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Brasileira é assediada em boate de Lisboa, e seguranças espancam amigo que tentou defendê-la (VÍDEO)

© Foto / DivulgaçãoFachada da boate Lisboa Rio: agredida, a carioca Júlia Taranto pede seu celular de volta a seguranças.
Fachada da boate Lisboa Rio: agredida, a carioca Júlia Taranto pede seu celular de volta a seguranças. - Sputnik Brasil, 1920, 23.02.2022
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Uma carioca e um paulista foram agredidos por seguranças do restaurante e club Lisboa Rio, uma das mais badaladas boates da capital portuguesa. Júlia Taranto diz que primeiro foi assediada por outro frequentador. Quando seu amigo Vinicius Couto foi defendê-la, teria sido espancado por quatro seguranças.
Júlia, de 29 anos, chegou a filmar as agressões com seu celular, na madrugada de domingo, mas ela conta à Sputnik Brasil que teve o aparelho roubado por um dos funcionários da casa, que apagou os vídeos e o entregou a um dos sócios do estabelecimento. Quando foi solicitar seu telefone de volta, também foi agredida.

"Foi sinistro. Estou em choque e cheia de hematomas, no ombro, debaixo dos braços e nas canelas. Três seguranças me levantaram pelo braço e me jogaram para fora. Fui empurrada várias vezes, em cima do portão, no chão, na rua, pois me recusava a sair dali. Pedi várias vezes, chorando, meu telefone de volta. Ficaram também com meu casaco, se recusando a devolver meus pertences. Estava um frio de 9 graus, e eu, sem casaco, do lado de fora sendo agredida", lamenta Júlia.

Um vídeo filmado por Vinicius Couto mostra um dos momentos em que Júlia, caída no chão, tenta se levantar e é empurrada de novo. Na gravação, o paulista de 33 anos aparece com escoriações no rosto e um dente quebrado, após ser agredido pelos seguranças. Ao fundo é possível ver uma funcionária do Lisboa Rio fazendo um gesto obsceno com um dedo.
Já a carioca Júlia, que chegou há pouco mais de um mês em Lisboa, onde vai cursar um mestrado em Geografia, está assustada, pois nunca havia passado por nada parecido no Rio de Janeiro. Apesar de reconhecer seus privilégios por ser branca e de classe média alta no Brasil, ela diz que os mesmos não valem em Portugal. Ela acredita que as agressões sejam fruto de xenofobia e misoginia.

"O fato de eu ser agredida em Lisboa, acho que é porque sou brasileira e mulher, sim! Isso me deixa com medo para caramba, me deixa receosa de sair. Não conheço o país direito e fico com medo das pessoas daqui, até onde elas podem ir", complementa.

© Foto / DivulgaçãoJúlia Taranto mostra alguns dos hematomas no braço após as agressões dos seguranças.
Júlia Taranto mostra alguns dos hematomas no seu braço após as agressões dos seguranças - Sputnik Brasil, 1920, 23.02.2022
Júlia Taranto mostra alguns dos hematomas no braço após as agressões dos seguranças.

'Eles me deram joelhadas na costela, soco na cara, e quebraram meu dente'

Vinicius Couto explica à Sputnik Brasil que a confusão começou quando um frequentador estrangeiro começou a assediar sua amiga. Primeiramente ele advertiu o homem de que ele não poderia assediá-la. Segundo o relato do paulista, os seguranças teriam falado que ele deveria avisá-los se algo acontecesse.

"Eu vi esse cara fazendo o movimento de colocar a cara próximo à bunda da Júlia e não falei nada. Na segunda vez, falei para ele que aquilo era violento e abusivo e que eu estava de olho nele. Os seguranças falaram que se isso acontecesse [de novo] era para eu ir falar diretamente com eles", recorda Couto.

O artista paulista relata que, cinco minutos depois, o assediador de Júlia atirou um copo com líquido sobre os brasileiros. Na sequência, Couto foi avisar os seguranças e pedir que o agressor fosse retirado do estabelecimento. Apesar disso ter acontecido, a carioca e o paulista também acabariam expulsos da boate pelos funcionários.

"Falei que eu poderia sair, mas queria meu dinheiro de volta. Neste mesmo momento, eles já vieram me pegando com força. Tentei resistir falando que precisava pegar minha jaqueta que estava com os meus pertences. Nesta hora, eles me levaram para a escada e me deram joelhadas na costela, soco na cara, e quebraram meu dente. Estou devastado, com o olho inchado, muitas dores na cara e nas costelas, com dificuldades para respirar", desabafa.

Após quase duas horas do lado de fora da boate tentando resgatar o celular de Júlia e os casacos de ambos, a Polícia de Segurança Pública (PSP) chegou ao local e registrou a ocorrência. Na terça-feira (22), a carioca foi a uma esquadra (delegacia) da PSP, onde foi elaborado um auto de denúncia por crimes contra a integridade física. Em seguida ela foi encaminhada a um hospital para fazer exame de corpo de delito.

"Estou bem, mas até mais dolorida. Limparam meu machucado do pé, que está infeccionado, porque o segurança grandão deu um pisão", diz Júlia.

Já seu amigo foi a um centro de saúde, onde foi detectado um trauma nas costelas, mas descartada uma fratura. Os dois estão com assessoria jurídica e pretendem processar o Lisboa Rio e a empresa de segurança.

"Eu simplesmente estava fazendo o que todo mundo deve fazer, que é denunciar qualquer tipo de abuso. E todo esse abuso de poder ainda se virou contra mim. Sinto que foi um movimento de cunho homofóbico, machista e xenofóbico. É uma sensação de ser violentado de graça, que me deixa me sentindo abusado, invadido", detalha Couto.

Ele também registrou o episódio na sua conta no Instagram, recebendo apoio e solidariedade, mas também outras denúncias sobre o Lisboa Rio.
Este correspondente da Sputnik Brasil em Lisboa apurou que a PSP já identificou três suspeitos, entre eles um dos donos do Lisboa Rio, que teria roubado o celular de Júlia. Ele e seu sócio apagaram suas redes sociais após a repercussão do caso e fecharam para comentários as contas do Lisboa Rio no Instagram e no Facebook.

'Foi-me dito explicitamente que não trabalham com pretos', diz ex-funcionário

Em entrevista à Sputnik Brasil, um ex-funcionário do estabelecimento, que pediu para ter sua identidade preservada com medo de retaliações, revela que foi demitido pelos atuais sócios apenas por ser mulato. Ele já trabalhava no Lisboa Rio antes, até que o empreendimento foi vendido, e os novos donos tomaram essa decisão.

"Um pouco antes da pandemia, meu [ex-]patrão decidiu vender o espaço. Eu ainda tinha contrato, e o normal é isso não afetar os trabalhadores. Mas qual não foi o espanto, no meu caso, quando os novos [atuais] proprietários não quiseram ficar comigo? Motivo: foi-me dito explicitamente que não trabalham com pretos. Eles são skinheads", acusa o ex-funcionário.

Segundo ele, os sócios também são donos de um portal de acompanhantes de luxo de Portugal. No site, a maioria das mulheres é brasileira. De acordo com o ex-funcionário, o ambiente de trabalho era de violência psicológica e manipulação.

"É um esquema de lavagem de dinheiro. O segurança que vi [no vídeo] empurrar a menina [Júlia] tem sempre essa postura bruta, agressiva e rude. Esse é o modus operandi dessa gente que se escapa sempre. É gente com ideias machistas, sexistas. São racistas e homofóbicos", critica.

Durante três dias, Sputnik Brasil pediu um posicionamento para o Lisboa Rio, por e-mail, mensagens e telefone, mas não houve respostas até o fechamento desta reportagem.
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