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Greve de caminhoneiros no Canadá: ação antivacina pode ter força suficiente para impactar economia?

© Cole BurstonApoiadores se reúnem e acenam bandeiras perto do Queens Park em 5 de fevereiro de 2022 em Toronto, Canadá
Apoiadores se reúnem e acenam bandeiras perto do Queens Park em 5 de fevereiro de 2022 em Toronto, Canadá - Sputnik Brasil, 1920, 07.02.2022
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Há 11 dias, caminhoneiros canadenses manifestam na capital do país, Ottawa, contra a medida do governo que proíbe cruzamento de fronteiras de pessoas não vacinadas contra COVID-19. Ontem (6), o prefeito da cidade declarou estado de emergência. A Sputnik Brasil ouviu especialista para saber se o país pode ficar abalado pela onda de protestos.
Desde o dia 28 de janeiro, caminhoneiros canadenses estão interrompendo o tráfego da capital, Ottawa, com protestos em oposição à obrigatoriedade da vacina contra a COVID-19. A manifestação recebeu o nome de Freedom Convoy (Comboio da Liberdade, na tradução).
Segundo as mais recentes medidas restritivas do país, todos os motoristas de transporte de mercadorias têm que se vacinar para que possam cruzar a fronteira com os Estados Unidos.
Caminhoneiros, fazendeiros e cowboys estão bloqueando a fronteira EUA-Canadá há nove dias. Um protesto histórico pela liberdade. Eles escreveram história.
Mais de 200 caminhões e outros veículos estão bloqueando as estradas de acesso e ruas da cidade. Os organizadores realizaram atos semelhantes em Toronto e Quebec.
Na quinta-feira (3), o primeiro-ministro, Justin Trudeau, disse que não acionaria o Exército para conter os manifestantes, no entanto ontem (6), o prefeito de Ottawa, Jim Watson, declarou situação de emergência.

"[Isso] reflete o sério perigo e ameaça à segurança e proteção dos moradores representados pelas manifestações em andamento e destaca a necessidade de apoio de outras jurisdições a níveis de governo", declarou Watson citado pela Reuters.

Porém, mesmo com clima de protesto, a mídia relata que em meio a buzinas incessantes e fogos de artifício, uma cadeia de suprimentos refinada sustenta os manifestantes, incluindo saunas portáteis, castelos infláveis e cozinha comunitária.
© REUTERS / Patrick DoyleUm homem relaxa em sua caminhonete enquanto caminhoneiros e apoiadores continuam protestando contra os mandatos da vacina COVID-19 em Ottawa, Canadá, 6 de fevereiro de 2022
Um homem relaxa em sua caminhonete enquanto caminhoneiros e apoiadores continuam protestando contra os mandatos da vacina COVID-19 em Ottawa, Canadá, 6 de fevereiro de 2022 - Sputnik Brasil, 1920, 07.02.2022
Um homem relaxa em sua caminhonete enquanto caminhoneiros e apoiadores continuam protestando contra os mandatos da vacina COVID-19 em Ottawa, Canadá, 6 de fevereiro de 2022
De acordo com Roberto Uebel, professor de Relações Internacionais da ESPM Porto Alegre entrevistado pela Sputnik Brasil, os caminhoneiros que aderiram à manifestação fazem parte do grupo de pessoas antivacina e que não concorda com as medidas restritivas impostas por conta da pandemia, "uma vez que muitas das atividades econômicas só são possíveis de serem realizadas se as pessoas estão vacinadas".
Entretanto, mesmo com os protestos escalando a ponto de ser declarado estado de emergência, Uebel não acredita que o movimento vá ter a "capacidade de abalar a sociedade canadense", mas considera que a economia pode sofrer alterações.
"Assim como tivemos a greve dos caminhoneiros em 2018 no Brasil que afetou severamente a economia, esse movimento no Canadá pode influenciar sim, mas claro que em uma proporção menor porque há muitas ferrovias que também transportam mercadorias. [...] A imprensa canadense tem divulgado que eventualmente pode faltar produtos nos mercados ou commodities, mas não é que isso vá causar desabastecimento geral no país", afirma Uebel.
© REUTERS / Patrick DoylePoliciais ficam na frente de caminhões enquanto caminhoneiros e apoiadores continuam protestando contra os mandatos de vacina contra COVID-19, em Ottawa, Ontário, Canadá, 4 de fevereiro de 2022
Policiais ficam na frente de caminhões enquanto caminhoneiros e apoiadores continuam protestando contra os mandatos de vacina contra COVID-19, em Ottawa, Ontário, Canadá, 4 de fevereiro de 2022 - Sputnik Brasil, 1920, 07.02.2022
Policiais ficam na frente de caminhões enquanto caminhoneiros e apoiadores continuam protestando contra os mandatos de vacina contra COVID-19, em Ottawa, Ontário, Canadá, 4 de fevereiro de 2022
Outro fato que colabora para manifestação não ter tanto impacto, é o fato de o país ser "continental", segundo o professor, e sendo assim "uma cidade ou região não dependem da outra".
Ao mesmo tempo, o especialista não crê que, por conta dos protestos, o governo de Justin Trudeau vá parar de exigir a imunização, principalmente porque o premiê é um grande defensor da campanha.
"A hipótese de Trudeau abrir mão do passaporte de vacina vai custar um capital político muito grande, assim como uma alta reprovação por parte da população canadense."
© Minas PanagiotakisCaminhoneiros reabastecem seus caminhões no frio durante o protesto "Freedom Convoy" em 5 de fevereiro de 2022 em Ottawa, Canadá
Caminhoneiros reabastecem seus caminhões no frio durante o protesto Freedom Convoy em 5 de fevereiro de 2022 em Ottawa, Canadá - Sputnik Brasil, 1920, 07.02.2022
Caminhoneiros reabastecem seus caminhões no frio durante o protesto "Freedom Convoy" em 5 de fevereiro de 2022 em Ottawa, Canadá
De acordo com a polícia canadense, o protesto conta com o financiamento de apoiadores nos Estados Unidos. Além disso, o ex-presidente americano, Donald Trump, e o presidente da Tesla, Elon Musk, expressaram apoio aos caminhoneiros.

Apesar de serem figuras de expressividade, Uebel não julga que o apoio influenciará de forma profunda os protestos, no entanto, ressalta que esse fato expõe a resistência antiga que parte da sociedade norte-americana tem em se vacinar.
"Pessoas como Trump, Musk, alguns atletas, artistas, eles escancaram algumas dicotomias políticas que sabíamos que existia na sociedade estadunidense, mas que com a pandemia, se tornam muito mais claras. [...] Nos EUA há uma parcela da sociedade que é contra vacinas, não só em relação ao coronavírus, bem antes disso. O movimento antivacina no país tem bases sólidas."
Pessoas seguram cartazes contra passaportes de vacina enquanto participam do S.O.S California No Vaccine Passport Rally no Tongva Park em Santa Monica, Califórnia, sábado, 21 de agosto de 2021 - Sputnik Brasil, 1920, 14.10.2021
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Já no Brasil, apesar de haver alguns movimentos parecidos e até ter tido a Revolta da Vacina em 1904, a imunização tem uma consciência mais entranhada na percepção do brasileiro, uma vez que "tivemos políticas de vacinação levadas pelo governo federal com severos investimentos em publicidade e campanhas de conscientização".
"Além disso, é importante lembrarmos que o plano nacional de imunização no Brasil começa durante o período da ditadura militar, não havia a opção de não se vacinar. Após isso, vieram as campanhas do governo."
Atualmente, um fato que contribui para a resistência das pessoas à imunização são as fake news, "não apenas na Europa e EUA, mas no mundo todo, essas notícias falsas – como dizer que se tomar a vacina um chip vai ser implantado na pessoa ou causar AIDS –, ajudaram esses grupos a escolherem não se vacinar", afirma Uebel.
© Folhapress / Francisco Manuel da SilvaVacinação contra gripe na escola Francisco Manuel da Silva, no Jardim Campo Grande, zona sul de São Paulo (SP). Além da imunização contra a COVID-19, outras vacinas também são aceitas por grande parte da socidade brasileira
Vacinação contra gripe na escola Francisco Manuel da Silva, no Jardim Campo Grande, zona sul de São Paulo (SP). Além da imunização contra a COVID-19, outras vacinas também são aceitas por grande parte da socidade brasileira - Sputnik Brasil, 1920, 07.02.2022
Vacinação contra gripe na escola Francisco Manuel da Silva, no Jardim Campo Grande, zona sul de São Paulo (SP). Além da imunização contra a COVID-19, outras vacinas também são aceitas por grande parte da socidade brasileira

Passaporte da vacina e apoio à vacinação

O professor ainda acha cedo dizer que há uma relação exata entre os países que exigem o passaporte da vacina e o número de pessoas que apoiam a vacinação, embora, "em nações que a população aprova a vacinação, o uso do passaporte teve mais adesão e isso se refletiu no número de casos de contaminados e número de óbitos".

"A intensidade dessa correlação [entre passaporte e apoio à vacinação] ainda carece de um número maior de dados e de análise da literatura científica. Mas é nítido que países que adotaram medidas como passaporte, lockdown, distanciamento, são nações que conseguiram controlar de forma mais eficaz os impactos da pandemia."

Ainda segundo Uebel, até hoje, a imunização se mostrou como método mais eficiente para se combater o coronavírus e para acabar com a crise sanitária.
Contudo, além desse fato, "dizer que há uma imposição da vacina é algo um pouco contraditório visto que há um contexto anterior onde a imunização é obrigatória para se entrar nos países bem antes do coronavírus, como a vacina da febre amarela, por exemplo".
© REUTERS / Lars HagbergHomem usa uma máscara cirúrgica que foi cortada com as palavras "Liberdade" em inglês e francês, apoiando o protesto contra vacinas dos caminhoneiros, em Ottawa, Ontário, Canadá, 6 de fevereiro de 2022.
Homem usa uma máscara cirúrgica que foi cortada com as palavras Liberdade em inglês e francês, apoiando o protesto contra vacinas dos caminhoneiros, em Ottawa, Ontário, Canadá, 6 de fevereiro de 2022. - Sputnik Brasil, 1920, 07.02.2022
Homem usa uma máscara cirúrgica que foi cortada com as palavras "Liberdade" em inglês e francês, apoiando o protesto contra vacinas dos caminhoneiros, em Ottawa, Ontário, Canadá, 6 de fevereiro de 2022.
Até o momento, o Canadá teve 3,12 milhões de casos de COVID-19 e 34.719 de óbitos. Os estados que mais apresentam casos são Ontário, Quebec e Alberta, respectivamente, segundo o Our World in Data.
Em relação à imunização, 78,9 milhões de doses foram administradas, fazendo com que 79,9% da população esteja completamente imunizada, de acordo com o site de pesquisa britânico.
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