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'Bolsonaro não valoriza relações transatlânticas como Portugal', diz líder social-democrata lusitano

© Foto / DivulgaçãoO deputado português Ricardo Baptista Leite, candidato nas eleições legislativas pelo PSD, principal concorrente do PS
O deputado português Ricardo Baptista Leite, candidato nas eleições legislativas pelo PSD, principal concorrente do PS - Sputnik Brasil, 1920, 21.01.2022
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Terceiro entrevistado na série da Sputnik Brasil com candidatos nas eleições legislativas de Portugal, antecipadas para 30 de janeiro, Ricardo Baptista Leite é cabeça de lista em Lisboa do Partido Social Democrata (PSD), principal força política capaz de derrotar o Partido Socialista (PS) .
Médico e responsável pela parte de saúde do programa político do PSD, Baptista Leite foi instado pela Sputnik Brasil a detalhar a política de imigração do partido. Os sociais-democratas defendem, por exemplo, a revogação da extinção do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF), que iria ser concretizada em janeiro, mas foi adiada.
O PSD propõe uma reclassificação do SEF em força de segurança, atribuindo ao órgão as funções policiais e transferindo as funções administrativas para a gestão conjunta do Serviço de Segurança Interna. O SEF caiu em descrédito após vir à tona a morte do ucraniano Igor Gomenyuk, torturado por três agentes do serviço no Aeroporto de Lisboa, condenados a penas de prisão entre sete e nove anos.

"Em vez de isso levar a uma reforma do SEF, levou a que o governo, apenas por razões políticas, tivesse decidido acabar com o SEF. Somos absolutamente contra essa decisão. Como foi prorrogada por mais seis meses, nossa expectativa é de que, ganhando as eleições, possamos manter o SEF e reformá-lo para ser mais eficaz nas suas políticas de controle de entrada e saída do país, mas também numa lógica de integração", promete.

Baptista Leite não se furtou a criticar o ministro da Administração Interna, Eduardo Cabrita, cuja pasta é responsável pelo SEF. Cabrita é figura desgastada no governo socialista e deve ser trocado mesmo com a vitória do PS. Também pesa sobre ele a morte de uma vítima atropelada por seu motorista em carro oficial no qual Cabrita era transportado a 163 km/h, 43 km/h acima da velocidade máxima permitida na estrada.

"Em Portugal, temos tido, infelizmente, da parte do ministro Cabrita, uma atitude extremamente irresponsável na gestão. Tivemos aquilo que foi anunciado no papel, uma política pró-integração dos imigrantes, mas, depois, na prática, aquilo que vimos foi um descambar de um dos organismos mais importantes do Estado português, que é o SEF", critica.

Segundo ele, a política de integração de imigrantes precisa ser feita de forma mais eficaz, em conjunto com instituições portuguesas, como ONGs. No entanto, ele ressalta que é necessário que os serviços públicos estejam mais bem preparados. E cita o Serviço Nacional de Saúde (SNS), cuja crise, com 1,2 milhão de pessoas sem médicos de família, foi tema de recente reportagem da Sputnik Brasil.
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"Apesar dos anúncios de que essa população [de imigrantes] tem acesso imediato, independentemente de estar cá de forma legal ou ilegal, a verdade é que não tem conseguido acessar o SNS. Isso é algo que contraria aquilo que se tem prometido. O PSD entende que essas são políticas sociais para garantir a proteção não apenas dos imigrantes, mas da população como um todo", afirma.

'Desde Lula, houve arrefecimento das relações bilaterais'

Indagado pela Sputnik Brasil especificamente sobre a importância do processo de migração dos mais de 222 mil brasileiros residentes em Portugal, a maior comunidade de estrangeiros no país, Baptista Leite reconhece que o governo português precisa reconquistar as relações com o brasileiro.
Na leitura do deputado, após a presidência de Luiz Inácio Lula da Silva, os dois países têm se afastado gradualmente, reflexo de uma preferência do governo brasileiro em dar mais atenção aos BRICs. Em fevereiro, Jair Bolsonaro deve visitar a Rússia, a convite de Vladimir Putin.
Em sua primeira viagem internacional em 2022, o presidente brasileiro está no Suriname, um país sem expressividade geopolítica, comparado, por exemplo, a Portugal, parceiro histórico, que Bolsonaro nunca visitou. Já a última visita de Marcelo Rebelo de Sousa ao Brasil foi repleta de saias justas diplomáticas e constrangimentos.

"Temos uma relação histórica que tem que ser preservada. Portugal tem que saber reconquistar essa relação. Desde o presidente Lula até hoje, houve arrefecimento das relações bilaterais entre os dois países. Bolsonaro, claramente, não valoriza o quanto nós valorizamos as relações transatlânticas. É fundamental reconquistar essa relações, não apenas por questões econômicas, mas também sociais e culturais que infelizmente se foram perdendo", reconhece.

Candidato defende PSD como opção aos extremistas

Baptista Leite defende Rui Rio, presidente do seu partido de centro-direita, como alternativa democrática às opções extremistas, tanto à esquerda quanto à direita. Questionado pela Sputnik Brasil se vê semelhanças entre Bolsonaro e André Ventura, fundador e líder do partido Chega, que já disse admirar o presidente brasileiro, o deputado do PSD se esquiva da comparação direta e prefere fazer uma contextualização global.

"É algo que toca não apenas nas nossas duas realidades, do Brasil e de Portugal, é um fenômeno global. Há um crescimento de extremos, de movimentos populistas, demagógicos, que se aproveitam de uma insatisfação crescente da população face ao sistema ou establishment. As redes sociais têm sido um forte motor de crescimento dessa polarização", avalia Baptista Leite.

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O deputado também confirmou ser impossível o PSD fazer uma coligação ou acordo com o Chega, como chegou a acontecer nos arquipélagos dos Açores e da Madeira. As declarações foram dadas durante conferência virtual organizada pela Associação de Imprensa Estrangeira de Portugal (AIEP) na última sexta-feira (14), em Lisboa.
"Com o Rui Rio, sabemos o que vai acontecer em qualquer um dos cenários, e o PSD se apresenta como fator de estabilidade para o país. Ao contrário do primeiro-ministro António Costa, [que] ninguém sabe muito bem o que vai fazer se não tiver a tal maioria absoluta que as sondagens dizem. O PS é incerteza", compara.
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