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Dependência da China impede o desenvolvimento do setor de energia no Brasil?

© STR/AFPFuncionários trabalham em meio a placas fotovoltaicas.
Funcionários trabalham em meio a placas fotovoltaicas. - Sputnik Brasil, 1920, 07.03.2022
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Por que o futuro da energia brasileira passa pela fuga da dependência da China? Em conversa com a Sputnik Brasil, o pesquisador José Arimathea Oliveira explicou os principais problemas energéticos nacionais, levantando soluções e perspectivas — mas elas passam essencialmente por uma emancipação dos chineses.
Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostraram que as tarifas de energia elétrica, nos últimos 12 meses, acumularam alta de 27,02%. O aumento no valor da conta de luz é sentido diretamente no bolso dos brasileiros, sobretudo com a chegada do verão e das altas temperaturas.
A "culpa", segundo recentes declarações do Governo Federal, é da falta de chuvas que assolou o país nos últimos anos. Em agosto de 2021, em função da escassez hídrica, dados do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) apontaram que a geração de energia por termelétricas bateu recorde no Brasil.
O debate envolvendo matriz energética no Brasil é cheio de contradições e possíveis alternativas. Há quem apoie o desenvolvimento de usinas nucleares, termelétricas e até mesmo hidrelétricas. Outros sugerem que o uso de energia verde, como eólica e solar, são os caminhos para o futuro do país.
© Foto / PixabayEnergia solar.
Energia solar - Sputnik Brasil, 1920, 07.03.2022
Energia solar.
O debate, embora saudável, "precisa ser claramente definido e orientado por uma política de Estado". Essa é a opinião do professor José Arimathea Oliveira, da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), que apresentou, em entrevista à Sputnik Brasil, qual seria o melhor caminho para evitar os constantes aumentos na conta de luz, garantindo um setor de energia elétrica forte, independente e sustentável.

'País está vulnerável'

Ao analisar o setor energético do Brasil, Oliveira entende que "estamos diante de um problema muito sério". Ao investir sua matriz no setor hidrelétrico, o país se tornou dependente dos ciclos de chuva e água.
E há um problema nisso: as mudanças climáticas provocadas no mundo pela ação humana vêm prolongando os períodos de seca, afetando principalmente as represas.
CC BY 4.0 / CONAE / Portal oficial do Estado da Argentina / Imagem recortadaFormação de ilhas no meio do rio Paraná, na Argentina, provocada pela seca na bacia superior, no Brasil.
Formação de ilhas no meio do rio Paraná na Argentina, provocada pela seca na bacia superior, no Brasil - Sputnik Brasil, 1920, 07.03.2022
Formação de ilhas no meio do rio Paraná, na Argentina, provocada pela seca na bacia superior, no Brasil.
Embora seja um segmento de energia considerado limpo (verde), especialmente quando comparado com usinas à base de petróleo ou carvão, o "aparecimento cada vez maior de alterações ambientais causadas pelas mudanças climáticas coloca o Brasil em uma posição vulnerável".

De acordo com ele, "dependemos da água, e o ciclo da água e a formação das chuvas foram afetados pelas mudanças climáticas. Isso gera as secas e compromete o abastecimento das represas. Isso liga o sinal amarelo para a escassez de eletricidade no país".

Vale lembrar que, em fevereiro, a ONS reduziu as projeções de chuvas em hidrelétricas e diminuiu a expectativa para carga. O sistema atingiu seu pior momento em setembro de 2021, quando as usinas tinham apenas 16% de volume hídrico. Esse foi um fator importante para os consecutivos aumentos nas tarifas de energia elétrica.
© Folhapress / Ernesto Carriço/EnquadrarFogo consome vegetação na maior área inundada do mundo, o Pantanal, que sofre com pior seca dos últimos 50 anos e as queimadas que devastam parte da flora e da fauna local.
Fogo consome vegetação na maior área inundada do mundo, o Pantanal, que sofre com pior seca dos últimos 50 anos e as queimadas que devastam parte da flora e fauna local. - Sputnik Brasil, 1920, 07.03.2022
Fogo consome vegetação na maior área inundada do mundo, o Pantanal, que sofre com pior seca dos últimos 50 anos e as queimadas que devastam parte da flora e da fauna local.
Para evitar a dependência das forças da "mãe natureza", o professor apontou alternativas, citando boas experiências no processo de transição energética, com destaque para a eólica e a solar.
Em janeiro deste ano, o presidente Jair Bolsonaro sancionou uma lei que criou o marco legal da geração própria de energia, conhecida como geração distribuída. Ela se dá, por exemplo, com o uso de painéis fotovoltaicos. Quem faz uso de energia solar recebe um "subsídio" por não pagar pelo custo de distribuição.
Em linhas gerais, um consumidor costuma pagar pela energia consumida, pela transmissão e pelos investimentos que uma distribuidora faz para montar a rede de abastecimento. Hoje, quem já faz a própria geração de energia não paga tarifas de distribuição. O projeto mantém esse benefício até 2045.
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A culpa é da China...

A ideia, apesar de promissora, tem um grande problema: a dependência do mercado chinês. O gigante asiático responde por 99% da importação de painéis e peças fotovoltaicas pelo mercado brasileiro. Em 2019, o Brasil consumiu cerca de US$ 1 bilhão (R$ 5,2 bilhões) em equipamentos dessa natureza.
Além disso, a China planeja contar com 450 gigawatts (GW) de capacidade de geração de energia solar e eólica no Gobi e em outras regiões desérticas. O presidente, Xi Jinping, prometeu elevar a capacidade eólica e solar total do país para pelo menos 1.200 GW e limitar sua emissão de carbono até 2030.
© AFP 2023 / CESAR MANSOManutenção de baterias solares (foto de arquivo).
Manutenção de baterias solares (foto de arquivo) - Sputnik Brasil, 1920, 07.03.2022
Manutenção de baterias solares (foto de arquivo).
Os planos chineses, anunciados no último sábado (5), sempre fortemente financiados por políticas de Estado, são um entrave para o Brasil deslanchar no segmento de energia solar. O país asiático, com essas mudanças, também faz investimentos massivos na produção de insumos para o funcionamento dessa indústria.
Desta forma, quando as peças chinesas se tornam mais atraentes no mercado internacional (e Bolsonaro, vale lembrar, zerou os impostos sobre placas de energia solar da China), o Brasil tende a perder força ante a concorrência.
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E como escapar dessa dependência? Para José Arimathea Oliveira, será preciso promover "investimento nas políticas de financiamento da energia fotovoltaica". Ele explicou que o segmento tem grande potencial no país, pois "pode aproveitar as condições climáticas de um território que tem sol o ano inteiro".
"É possível pensar em um polo diluído de energia elétrica. Precisamos pensar que cada telhado pode gerar energia elétrica", afirmou.

'Há boas perspectivas para o Brasil'

Para o especialista, além do fator "mudanças climáticas" há outras razões para que o Brasil invista no segmento de transição, como a crescente demanda europeia por energia somada à de outros mercados internacionais.

"A energia solar é uma realidade viável no Brasil e já presente em muitas cidades. Mas é preciso crédito, capacitação, investimento do governo e empresas nacionais que produzam equipamentos necessários. É preciso fugir da dependência chinesa e criar uma política nacional de fomento de energia solar", analisou.

Para ele, embora haja medidas paliativas do governo federal, o segmento fotovoltaico também é vítima do processo de "desmonte das políticas de inovação científica e tecnológica".

"Estamos diretamente dependentes dessa capacidade de investimento do governo federal, para ter tecnologia nacional que nos dê suporte em um setor tão estratégico quanto esse", enfatizou.

Ao concluir sua entrevista à Sputnik Brasil, Oliveira voltou a defender um programa de investimentos robustos. "Precisamos criar políticas específicas de longo e médio prazo. Editais paliativos não vão funcionar. É preciso um programa de inovação para financiar tecnologia solar", frisou.
© Foto / PixabaySistema fotovoltaico para produção de energia solar (imagem ilustrativa).
Sistema fotovoltaico para produção de energia solar (imagem ilustrativa) - Sputnik Brasil, 1920, 07.03.2022
Sistema fotovoltaico para produção de energia solar (imagem ilustrativa).

Energia solar no Brasil

O Brasil acaba de chegar à marca histórica de 14 GW de capacidade instalada de energia solar fotovoltaica, a mesma potência da usina hidrelétrica binacional de Itaipu, segundo a Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar).
A marca leva em conta parques centralizados e a geração própria de energia em telhados, fachadas e pequenos terrenos, a chamada geração distribuída.
De acordo com a entidade, a fonte solar já trouxe ao Brasil, desde 2012, mais de R$ 74,6 bilhões em novos investimentos e R$ 20,9 bilhões em arrecadação dos cofres públicos e gerou mais de 420 mil empregos. Foi evitada também a emissão de 18 milhões de toneladas de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera.
Ao somar as capacidades instaladas das grandes usinas e da geração própria de energia fotovoltaica, a fonte solar ocupa o quinto lugar na matriz energética brasileira. Ela já ultrapassou a potência instalada de termelétricas movidas a petróleo e outros fósseis na matriz energética brasileira.
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