.0Presidente da República Jair Bolsonaro durante reunião com o ministro da Economia Paulo Guedes.
Presidente da República, Jair Bolsonaro durante reunião com o Ministro da Economia, Paulo Guedes - Sputnik Brasil, 1920, 23.03.2022
Presidente da República Jair Bolsonaro durante reunião com o ministro da Economia Paulo Guedes.
Na segunda-feira (21), o governo Bolsonaro anunciou cortes de impostos na importação do etanol e de seis alimentos — café, margarina, queijo, macarrão, açúcar e óleo. Segundo a gestão, a medida seria uma forma de conter o impacto da inflação sobre a população. Conforme diz o professor da FGV, tais ações não têm efeito prático na vida do consumidor, trarão custos aos cofres públicos e funcionarão apenas até o fim do ano.

"Medidas como essa estão sendo divulgadas a todo momento. Semana passada foi o IPI [Imposto sobre Produtos Industrializados], sobre os bens duráveis. Nesta semana foi o corte de impostos de importação de uma série de itens ligados à cesta básica. O meu receio é de que esse esforço todo não chegue exatamente ao consumidor, porque os preços do trigo, da soja, por exemplo, são preços internacionais. Então tira o imposto de importação, mas o preço do grão continua subindo, e o efeito líquido, que seria a redução do preço na gôndola do supermercado, o consumidor não vê", explica.

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