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Brasil e Mercosul podem se beneficiar de eventual adesão da Argentina ao BRICS, diz pesquisador

© Sputnik / Sergei GuneevEm Moscou, o presidente da Argentina, Alberto Fernández (à esquerda), e o presidente da Rússia, Vladimir Putin (à direita), caminham juntos durante coletiva de imprensa em 3 de fevereiro de 2022
Em Moscou, o presidente da Argentina, Alberto Fernández (à esquerda), e o presidente da Rússia, Vladimir Putin (à direita), caminham juntos durante coletiva de imprensa em 3 de fevereiro de 2022 - Sputnik Brasil, 1920, 16.02.2022
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O presidente argentino, Alberto Fernández, solicitou à China e à Rússia a entrada da Argentina no BRICS. A Sputnik Brasil ouviu especialistas em Relações Internacionais sobre o assunto, que apontaram que Brasil e Argentina podem se beneficiar de uma eventual parceria no grupo.
No início deste mês, o presidente argentino, Alberto Fernández, esteve em momentos distintos com o presidente russo, Vladimir Putin, e com o presidente chinês, Xi Jinping. Em ambas as oportunidades, o líder argentino pediu apoio para a adesão da Argentina ao BRICS.
O grupo criado em 2009 é atualmente composto por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. Conforme publicado pelo jornal Folha de São Paulo, o Itamaraty não confirma nenhuma tratativa oficial sobre a ampliação do grupo, mas ressalta que não existe um mecanismo formal de adesão. Ao jornal, interlocutores do Planalto relataram incômodo com a possibilidade.
O tema também não foi citado diretamente pelo Kremlin no comunicado prévio sobre a reunião do presidente russo Vladimir Putin com o presidente brasileiro Jair Bolsonaro (PL), realizada nesta quarta-feira (16). O documento cita a discussão de aspectos do fortalecimento da parceria estratégica Brasil-Rússia e a "troca de opiniões sobre questões internacionais relevantes". Após o encontro um comunicado conjunto cita apenas a necessidade de fortalecimento do bloco.
A atual gestão brasileira tem em Fernández um desafeto político e ambos os presidentes já trocaram farpas. Se por um lado Bolsonaro não esconde sua antipatia por seu equivalente argentino, Fernández, por sua vez, é abertamente apoiador do principal adversário do brasileiro, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
© AP Photo / Natacha PisarenkoEm Buenos Aires, evento oficial reúne o ex-presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva (à esquerda), o presidente argentino, Alberto Fernández (centro), e o ex-presidente uruguaio, Pepe Mujica, em 10 de dezembro de 2021
Em Buenos Aires, evento oficial reúne o ex-presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva (à esquerda), o presidente argentino, Alberto Fernández (centro), e o ex-presidente uruguaio, Pepe Mujica, em 10 de dezembro de 2021 - Sputnik Brasil, 1920, 15.02.2022
Em Buenos Aires, evento oficial reúne o ex-presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva (à esquerda), o presidente argentino, Alberto Fernández (centro), e o ex-presidente uruguaio, Pepe Mujica, em 10 de dezembro de 2021
Para o pesquisador Matheus de Oliveira Pereira, especialista em Relações Internacionais ligado à Universidade Estadual Paulista (UNESP), a eventual adesão ao BRICS seria positiva para a Argentina e retoma iniciativas diplomáticas dos governos argentinos progressistas da última década.

"Do ponto de vista da política externa seria um resultado bastante interessante e promissor. A Argentina se somaria a um grupo que representa uma proposta alternativa, um arranjo alternativo para pensar e discutir grandes questões globais e estar nesse fórum oferece uma possibilidade de dividendos políticos bastante interessante para a Argentina", aponta o pesquisador em entrevista à Sputnik Brasil.

Tendo em vista as rusgas entre o atual governo brasileiro e Buenos Aires, Pereira ressalta acreditar que uma eventual resistência do Brasil à adesão argentina não seria suficiente para barrar a admissão no BRICS, caso os outros membros da organização resolvam aceitar um segundo membro sul-americano.
"Uma vez que China, Rússia, Índia e África do Sul formem uma posição mais robusta nesse sentido de admitir a Argentina no grupo, o isolamento em que o Brasil ficaria não seria razoável, não seria benéfico para o Brasil, e tende a ser superado", afirma.
O especialista em Relações Internacionais lembra que a entrada da África do Sul no grupo, em 2011, foi uma solicitação do governo brasileiro, que à época incluía o continente africano como parte importante de sua política externa.
© Foto / Alan Santos / Palácio do Planalto / CCBY 2.0Presidente Jair Bolsonaro chega a Moscou, 15 de fevereiro de 2022
Presidente Jair Bolsonaro chega a Moscou, 15 de fevereiro de 2022 - Sputnik Brasil, 1920, 15.02.2022
Presidente Jair Bolsonaro chega a Moscou, 15 de fevereiro de 2022
Para Pereira a atual estratégia do Itamaraty atende a interesses eleitorais do governo Bolsonaro. Segundo o pesquisador, diante da posição do Brasil em relação ao país vizinho nesse contexto é difícil ponderar como uma eventual entrada da Argentina no BRICS impactaria Brasília.

"Isso sem dúvida alguma cria uma dificuldade, mas do ponto de vista mais concreto não me parece que haverá grandes problemas para o Brasil, até porque o BRICS não é um arranjo que cria compromissos muito vinculantes", avalia o pesquisador.

Argentina no BRICS pode ajudar Brasil e Mercosul

Para o pesquisador Charles Pennaforte, professor da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) e coordenador do Laboratório de Geopolítica, Relações Internacionais e Movimentos Antissistêmicos (LabGRIMA), uma eventual adesão da Argentina aos BRICS pode ter como consequência o fortalecimento do Mercosul.
"Sob o ponto de vista de inserção internacional, o BRICS é uma plataforma de atuação geopolítica brasileira. A Argentina, que não possui inserção alguma na atualidade, seja econômica ou geopolítica, vê o BRICS como uma forma de aumentar a sua participação internacional. Para o Brasil, uma Argentina dinâmica, principalmente no aspecto econômico, fortalece o Mercosul e a sua capacidade de aumentar a sua participação no comércio internacional", avalia o professor em entrevista à Sputnik Brasil.
© REUTERS / Esteban Collazo / Presidência da ArgentinaO presidente argentino Alberto Fernández participa da cúpula virtual de 30 anos do Mercosul
O presidente argentino Alberto Fernández participa da cúpula virtual de 30 anos do Mercosul - Sputnik Brasil, 1920, 16.02.2022
O presidente argentino Alberto Fernández participa da cúpula virtual de 30 anos do Mercosul
Pennaforte aponta que há diferenças entre o BRICS e o Mercosul, sendo o primeiro "um projeto geopolítico para a nova ordem internacional que está em transição". Segundo o pesquisador, a aproximação entre os dois blocos, principalmente entre a China e o Mercosul, pode abrir uma série de oportunidades.

"Logicamente, os acordos econômicos não são tão simples de serem feitos. Envolvem inúmeras variáveis, principalmente para países que não possuem tecnologia de ponta ou não produzem produtos de alto valor agregado. Lamentavelmente, nos últimos 30 anos, as lideranças políticas dos países-membros do Mercosul pouco fizeram para alterar a dependência das commodities. Contudo, quando o bloco se aproxima de estruturas mais dinâmicas é possível que haja uma 'contaminação positiva'", explica Pennaforte.

Para o pesquisador, a iniciativa argentina no campo internacional parte da necessidade de Buenos Aires de resolver as causas de sucessivas crises internas que assolam o país. Com a aproximação de estruturas como o BRICS e a Nova Rota da Seda chinesa, o país procura alternativas.
"A nova postura argentina faz parte da constatação da realidade do país: não é possível viver todo o tempo em crise econômica e na dependência das mesmas estruturas financeiras do século passado, ou seja: FMI, EUA, Europa. Já era tempo da Casa Rosada se mover no tabuleiro geopolítico e financeiro em busca de novas fontes de financiamento e parcerias", aponta.
Nesse sentindo, Pennaforte ressalta que o BRICS é um caminho razoável para o crescimento argentino e dessa forma o Brasil também pode se beneficiar.
"Só o Banco do BRICS representa, na minha concepção, a maior alteração na ordem econômica internacional desde o surgimento da arquitetura financeira pós-Bretton Woods: FMI, Banco Mundial etc. O mundo está mudando e os argentinos já notaram isso. Como assinalei acima: para o Brasil, uma Argentina forte é vital para o Mercosul. Todos ganham", conclui.
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