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Mulher de Fauzi defende sua inocência: 'Ele é comprometido com os ideais de Deus, Pátria e Família'

© Foto / Divulgação/Ekaterina GoldshteinEkaterina Goldshtein e Eduardo Fauzi com o filho do casal, Michael Eduardovich
Ekaterina Goldshtein e Eduardo Fauzi com o filho do casal, Michael Eduardovich  - Sputnik Brasil, 1920, 18.01.2022
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Em entrevista à Sputnik Brasil, a russa Ekaterina Goldshtein prova que Eduardo Fauzi é pai do seu filho e diz que vai viajar ao Rio de Janeiro depois que ele for extraditado, o que deve acontecer até o fim do mês. Ele é acusado de terrorismo pelo ataque à bomba ao Porta dos Fundos, no Natal de 2019.
Na última quarta-feira (12), a Embaixada do Brasil em Moscou recebeu um documento do Ministério dos Negócios Estrangeiros da Rússia autorizando a extradição de Eduardo Fauzi Richard Cerquise. Sputnik Brasil questionou o Itamaraty quando ele seria extraditado, mas a pasta encaminhou a demanda ao Ministério da Justiça, que não respondeu até o fechamento desta reportagem.
No entanto, tanto Ekaterina quanto Diego Rossi, um dos advogados brasileiros de Fauzi, afirmam que vão recorrer à Corte Europeia de Direitos Humanos, mas consideram praticamente inevitável a extradição. Ele deve chegar ao Rio antes de 31 de janeiro, quando está previsto o julgamento, pelo Tribunal Regional Federal da 3ª Região (TRF-3), de um habeas corpus impetrado por sua defesa.
"Do lado russo, estamos trabalhando em parceria com a ONK, uma organização governamental de defesa dos direitos humanos, e também em parceria com a Igreja estatal russa que, em mais de uma ocasião, manifestou apoio público a Fauzi e se posicionou contra a extradição", lê-se na nota enviada à Sputnik Brasil por Rossi.
Já Ekaterina, que se apresenta como maquiadora profissional em seus perfis no Instagram, diz que também representa Fauzi como advogada e desmente a informação, publicada pela imprensa local russa, de que o filho do casal seria "ilegítimo".
A pedido da Sputnik Brasil, a russa enviou a certidão de nascimento que confirma a paternidade de Fauzi. O documento data de junho de 2021, mais de cinco anos depois de Michael Eduardovich ter nascido em Israel e ter sido registrado lá. Este correspondente da Sputnik em Lisboa também solicitou a certidão israelense, mas Ekaterina alega que não encontrou a cópia.
© Divulgação/Ekaterina GoldshteinFauzi durante o batizado de seu filho
Fauzi durante o batizado de seu filho - Sputnik Brasil, 1920, 18.01.2022
Fauzi durante o batizado de seu filho
Outro ponto controverso são os vídeos feitos por Eduardo Fauzi dentro da cadeia em Moscou no início de 2022 e enviados a amigos e seguidores no WhatsApp. Inicialmente, Ekaterina respondeu que não tinha conhecimento dos vídeos nem se eram antigos ou novos.
Depois que este correspondente enviou a ela dois vídeos obtidos pela Sputnik Brasil, em que Fauzi dizia que um deles fora gravado no último dia 9 de janeiro, Ekaterina mudou o discurso e deu uma resposta provocativa.
"Sobre os vídeos, ele é super charmoso, não? Se o Ministério Público tivesse decidido abrir um processo para investigar a real origem desses vídeos, teria suspendido a extradição imediatamente", sugere Ekaterina.

Vídeo na prisão enviado a agente da PF

Em um dos vídeos, Fauzi se dirige a Cássio Guilherme Reis Silveira, presidente do Movimento Integralista e Linearista-Brasileiro (MIL-B). Policial federal aposentado por invalidez em 2018, Silveira tinha vencimentos de mais de R$ 15 mil mensais em 2021, de acordo com o Portal da Transparência.
Contra ele, corre um processo no TRF-3, onde foi condenado em 2012 por inserção de dados falsos em sistema de informações. As últimas movimentações processuais foram em setembro de 2021. No mês anterior, o mesmo tribunal arquivou um Procedimento Investigatório Criminal (PIC) contra Silveira por incorrer no Artigo 287 do Código Penal: "fazer, publicamente, apologia de fato criminoso ou de autor de crime".
Assim como Fauzi, que agrediu o ex-secretário municipal de Ordem Pública do Rio, Alex Costa, ao vivo na TV, na zona portuária carioca em 2019, Silveira também teve um episódio de violência registrado em vídeo durante a votação, na Câmara dos Vereadores de Campinas sobre a inclusão da chamada "ideologia de gênero" no plano municipal de educação.
Contrário à pauta, o agente da Polícia Federal, então na ativa, deu dois tapas numa professora militante do Partido Socialismo e Liberdade (PSOL). Na época, Silveira alegou "legítima defesa", porque a professora teria agredido integrantes do MIL-B antes e tentado rasgar a bandeira do movimento, que ele segurava.
Apesar do histórico violento de Fauzi, que tem mais de 20 anotações criminais no Rio, de acordo com a Polícia Civil, além de ser acusado de terrorismo, Ekaterina o defende com unhas e dentes.
"Como sua mulher, posso dizer que ele é um homem adorável, pai incrível, pessoa cuidadosa e honesta, um intelectual de alto nível, totalmente comprometido com os ideais mais elevados de 'Deus, Pátria e Família', que vem defendendo nos últimos 20 anos", alega.
O lema integralista foi ressuscitado pelo presidente Jair Bolsonaro, de quem Fauzi já se demonstrou admirador em entrevista por carta, escrita de dentro da prisão em Ekaterinburgo, a este correspondente da Sputnik Brasil em Lisboa.
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Confira, a seguir, a íntegra da entrevista com sua mulher, Ekaterina Goldshtein:
Sputnik: Você me disse que a entrevista do Vitaly Tchernykh, ex-advogado de Fauzi, está repleta de mentiras. Quais seriam elas?
Ekaterina Goldshtein: A principal mentira e que me deixou mais chateada foi sobre a situação legal do nosso filho, Michael Eduardovich. Ele é filho legal de Eduardo Fauzi comigo. Aliás, Eduardo sempre sustentou nossa família com amor, carinho, atenção e total apoio financeiro. No entanto, nosso filho nasceu em Israel, não em Moscou. Por causa disso, houve uma falta de reconhecimento legal e tivemos que ir a um tribunal russo para pedir ao juiz que desse uma certidão de paternidade russa. Já foi feito, e este certificado está comigo. Então, é completamente falso e imoral dizer que nosso filho é 'ilegítimo'. Foi o que mais me machucou. [N.R.: a informação sobre o filho ser ilegítimo foi publicada originalmente pelo Urais EANews e retificada no texto original da Sputnik Brasil quando Ekaterina enviou a certidão de nascimento]
S: E o que mais?
EG: Um segundo ponto importante é que Eduardo nunca publicou nenhum vídeo da prisão em suas redes sociais (especificamente porque ele não tem nenhuma rede social), mas talvez ele tenha feito alguns vídeos e compartilhado com seus principais apoiadores, alunos, familiares, amigos e associados. Como você pode imaginar, ele tem uma grande cadeia de apoiadores e uma grande família e todos eles estavam extremamente preocupados com quais são exatamente suas condições, sendo brasileiro, em uma prisão russa. Apesar de a prisão russa ser muito cruel e violenta, ele está indo bem e queria deixar a família e todos os seus amigos tranquilos sobre sua situação, principalmente em um período emocional do ano, como o final do ano.
S: Como Fauzi conseguiu um celular na cadeia? Ele ainda está com o aparelho?
EG: Eu não posso responder, não tenho ideia. Ele não tem telefone aqui, eu me comunico com ele pelo advogado.
S: Mas como ele conseguiu fazer e enviar vídeos pelo WhatsApp?
EG: Sobre os vídeos, ele é super charmoso, não? Se o Ministério Público tivesse decidido abrir um processo para investigar a real origem desses vídeos, teria suspendido a extradição imediatamente.
S: Você não acha que esses vídeos podem ter prejudicado o pedido de asilo político e facilitado a decisão de extraditá-lo?
EG: A decisão já foi tomada no outono [europeu], o Ministério Público na Rússia informou as autoridades brasileiras sobre isso em 12 de janeiro. Como eu disse antes, não há muitas coisas que possamos fazer para impedir a extradição. A princípio, ainda temos uma pequena chance no tribunal europeu, é a última fase de apelação após o indeferimento dos tribunais russos. [Mas] provavelmente, ele passará o carnaval no Brasil.
S: Na prisão…
EG: Sim, exatamente isso.
S: Você vai viajar ao Rio de Janeiro também quando Fauzi for extraditado?
EG: Sim, mas não imediatamente após a extradição, mais tarde. Nosso amor com Eduardo pode superar tudo – tanto as dificuldades quanto as distâncias. Somos uma família, estamos juntos e vamos lutar até a vitória, com a ajuda de Deus. Ele pode receber visitas lá [no Brasil] uma vez na semana. Você não tem ideia do quão louca eu estou para visitá-lo, beijá-lo e abraçá-lo. Os inimigos de Eduardo, comemorando sua extradição na mídia, não são espertos o suficiente para entender que em breve ele estará perto de casa, cercado de amigos e familiares e, acredito, em liberdade.
© Divulgação/Ekaterina GoldshteinEkaterina beija Fauzi na Rússia: ela defende o pai do seu filho
Ekaterina beija Fauzi na Rússia: ela defende o pai do seu filho - Sputnik Brasil, 1920, 18.01.2022
Ekaterina beija Fauzi na Rússia: ela defende o pai do seu filho
S: Na primeira entrevista que Fauzi concedeu a mim, ele, que já fora preso nas manifestações de 2013, disse que, 'No Rio, o sistema penal acaba por funcionar de forma altamente eficiente' e que a prisão carioca não era um evento aterrorizante para ele. Porém, um dos motivos alegados para o pedido de asilo político na Rússia foi o risco de ele ser torturado pela polícia brasileira. Não é contraditório?
EG: A tortura pode acontecer na prisão boa ou ruim, com comida boa ou ruim, com presos bons ou ruins. Não há contradição. Não conheço a realidade brasileira e também não sei até onde seus inimigos podem ir. Mas o pouco que conheço da polícia brasileira não gosto. Simplesmente, não joga limpo e pode fazer qualquer coisa para atender ao real interesse a que serve. As mentiras da polícia brasileira sobre Eduardo às autoridades russas, dizendo que ele é um assassino, terrorista e chefe de uma organização criminosa, tinham uma proposta sangrenta. Queriam expor Eduardo a um alto risco de ser preso com pessoas na mesma classificação de crimes, e o forçar a pedir uma extradição rápida e um acordo com os promotores brasileiros. Eduardo não apenas sobreviveu à prisão russa com honra e coragem, mas também lutou contra a extradição o máximo que pôde.
S: O outro motivo em que o pedido de asilo se baseia é de a comunidade gay colocar a vida de Fauzi em risco. O Brasil é um dos países com maior número de homossexuais assassinados no mundo. No entanto, não tenho conhecimento de grupos gays matarem pessoas. De onde o perigo vem?
EG: Não sou especialista na situação brasileira, mas falando com os seguidores de Eduardo, há mais ou menos 500 gays sendo mortos no meio de 50 mil assassinatos no Brasil todos os anos. Menos de 1%. Não há epidemia de assassinato de gays no Brasil, de acordo com esses números. Por outro lado, temos gays matando heterossexuais como o assassinato daquele garotinho chamado Rhuan, só porque existem heterossexuais. Gays não são maus ou santos, existem apenas pessoas normais, que podem fazer coisas ruins, inclusive matar pessoas por motivos de dinheiro, poder ou ideologia. Na verdade, Eduardo recebeu centenas de ameaças contra sua vida por meio das redes sociais. É apenas mais um tipo de preconceito estúpido acreditar que alguém não é forte para matar só porque é gay.
S: Por que Tchernykh deixou de representar Fauzi juridicamente?
EG: Na interpretação de Eduardo, ele simplesmente não foi bom o suficiente para representá-lo. Vitaly Tchernykh tem algum tipo de 'amor' para falar com os jornalistas e gosta de alimentar esse 'amor' para continuar sendo interessante para os meios de comunicação de massa. Mas o que é realmente importante é que ele violou a ética do advogado falando com a mídia de massa sobre o processo de Eduardo sem sua permissão e contra seus desejos e interesses.
S: Há algum outro ponto que você queira esclarecer?
EG: Outro ponto importante é que os jornalistas [ficam] dizendo que não sou esposa dele e o chamavam de 'ex-companheiro'. É uma mentira completa. Estamos em um relacionamento de longo prazo, nunca terminamos e ainda temos planos de lutar juntos, vencer juntos e viver juntos para sempre. Talvez tenhamos tido alguns problemas como qualquer casal, mas sua viagem para Ekaterinburgo foi feita por motivos estratégicos e não por qualquer outro. (...) Ele foi totalmente apoiado por uma equipe experiente de advogados e porque Vitaly Tchernykh, seu ex-advogado, não podia trabalhar em equipe - Eduardo Fauzi decidiu demiti-lo logo após três meses de trabalho. Aparentemente, esse advogado não recebeu bem a sua demissão e começou a fazer más declarações na mídia russa com especial interesse em enfraquecer nosso relacionamento, sabendo que a lei russa protege a família. Destruindo nossa família, ele tornaria mais difícil para Eduardo ganhar o [status de] refugiado político. Suas declarações devem ser lidas como uma simples vingança de um ex-funcionário insatisfeito. Eu, pessoalmente, era a responsável por comprar e entregar os produtos que Eduardo precisava. Sendo grande, como ele é, a comida na cadeia não é suficiente para ele. E deve ser complementada. E não só isso, mas também livros, jornais e revistas brasileiras, e também roupas e itens de higiene. Nunca houve 'declaração de amor', exceto para mim, e eu estava presente em quase todos os tribunais que ele enfrentou, viajando frequentemente para Ekaterinburgo para participar das sessões do tribunal e conhecer os advogados.
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S: E quais seriam os interesses desse advogado?
EG: Toda essa besteira é apenas uma estratégia suja desse advogado para mostrar Eduardo como um criminoso, como uma pessoa perigosa, como um homem irresponsável, um viajante, cheio de namoradas em todos os lugares, que não consegue construir e manter família ligações. A ideia da proposta deste ex-advogado é dificultar a obtenção da proteção política que estamos pedindo às autoridades russas. Como sua mulher, posso dizer que ele é um homem adorável, pai incrível, pessoa cuidadosa e honesta, um intelectual de alto nível, totalmente comprometido com os ideais mais elevados de “Deus, Pátria e Família”, que vem defendendo nos últimos 20 anos. Eu gostaria que você soubesse que estamos enfrentando um grande drama familiar, e essas notícias sujas sobre Eduardo não são apenas uma mentira, mas também tornam toda a nossa situação mais dolorosa e sombria.
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